Hong Kong

Quando o futebol se revela uma forma de comunicar

Solomon Nyassi (à esquerda) tem 26 anos e nasceu na Gâmbia Reuters/Bobby Yip
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Solomon Nyassi (à esquerda) tem 26 anos e nasceu na Gâmbia Reuters/Bobby Yip

A t-shirt amarela contrasta com a pele negra de Solomon Nyassi. No peito ostenta o lema da sua equipa, “Corações de leões”. Duas vezes por semana, Solomon, 26 anos, reúne-se com outros jovens africanos para jogar futebol. A equipa da qual fazem parte, os All Black, é constituída maioritariamente por requerentes de asilo que encontram no desporto uma forma de comunicar, num país que ainda lhes é estranho.

“Quando jogo futebol sinto-me entusiasmado, feliz”, explica Solomon à Reuters. Há três anos, trocou a Gâmbia por Hong Kong. Foi numa viagem de negócios mas, a conselho do pai, optou por prolongar o visto e apresentar um pedido para obter o estatuto de refugiado na antiga colónia britânica. Voltar para a Gâmbia era perigoso, disseram-lhe. Longe dos familiares e amigos, Solomon teve de começar do zero uma nova vida, ainda que a língua e a cultura não facilitem o convívio com os locais.

No entanto, encontrou uma actividade que o ajudou: o futebol. “Quer venhas de África, da Europa ou da Ásia, no futebol as pessoas divertem-se, correm e saltam lado a lado e até caem juntas”, diz Medard Koya, treinador da equipa de futebol All Black. Assim como Solomon, Koya — que se encontra exilado em Hong Kong — sentiu o quão complicado era interagir com a sociedade chinesa. Há um ano, decidiu constituir uma equipa, a primeira em Hong Kong que oferece a oportunidade para que estes refugiados, oriundos de mais de dez países africanos, interajam com os locais. “Não importa o que eles fazem ou a sua personalidade. Só falamos de futebol”, afirma Eric Lee, um jovem chinês. Acaba de ser ajudado por dois jogadores da equipa All Black depois de se ter lesionado durante um jogo. “Quando jogamos futebol somos uma família”.

Solomon é um dos 11 mil requerentes de asilo em Hong Kong, de acordo com dados do governo. Desde 2009, foram aprovados 52 pedidos de asilo entre mais de oito mil. Quem é aprovado, recebe por mês cerca de 140 euros em senhas de alimentação e 170 euros para ajudar a pagar a renda da casa, numa das cidades mais caras do mundo.

No entanto, de acordo com Rober Tibbo, advogado de direitos humanos, Hong Kong dificulta a estadia permanente de um refugiado na cidade. "Hong Kong é conhecido por marginalizar os requerentes de asilo e de ser um país onde eles não conseguem obter residência permanente, estabelecer-se, reassentar e fazer parte da comunidade", confessa Tibbo à Reuters.

No campo de futebol, Solomon finta vários cones com a bola entre os pés e repete vários remates à baliza. O treinador vai largando algumas indicações. Para Koya, mais importante do que ver a equipa a ganhar jogos é ver os jovens felizes, com objectivos para o futuro incerto que enfrentam longe do seu país. "Antes de integrarem a equipa, a maioria deles não fazia nada, não tinha nada para fazer", disse Koya. "Mas agora eles sentem-se parte de algo, o que lhes dá esperança para o futuro".

A equipa da qual Solomon faz parte, “All Black”, é constituída maioritariamente por jovens requerentes de asilo que encontram no desporto uma forma de comunicar
A equipa da qual Solomon faz parte, “All Black”, é constituída maioritariamente por jovens requerentes de asilo que encontram no desporto uma forma de comunicar Reuters/Bobby Yip
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“Não importa o que eles fazem ou a sua personalidade. Só falamos de futebol”, disse Eric Lee, um jovem chinês, que tinha acabado de ser ajudado por dois jogadores da equipa All Black após se ter lesionado. “Quando jogamos futebol somos uma família”
“Não importa o que eles fazem ou a sua personalidade. Só falamos de futebol”, disse Eric Lee, um jovem chinês, que tinha acabado de ser ajudado por dois jogadores da equipa All Black após se ter lesionado. “Quando jogamos futebol somos uma família” Reuters/Bobby Yip
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Sarjo Touray tem 27 anos e nasceu na Gâmbia. É guarda-redes da equipa de futebol All Black e casado com Yukmi, que nasceu em Hong Kong
Sarjo Touray tem 27 anos e nasceu na Gâmbia. É guarda-redes da equipa de futebol All Black e casado com Yukmi, que nasceu em Hong Kong Reuters/Bobby Yip
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Habib Mamadou Bah tem 21 anos e nasceu na Guiné. É jogador na equipa All Black e namora com uma rapariga de Hong Kong
Habib Mamadou Bah tem 21 anos e nasceu na Guiné. É jogador na equipa All Black e namora com uma rapariga de Hong Kong Reuters/Bobby Yip
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Habib Mamadou Bah e a namorada no seu quarto de cinco metros quadrados
Habib Mamadou Bah e a namorada no seu quarto de cinco metros quadrados Reuters/Bobby Yip
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