As estrelas (já com uma certa idade) continuam a chegar a The L Word

Tiveram os seus momentos altos (e baixos) em Hollywood. Agora surgem mais sexy do que nunca na série de culto sobre o circuito lésbico de LA

a Em 2004, a série The L Word foi considerada revolucionária no modo como ousou contar (e apimentar) as vidas das lésbicas em Los Angeles. Agora, que já vai na sua quarta temporada, o elenco do programa expandiu-se de tal forma que as suas mulheres parecem constituir, elas próprias, uma pequena comunidade.As novas aquisições são, cada vez mais, actrizes famosas que deram consigo excluídas do estreito leque de opções disponíveis - ou melhor, não disponíveis - em Hollywood. Kristanna Loken, o cyborg nórdico de Exterminador 3, interpreta o papel de uma mãe solteira. Cybill Shepherd (que foi protagonista da série Modelo e Detective) juntou-se ao conjunto sáfico como a nova patroa de Bette (Jennifer Beals - uma estrela de L Word desde o início). E para sublinhar ainda mais a onda nostálgica, estilo "adoro os anos 80", evocada pela simples ideia de colocar Shepherd e Beals a trabalharem juntas, Marlee Matlin, vencedora de um Óscar (Filhos de um Deus Menor) também se estreou como a nova paixão de Bette.
Doze dos 13 protagonistas regulares de L Word, incluindo Shepherd e Matlin, são mulheres. Isso representa uma maioria sem precedentes para um drama televisivo. Até porque outras séries que são lideradas por personagens femininas, como Donas de Casa Desesperadas ou Anatomia de Grey, requerem geralmente que cada mulher tenha o seu par masculino.
E se no princípio a série Donas de Casa Desesperadas foi elogiada por oferecer papéis suculentos a actrizes, o casting para a quarta temporada de The L Word é um exemplo de uma série que continua a fazê-lo - acrescentando novas personagens sexualmente extravagantes que servem para beneficiar a série. Numa entrevista telefónica, Ilene Chaiken, a criadora e produtora executiva da série, disse:"Todos sabemos que existe uma enorme carência de papéis de substância para as actrizes em todas as faixas etárias, e isso é cada vez mais verdade à medida que elas vão ficando mais velhas."
Oportunidades
Desde a concepção da série, Chaiken sempre aproveitou a propensão de Hollywood para rejeitar o envelhecimento e, em termos mais latos, a ideia estática no mundo da televisão e do cinema sobre quem pode desempenhar um papel romântico principal. Os executivos do canal Showtime, que produz a série, disseram-lhe que esperavam apenas nomes desconhecidos no elenco e que se mantinham entusiasmados com o projecto apesar deste obstáculo. Chaiken respondeu-lhes: "Óptimo. Mas aviso-vos que vamos
contratar algumas estrelas".
A sua confiança extravasou quando Beals aceitou o papel de Bette e Pam Grier foi escolhida para fazer de sua irmã, Kit. As actrizes tiveram altos e baixos nas suas carreiras depois de terem protagonizado projectos de culto: Beals em Flashdance (1983) e Grier em Foxy Brown (1974). Tinham conquistado um espaço no cinema independente mas, para Cheiken, poder colocá-las na série foi uma "grande oportunidade".
Velhas?
Desde então, Rossana Arquette, Anne Archer, Sandra Bernhard, Dana Delany e Kelly Lynch, entre outras, surgiram como actrizes convidadas em The L Word.
Shepherd interessou-se pela série desde que ouviu falar dela pela primeira vez, e reuniu com a produção para discutir se ela poderia desempenhar o papel de Kit. "Normalmente, quando nos dizem nos castings que estão a pensar em alguém diferente, isso significa que estão à procura de alguém mais novo", conta Shepherd. "Mas quando descobri que iria ser a Pam Grier, percebi que a conversa era mesmo verdade".
Em The L Word, Shepherd é Phyllis, uma administradora aprumadinha e conservadora que se apercebe que toda a vida foi lésbica, apesar de ter marido e filhos. Através de Bette, Phyllis conhece Alice (Leisha Hailey) e é absolutamente voraz a compensar o tempo perdido. Para aceitar o papel, a actriz só impôs uma condição: "Nada de nudez. De resto estou mais ou menos disposta a tudo". Este mês, Shepherd faz 57 anos. "Quantos papéis para mulheres desta idade - com cenas de sexo - é que há? Conseguem pensar em um?" A resposta é dela: existem apenas "cinco" e esses vão para Meryl Streep ou para Anjelica Huston.
Marlee Matlin, 41 anos, ganhou um Óscar para melhor actriz há 20 anos pelo seu desempenho em Filhos de um Deus Menor, onde contracenou com William Hurt. Embora tenha trabalhado regularmente desde então em séries como Picket Fences e Os Homens do Presidente, Matlin diz do seu novo papel em The L Word: "Nunca tive um personagem tão completo como este depois de Filhos de um Deus Menor".
Matlin assume que o facto de ser surda impediu que fosse escolhida para desempenhar papéis românticos. E quando fez personagens que tinham sexo, o resultado esteve longe do bom gosto. "Há filmes que eu fiz por dinheiro, porque precisava de trabalhar e porque queria trabalhar."
Em The L Word, Matlin é Jodi, uma escultora por quem Bette se apaixona. Apesar de ser amiga de Beals há 20 anos, Matlin nunca tinha visto a série. Quando viu os DVD ficou "de boca aberta". "Nunca tinha visto nada assim em televisão."
No caso de Kristanna Loken a questão não é a idade (tem 27 anos). A actriz fez uma carreira de filmes de série B depois de surgir em Extreminador Implacável 3 (2003) no papel de Terminatrix. Com os seus quase dois metros, foi escolhida para porque parecia ser uma ameaça credível ao heróico Extreminador desempenhado por Arnold Schwarzenegger. Mas tamanha estatura acabou por se revelar um empecilho para a carreira - desde então calharam-lhe papéis em filmes de acção, terror ou fantasia.
Assumidamente bissexual, diz que não escolheu entrar em The L Word por causa da temática da série. "Sinto que foi a série que me escolheu a mim". E remata: "Sempre tive esta altura desde os 18 anos. Em The L Word isso não é impeditivo de nada porque somos todos iguais quando estamos deitados e é assim que estamos em metade do tempo na série". No novo papel vai andar de cabeça perdida atrás de Shane (Katherine Moenning), a quebra-corações mais cobiçada de LA.

Kate Aurthur, exclusivo Público/los Angeles Times

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