Quando eram crianças era difícil chamarem casa ao sítio onde ficavam. O pai era traficante de droga e Lohaynni e Luana passavam muito tempo a saltar de casa em casa pelas favelas do Rio de Janeiro, procurando escapar à polícia e aos gangues rivais. Lohaynni e Luana Vicente tinham 4 e 6 anos, respectivamente, quando o pai morreu num tiroteio com a polícia. A partir daí, passaram a viver na favela da Chacrinha com a mãe. Foi aí que começaram a jogar badminton, através de um projecto implementado na comunidade. Numa edição de primeiras vezes – o Rio de Janeiro será a primeira cidade sul-americana a acolher os Jogos Olímpicos – uma das irmãs é duplamente estreante. “É a primeira vez que o Brasil vai competir nos Jogos na modalidade de badminton e eu fui a primeira mulher seleccionada para competir”, revela a atleta que tem agora 20 anos.

Apesar de não ter conseguido a qualificação para os Jogos, Luana sente um orgulho especial por ter sido uma das responsáveis por introduzir a irmã nesta modalidade. As irmãs jogam inclusivamente em dupla em algumas competições, como os últimos Jogos Panamericanos, onde conquistaram uma medalha de prata. Actualmente, vivem numa casa paga pela Federação Brasileira de Badminton, em Campinas, nas proximidades de São Paulo. De vez em quando regressam ao Rio de Janeiro, para visitar a mãe, que agora vive num bairro de classe média não muito longe da favela onde, pela primeira vez, pegaram nas raquetas. "Às vezes nem acredito que me qualifiquei", confessa Lohaynny. "Só vou cair em mim quando estiver lá com os outros atletas."