Director de informação da Lusa foi uma escolha do Governo

Decisão de convidar Luís Miguel Viana para dirigir
a agência noticiosa partiu de uma combinação entre a Controlinveste e o Estado

Luís Miguel Viana foi convidado no início deste ano para exercer as funções de director da agência Lusa, tendo esta decisão tido origem no gabinete do primeiro-ministro, José Sócrates. Foi uma escolha definida ao mais alto nível, confirmou o PÚBLICO junto de um deputado do grupo parlamentar do PS. O nome do redactor principal do Diário de Notícias, que foi indigitado director da agência noticiosa na passada semana, foi proposto por Afonso Camões, representante do grupo Controlinveste (um dos nove accionistas da Lusa) e amigo pessoal de Sócrates. Foi Camões, que trabalhou muitos anos em Castelo Branco, distrito onde Sócrates realizou grande parte da sua carreira política, quem intermediou a opção governamental junto dos restantes accionistas (Impresa e Notícias de Portugal), que acabaram por aceitar a escolha previamente combinada entre o Estado, accionista maioritário da Lusa, e a Controlinveste. O PÚBLICO tentou falar com Afonso Camões, mas até ao fecho desta edição não foi possível contactá-lo. Luís Miguel Viana acolheu a aprovação imediata do grupo de Joaquim Oliveira, detentor do Diário de Notícias, devido à elevada remuneração salarial por si auferida no matutino e a algumas incompatibilidades internas.
A proposta de Afonso Camões foi concertada com o Governo, nomeadamente com Sócrates, e praticamente imposta aos accionistas privados e ao recém-eleito presidente do conselho de administração da Lusa, José Manuel Barroso.
Ao que o PÚBLICO apurou, Barroso era favorável a uma solução interna para a tutela da informação da agência noticiosa, tendo avançado com o nome de Goulart Machado, director adjunto da direcção encabeçada por Deolinda Almeida, que, entretanto, acordou uma rescisão amigável com a empresa. Goulart Machado não passou no crivo dos accionistas e já foi convidado por José Manuel Barroso para integrar a administração da Lusa.
Luís Miguel Viana não terá sido, contudo, a primeira escolha da Controlinveste e do Estado. O PÚBLICO sabe que foi ponderada a possibilidade de Armando Rafael, redactor principal da secção Internacional do Diário de Notícias, vir a ocupar o cargo de director da Lusa. Refira-se que, nos governos de António Guterres, Rafael foi adjunto de António Vitorino no Ministério da Defesa e exerceu as funções de chefe de gabinete de António Costa quando este tutelava as pastas dos Assuntos Parlamentares e da Justiça. Essa possibilidade não se concretizou, tendo Armando Rafael negado ao PÚBLICO ter sido alguma vez sondado para o cargo. "É absolutamente falso", disse a este jornal.

Solução externa é "mais unificadora"
A escolha de Luís Miguel Viana, amigo pessoal de José Sócrates desde o tempo em que este era secretário de Estado do Ambiente (primeiro governo de Guterres), foi antecipada pelo Correio da Manhã, no início de Abril, numa notícia que citava uma "fonte governamental". Esta referência foi, aliás, criticada pelos membros do Conselho de Redacção (CR) da Lusa no seu penúltimo comunicado, a que o PÚBLICO teve acesso. Questionado sobre o assunto, numa reunião com o CR, José Manuel Barroso desvalorizou a informação, dizendo que "nada estava ainda formalizado".
Neste mesmo encontro, realizado no dia 20, o presidente do conselho de administração deu a conhecer os nomes propostos por Viana para directores adjuntos: Filipe Luís (vindo da Visão, onde trabalhou com Viana) e Paulo Rego (com um trajecto profissional marcado pela sua passagem por Macau, território onde Afonso Camões exerceu cargos ligados à administração pública).
Barroso fez questão de frisar que o único convite para director da agência foi endereçado a Luís Miguel Viana e sustentou que a decisão de optar por uma solução externa deveu-se à convicção de que ela poderia ser "mais unificadora" da redacção. Realçou ainda as "características pessoais" de Viana, Filipe Luís e Paulo Rego, apontando que, "sendo jovens, têm bastante experiência, tendo trabalhado em vários órgãos de informação e em diversas regiões do país e até no estrangeiro".

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