Mergulhando, ouve-se a música com nitidez despida de graves, som subaquático perfeito para a vida na piscina do Milhões de Festa, cortesia das colunas instaladas debaixo de água pela organização, uma das novidades deste ano. Emergindo, os graves ressoam nos ouvidos e no esqueleto. Emergindo, vemos uma banda chamada Orchestra Of Spheres, que se diz ser neo-zelandesa, mas que parece vir do espaço sideral, ou ser maquinação de sacerdotes e deuses de civilizações perdidas no tempo. Assim o indicam os cocares na cabeça e as túnicas, isso nos parecem dizer os instrumentos inventados, como aquele banjo eléctrico de três cordas com caixa metálica, caixa que quase juramos ter em tempos guardado bolachas no seu interior.

São 17h30 de sexta-feira. O Milhões de Festa já se anunciou na sua cidade, Barcelos. Começou esta quinta-feira, com o Ensemble Insano, super banda de músicos locais, a marcarem o arranque oficial no mercado, e com concertos nocturnos de Stone Dead, Rizan Said ou Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs Pigs a inaugurarem o Parque Fluvial de Barcelos, centro nevrálgico do festival.

São 17h30 de sexta-feira e, nas piscinas municipais, entre descontração na relva, a alegria dos reencontros e os mergulhos, dança-se afrobeat, space-rock, kraut como rave. Dança-se a música que só pede dança e viagem cósmica – não, não devem ser mesmo da Nova Zelândia e duvidamos que os Orchestra Of Spheres sejam deste planeta. Depois, também se dançará. Música deste planeta grande e diverso – o techno cruzado com folk turco do suiço Mehmet Islam.

Mais acima, já no Parque Fluvial, a agitação é outra. No Palco Taina, sai um chouriço assado e um copo de vinho verde. E pode ser que vá tudo pelo ar, mas será por boa causa: será entrar no ritmo alucinado das micro canções dos Systemik Violence – metalada tresloucada que faz jus ao título, guiada pelo vocalista que berra e vocifera e insulta com cara tapada por um gorro. Segue-se mais metal a fazer jus ao nome da banda: VAI-TE FODER, assim mesmo, em maiúsculas.

Lá em cima, a entrada para o recinto está decorada com um mural em pano. “Dez anos a derreter fronteiras”, lê-se nele. Pensamos no que vimos no início do dia de festival, pensamos no que chegará na noite de sexta-feira (faUSt + GNOD, The Gaslamp Killer, Sacred Paws), e não há como negar. Tudo verdade na frase que é mote deste festival chamado Milhões de Festa. Mário Lopes