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Em nome de Cristo

Durante um mês, o fotógrafo José Ferreira penetrou no culto evangélico de uma comunidade de etnia cigana do Algarve. Viu muito fervor, desmaios para “limpar a alma”, gritos e choros, orações e desabafos, tudo em nome da fé e da salvação que chegam pela palavra da Bíblia em brasileiro.  

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Hora e meia para cantar e louvar ao Deus criador “do mar, céu e terra”, ler-lhe a palavra, mas sobretudo obedecer-lhe ao mandamento vida fora. Numa comunidade de etnia cigana plantada num descampado no centro de Faro, há um fervor que toma conta de mais de cem pessoas pelo menos duas vezes por semana, quando são visitados pelos pastores evangélicos brasileiros.

Antes de chegarem, pelas 20h, já os congregados se reúnem no exterior da barraca em chapa e madeira que construíram com dinheiro de uns e outros para servir de templo. Fica numa das extremidades da vintena de barracas dispostas em U e lá dentro não há imagens — “Deus diz na Bíblia ‘não adoreis imagens em meu nome’”, explica um deles ao fotógrafo —, apenas uma pequena mesa, cadeiras de plástico e uma lâmpada fluorescente pendurada no tecto. Para esta comunidade, é o “culto” que aguardam com devoção e que lhes garantirá a salvação. De quando em vez, há quem desmaie para se livrar dos pecados e das agruras de uma vida pobre. Um transe “ensinado” pela Bíblia: “Vamos sentir a presença do Espírito Santo, algo que nos queima, e as pessoas levam aquilo a fundo e perdem as forças”, diz-lhe outro dos ciganos desta comunidade.

A Bíblia prega muito mais — “há que a saber ler porque é o livro mais lindo e lido no mundo”. Por exemplo, ensina a prestar contas para manter a Igreja de pé: “A Igreja vive de ofertas e dízimos, caso contrário, não há aparelhos, não há bíblias, não há condições, não se paga ao pastor. Só nos limitamos a obedecer porque há uma parte que diz que, ‘de tudo o que ganhares, 10% é de Deus’. E depois há as ofertas, e dás o que quiseres. É tudo juntado para a Igreja, para a sobrevivência ou permanência da Igreja. Claro que há pessoas que podem fazer negócio com isso. Sei que pode render uns 400 e picos euros por mês, noutros meses, nem 250.”