Visita guiada às entranhas da “bela escola dos costume e de civilidade”

Teatro Nacional de São João faz visitas guiadas diárias e sem marcação prévia. Custam cinco euros e permitem conhecer toda a história do monumento nacional e matar todas as dúvidas sobre o seu funcionamento.

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Nelson Garrido
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José Gaspar soube das visitas por acaso. Foi na noite de quinta feira, tinha acabado de chegar ao Porto, cidade onde já não vinha há mais de dois anos, para um fim-de-semana prolongado. “Sempre que podemos, fazemos estas visitas de fim-de-semana a várias cidades do país. Nunca trazemos grandes planos, para termos flexibilidade”, explica o economista, residente em Lisboa. Leu a informação acerca das visitas guiadas na porta do edifício e logo resolveu, com a mulher, que seria um bom programa para a hora de almoço de sexta-feira. Às 12h30 lá estavam eles, a somarem-se a outros três visitantes que, com eles e mais um par de jornalistas, iriam passear-se pelas entranhas do edifício que ganhou o estatuto de Monumento Nacional em 2012.

Desde o início de Janeiro que as visitas guiadas ao Teatro Nacional de São João (TNSJ) acontecem diariamente, de terça a sábado, sempre às 12h30, sem que seja necessária a marcação antecipada que era exigida antes. Custam cinco euros por pessoa e têm uma lotação máxima de 20 participantes. A presidente do Conselho de Administração do TNSJ, Francisca Carneiro Fernandes, explica que a decisão de oferecer estas visitas diárias assenta na elevada expectativa de que a procura vai aumentar. “Desde Setembro que o edifício está de cara lavada, perdeu os andaimes que o taparam durante tantos anos. Agora que os trabalhos de restauro do exterior estão concluídos, a fachada do edifício esta finalmente mais em consonância com a beleza do que se passa cá dentro. Estava na altura de abrir as portas, e convidar a população a vir conhecer-nos”, explica. 

Um repto a que José Gaspar não resistiu. Do edifício propriamente dito sabia pouco, da actividade do teatro ainda menos, apesar de nos seus tempos de juventude ter ajudado “a montar algumas peças na brincadeira”. Durante pouco mais de uma hora ouviu Vera guiar os passos a um pequeno grupo de curiosos nas explicações de como sobre as raízes do Real Teatro de São João, da autoria do italiano Vicenzo Mazzoneschi, o arquitecto portuense José Marques da Silva (autor, também, da Casa de Serralves) ergueu o edifício que hoje em dia abrilhanta a Praça da Batalha. E pôde perceber como se mantém actual o desafio  lançado a Mazzoneschi ha dois séculos para dotar a “segunda cidade do Reino” de uma “bela escola de costumes e de civilidade”. Mazzoneschi assina o projecto de 1798. Marques da Silva o de 1908. Entretanto caiu a monarquia e cai o “Real” do nome de Teatro, e hoje o edifício continua a ser um livro aberto onde se lê história - e os costumes e a civilidade que nele desfilaram. E desfilam.

As visitas guiadas versam todas estas matérias, respondendo às curiosidades sobre a história, a arquitectura e a própria actividade teatral. Durante pouco mais de uma hora, a iniciativa leva os visitantes às entranhas do edifício, para que conheçam muito mais dos que as áreas sociais como o foyer e o salão nobre, mas também as áreas de trabalho (os camarins e as salas de ensaio) e as áreas técnicas (os bastidores do palco, o sub-palco, e até o sub-sub-palco). A partir do átrio principal começa a subida até ao Salão Nobre, profusamente decorado, e àquele que foi concebido para ser o salão privado do rei e que agora é um bar aberto a todos, subida essa sempre feita pelas escadarias concebidas por Marques da Silva como pequenas varandas que permitem ver quem passa - e ser visto.

E só depois de ter subido até ao limite do edifício - literalmente, já que a visita contempla uma passagem por um pequeno terraço de onde se pode apreciar uma paisagem algo inusitada da cidade - é que se inicia a descida às profundezas técnicas do teatro, para depois terminar na sala de espectáculos - aquela que se quer sempre cheia, “para que tudo o que visitaram continue a fazer sentido”, termina a guia.

No final da visita, José Gaspar disse achar que esta esteve muito centrada nas componentes do funcionamento do teatro, mas admitiu que todas as perguntas que levantou tiveram resposta. “Nota-se que há gente bem preparada à frente das visitas”, considerou. Achou “particularmente curioso” ficar a conhecer todo o funcionamento do teatro, palco e os camarins. E até ficou com vontade de ali ver um espectáculo.

Espectaculos legendados e bar aberto
É caso para dizer que, com a oferta das visitas guiadas diárias, a administração do TNSJ procura induzir uma procura que se espera crescente, mas também prestar os serviços que os seus clientes procuram. Numa altura em que o número de  visitantes estrangeiros tem aumentado, o TNSJ oferece legendagem em inglês de todos os seus espectáculos.  E, se no final (ou mesmo antes) dos espectáculos os grupos de pessoas se acumulavam à porta, sem saber onde queimar o tempo, ou para onde ir a seguir, o TNSJ abre as portas do seu bar para oferecer aperitivos do chef Rui Paula e vinhos das marcas Nierpoort e Murganheira. “Foi uma espécie de mecenato, já que os preços de venda a público são muito competitivos”, explica Francisca Carneiro Fernandes. As entradas do chef custam cinco euros, os copos de vinho de mesa, porto e espumante, saem a 2,5 euros o copo.

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