Milhares de crianças e jovens refugiados arriscaram sozinhos a difícil viagem de barco do Norte de África para Itália este ano. Alguns encontraram refúgio na vila medieval de Caltagirone, numa casa transformada em abrigo para os mais novos. O objectivo é poderem estudar e construir um futuro. Augustine Okukpon, um jovem nigeriano de 17 anos, é um dos residentes. Em Tripoli, foi atacado por gangues de rua que o atingiram com pedaços de vidro partido na cara e na perna. Grande parte dos jovens que se encontram neste abrigo partilham histórias de terror na sua passagem pela Líbia. Milícias, passadores e militantes do Estado Islâmico têm total impunidade no meio do caos da guerra civil.

Nos cinco meses que Okukpon esteve na Líbia foi perseguido por gangues: um barco de borracha sobrelotado com destino à Europa foi a salvação. Okukpon é apenas um dos milhares de jovens que chegam sozinhos a toda a Europa. Até Maio, só à Itália chegaram 6000 jovens, um número três vezes maior que o do mesmo período do ano passado, de acordo com a organização Save The Children.

Tal como Okukpon, Ebrima Sanneh chegou a Itália de barco. "Roubam-nos e se não tivermos dinheiro matam-nos", explicou. Sanneh trabalhava com o tio que foi morto a tiro pelos gangues, que atacaram também o patrão de ambos. Foi o patrão que, a partir do hospital, conseguiu que Sanneh tivesse lugar num barco rumo a Itália. Nessa altura, quis dar-lhe o dinheiro que havia ganho a trabalhar com o tio de Sanneh, mas o jovem recusou. "Disse-lhe que não podia aceitar, ele estava ferido. Disse-lhe que ia arriscar. Se eu morresse no mar, o dinheiro afundava comigo".