Uma semana para desligar a televisão e ligar a vida

De 24 a 30 de Abril decorre a semana sem televisão, uma iniciativa internacional da associação americana Tv Turnoff Network que convida
a ver a vida com outros olhos, enquanto o ecrã está desligado

Durante a próxima semana a Tv Turnoff Network organiza pela décima segunda vez uma semana de abstinência televisiva. A associação não governamental e sem fins lucrativos foi fundada em 1994, nos EUA, numa tentativa de despertar consciências para os malefícios da televisão.O objectivo principal da Tv Turnoff Network, e das mais de 70 organizações de saúde e educação que a apoiam, é combater a teledependência e levar os espectadores a reflectir sobre o poder que este meio de comunicação tem sobre as suas vidas. De entre as consequências nocivas da televisão no dia-a-dia, a associação americana destaca a obesidade, o insucesso escolar e o pouco tempo passado em família.
Nos EUA, e segundo dados da Tv Turnoff, 50 por cento dos lares têm três ou mais televisões, aparelhos que ficam ligados uma média de sete horas e meia por dia. O cidadão americano médio vê aproximadamente quatro horas de televisão por dia. O ano passado, segundo dados da Marktest/Mediamonitor, cada português viu uma média diária de três horas e meia de televisão. Pelo menos um aparelho está presente em 95,6 por cento dos lares nacionais, sendo que 70,6 por cento deles possui dois televisores, a maior perecentagem de entre os países membros analisados pelo Observatório Europeu do Audiovisual, entidade que fornece estes dados.
A iniciativa começou em 1994 nos EUA mas desde 1999, ao ser acolhida pela revista AdBusters que faz parte da canadiana Media Foundation, a semana de abstinência televisiva transformou-se num fenómeno internacional ao nível de outras acções de boicote como o Buy Nothing Day (dia sem compras) . Actualmente o evento é celebrado em todo o mundo, incluindo Portugal onde o Grupo de Acção e Intervenção Ambiental (GAIA) apela a uma semana sem televisão para "reflectir sobre o papel da televisão, uma parte do nosso quotidiano do qual por vezes desconhecemos a importância", como descreveu o activista do GAIA responsável por esta acção, Pedro Jorge Pereira. Por cá os protestos do grupo passam sobretudo pela emissão de cartazes e brochuras e uma possível sessão de discussão ainda não confirmada. A mensagem não é fácil de passar, sobretudo "por ser um conceito novo e desconhecido", explicou o activista.
Uma semana sem televisão pode parecer um castigo ou uma prova de austeridade, mas a Tv Turnoff Network não se limita a pedir umas curtas férias de televisão, propõe alternativas e oferece conselhos de como blindar o acesso à tentadora caixa. O tempo gasto a ver televisão pode ser aplicado em actividades de enriquecimento pessoal ou da comunidade como o voluntariado, desporto, leitura e aprendizagem de um novo ofício ou língua. As associações que fazem parte desta rede organizam actividades ao ar livre e encontros de leitura sempre debaixo do lema: desligar a televisão e ligar a vida.
Técnicas de "guerrilha anti-televisão" também existem apesar de menos divulgadas. Um aparelho do tamanho de um porta-chaves chamado Tv-B-Gone (na verdade uma versão reduzida do telecomando universal com apenas um botão) desliga qualquer televisão num raio de 15 metros. Tudo para, segundo os seus fabricantes, reduzir a presença incómoda da TV em locais públicos.
"Acho a televisão muito educativa. Cada vez que alguém liga o aparelho, vou para outra divisão e leio um livro". A frase é do comediante americano Groucho Marx, que na altura em que a escreveu não fazia ideia que estava a resumir tão bem as intenções da Tv Turnoff Network: despertar para alternativas mais enriquecedoras à cultura de sofá.

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