Velocidade excessiva foi a causa do naufrágio que vitimou seis pessoas na Caparica

Investigadores do Gabinete de Prevenção e de Investigação de Acidentes Marítimos dizem que o uso dos coletes salva-vidas poderia ter evitado um desfecho tão trágico.

Foto
Embarcação foi recuperada já na zona da praia do Dragão Vermelho Enric Vives-Rubio

O naufrágio que vitimou seis pessoas a 21 de Dezembro na zona da Costa da Caparica, Almada, foi provocado pela velocidade excessiva da embarcação de recreio, face às condições de agitação marítima registadas no momento. Esta é a conclusão do relatório técnico ao acidente, no qual se lê que o uso do colete salva-vidas poderia ter evitado a morte dos seis homens.

No documento, os investigadores do Gabinete de Prevenção e de Investigação de Acidentes Marítimos (GPIAM) descrevem todo o percurso do barco Cochicho naquele sábado antes do Natal. Depois de terem passado o dia a fazer pesca desportiva na zona do Cabo Espichel, os sete amigos, todos da zona do Barreiro, iniciaram a viagem de regresso a Lisboa às 16h. O mar estava “encrespado”, com ondas de três a quatro metros. Entre as 17h e as 17h30, uma onda maior “ergueu a embarcação, adornou-a a estibordo e rebentou sobre ela, virando-a”.

De acordo com o testemunho do único sobrevivente, que era também o condutor do barco, na cabine viajavam ele e mais três pessoas, no momento do naufrágio. Os restantes três pescadores estavam sentados no banco do poço da popa. “Nenhum dos tripulantes da embarcação usava colete de salvação”, lê-se no relatório.

Quando a onda virou o Cochicho, quatro dos tripulantes ficaram agarrados à embarcação durante cerca de hora e meia, segundo o relato do sobrevivente. “Quanto aos restantes três, desconhece-se o que lhes aconteceu até que foram recolhidos junto à praia já mortos.”

O condutor do barco decidiu nadar para terra – outro terá tentado também, mas sem sucesso – e conseguiu alcançar a praia do CDS, na Costa da Caparica, pelas 19h30, tendo sido socorrido por um nadador-salvador, que por acaso estava a passar no paredão. Foi ele quem alertou as autoridades. O homem, de 37 anos, foi transportado para o hospital com sintomas de hipotermia.

Só mais tarde foram recolhidos, junto à praia, os seis corpos dos outros tripulantes, já cadáveres, semi-despidos. As vítimas tinham entre 37 e 70 anos. O barco foi encontrado a um quarto de milha da orla da praia do Dragão Vermelho, onde embateu no molhe. Lá dentro estava todo o equipamento de segurança que a embarcação estava obrigada a transportar, à excepção de uma bóia e do motor auxiliar.

"Todo o material estava em conformidade com a regulamentação em vigor, cumprindo os requisitos de validade impostos. Verificou-se também que todo ele se encontrava guardado no interior da cabine da embarcação, ou seja, nenhum estava colocado em local de rápida e fácil utilização ou de actuação automática em caso de naufrágio, em particular a balsa insuflável que a embarcação transportava", diz o relatório.

Os investigadores do GPIAM, um organismo do Ministério da Agricultura e do Mar, sublinham que os coletes salva-vidas “teriam seguramente contribuído para um desfecho menos trágico do acontecido". Consideram que o facto de não terem vestido este equipamento – que não é obrigatório quando o barco está em trânsito – "contribui para o esgotamento" das forças dos tripulantes durante o período em que tentaram sobreviver junto da embarcação, e para que só um alcançasse terra.

Os sete amigos costumavam sair para pescar todos os fins-de-semana e, segundo os testemunhos ouvidos pelo PÚBLICO, não lhes faltava experiência no mar. Pescavam para comer e para vender aos amigos. O Cochicho, um barco em fibra de vidro com sete metros de comprimento, registado em Peniche e atracado no porto de Santo Amaro, em Alcântara (Lisboa), pertencia ao irmão do único sobrevivente. 

 
 
 
 
 

Sugerir correcção
Comentar