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Para provar que a carne não é fraca, Temer fez um churrasco diplomático

Reuters/UESLEI MARCELINO
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A receita de Temer para sossegar os países importadores de carne brasileira? Convidar os embaixadores para jantarem consigo numa churrascaria de Brasília e tentar provar que, ao contrário do nome da operação que pôs em causa a qualidade e segurança do sector, a carne não é fraca.

Na passada sexta-feira, a polícia federal do Brasil realizou a Operação Carne Fraca para recolher provas contra uma alegada organização criminosa liderada por fiscais, executivos de grandes empresas do sector alimentar e intermediários. De acordo com as autoridades, estes estariam a vender carne ilegal e até mesmo produtos estragados para o estrangeiro. Os inspectores receberiam subornos para validar carne estragada como estando em condições de ser vendida e exportada.

Foi com esta suspeita a ensombrar as exportações de carne brasileira, e tendo em conta que o Brasil é o segundo maior produtor de carne bovina do mundo e o maior exportador, que Michel Temer organizou um jantar com embaixadores de países compradores.

Diante de embaixadores de países da União Europeia, do Canadá, da China e de Angola, Temer procurou afastar as suspeitas de riscos para a saúde da carne brasileira e assegurou que as autoridades vão reforçar a fiscalização e acelerar a investigação dos casos de corrupção no sector.

O Presidente brasileiro recorreu ainda a números concretos e a proporções, detalhando que num universo de 11 mil inspectores apenas 33 estão sob investigação, e que só foram detectadas infracções em 22 operadoras num total de 4000 a funcionar actualmente no país.

No entanto, o jantar não esteve isento de polémica. No próprio dia, a Coluna do Estadão, um blogue deste diário brasileiro dedicado aos “bastidores do poder”, revelava uma conversa com um dos gerentes do restaurante na qual este revelava que só serviam carne importada. “A gente não trabalha com carne brasileira, só europeia, australiana e uruguaia”, afirmou Rodrigo Carvalho.

A história é parcialmente contrariada por outro gerente do espaço, Paulo Godoi, que esclarece que a picanha habitualmente servida no restaurante é de origem australiana mas que no jantar organizado pela Presidência, a carne foi de origem nacional. No próprio dia do jantar, e à conversa com o jornal brasileiro Folha de São Paulo, este gerente chegou a afirmar que a churrascaria servia inclusivamente carne de uma das empresas investigadas na Operação Carne Fraca, a JBS. Num comunicado enviado aos jornalistas este domingo, a presidência defendeu que “todas as carnes servidas, neste domingo, ao presidente Michel Temer e aos embaixadores convidados para jantar na churrascaria Steak Bull foram de origem brasileira.”

Ainda que as grandes empresas do sector, como a JBS e a BRF, tenham vindo afirmar de imediato a segurança dos seus produtos, o secretário-executivo do Ministério da Agricultura do Brasil afirmou ter receio do encerramento de mercados estrangeiros aos alimentos exportados pelo país.

LUSA/Joédson Alves
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