Pedro Rosa Mendes confirma que foi crónica sobre Angola que ditou fim do seu programa

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Crónica de Rosa Mendes saiu do ar na semana passada

O jornalista Pedro Rosa Mendes, cujo espaço de opinião na Antena 1 foi suspenso na semana passada, confirmou no Parlamento Europeu que foi a sua crónica em tom crítico a um programa da RTP filmado em Angola a “causa directa da suspensão” do programa.

Durante a sua intervenção no Parlamento Europeu nesta quarta-feira a convite do eurodeputado português Rui Tavares (Verdes Europeus), o escritor e jornalista Pedro Rosa Mendes afirmou categoricamente: "Luís Marinho [director-geral da RTP] - num momento de honestidade infeliz - admitiu que não tinha gostado nada da minha crónica e que ela ia acabar. O director adjunto da RDP, Ricardo Alexandre, confirmou isso mesmo, ontem, na ERC (Entidade Reguladora para a Comunicação Social). Ou seja, não era eu que estava a mentir".

Entretanto soube-se ao final da manhã de hoje - uma semana depois de este caso ter sido tornado público - que Ricardo Alexandre irá deixar as manhãs informativas da Antena 1. Foi o próprio jornalista que anunciou esta sua decisão ao Conselho de Redacção da mesma rádio.

Questionado pelo PÚBLICO sobre esta novidade, Pedro Rosa Mendes comentou que é “interessante” este desenvolvimento da história, até porque Ricardo Alexandre “confirmou em sede de entidade reguladora” aquilo que ele próprio “tem relatado”, ou seja, que há uma ligação directa entre a crónica sobre Angola e o fim do programa “Este Tempo”.

“Veremos agora se há condições para o Ricardo Alexandre - que é um excelente jornalista e um jornalista independente - continuar como director-adjunto de informação com um patrão que obviamente não tem coragem de assumir em público os valores pelos quais se deveria pautar o seu cargo de director-geral”, disse Pedro Rosa Mendes referindo-se a Luís Marinho.

Sobre o fim do programa “Este Tempo” - que era assegurado por cinco pessoas: Pedro Rosa Mendes, António Granado, Raquel Freire, Gonçalo Cadilhe e Rita Matos - o jornalista português disse claramente que se tratou de uma manobra de “censura” que “silenciou” cinco cronistas.

“O espaço existia há dois anos [com contratos renovados a cada seis meses e sem fim anunciado] e, de repente, cinco cronistas foram silenciados. Para além de isto ser uma violação da legislação portuguesa, é uma violação da Convenção Europeia dos Direitos Humanos, nomeadamente do artigo 11.º sobre a Liberdade de Expressão e de Informação”.

“Há uma tutela política directamente responsável por isto e há agentes democráticos ao serviço de um país que tem petróleo”, disse Pedro Rosa Mendes.

Ainda durante a sessão, o jornalista português não voltou a poupar críticas ao programa “Reencontro” emitido pela RTP1. “Aquele programa chocou-me como espectador e como contribuinte”, disse Pedro Rosa Mendes, recordando que o regime angolano é “um regime político que ainda não é uma democracia” e ao qual falta “credibilidade”.

Frontal, o jornalista assumiu: “Angola é um dos países mais corruptos do mundo e José Eduardo dos Santos é um dos líderes africanos há mais tempo no poder”.

“Miguel Relvas não sabe lidar com o poder que tem”

Pedro Rosa Mendes comentou ainda a actuação do ministro que tutela a Comunicação Social em Portugal, o ministro Adjunto e dos Assuntos Parlamentares Miguel Relvas em todo este caso. “Será interessante que, em sede de comissão parlamentar, possam ser colocadas ao ministro várias perguntas: por exemplo, em primeiro lugar quem é que teve a ideia de fazer a emissão a partir de Angola e, em segundo, o que é que a tutela tem a dizer sobre todo este caso porque, enfim, eu critiquei um programa que era ‘abrilhantado’ pelo próprio ministro”.

Recorde-se ainda que, em Agosto passado, Pedro Rosa Mendes foi informado pela direcção da Lusa que a agência estatal iria fechar a sua delegação na capital francesa, a partir de onde o jornalista trabalhava. Recusando-se a aceitar as condições alternativas que lhe foram impostas, o jornalista abandonou as suas funções na agência estatal. Rosa Mendes constata, por isso, o óbvio: “Em questão de cinco meses eu sou chutado de dois órgãos do serviço público. Em termos de responsabilidade política, eu fui despedido no espaço de cinco meses pelo mesmo ministro, o que é um recorde que eu não gostaria de ter tido”.

“O Miguel Relvas é um ex-dirigente do PSD e eu subscrevo as palavras do professor Marcelo Rebelo de Sousa quando este diz - e disse-o, com frontalidade, no domingo à noite - que Miguel Relvas é um erro de casting. Ao fim de meio ano de legislatura já ficou claro que ele não sabe lidar com o poder que tem e tem bastante”.

Rui Tavares, que conduziu esta conferência dedicada ao tema da “liberdade de expressão em tempos de austeridade” - e onde também marcou presença Giovanni Melogli, da Aliança Internacional de Jornalistas, e a eurodeputada Ana Gomes -, encerrou a sessão afirmando que “a censura em democracia nunca é ostensiva”.

“O poder político tem vergonha da palavra censura e por isso ela está numa área cinzenta, mascarada de contra-informação”, disse o eurodeputado.

Notícia actualizada às 16h30
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