Utentes desesperam com supressão de comboios mas não sabem de quem é a culpa

CP e trabalhadores dão versões diferentes para problemas que têm afectado a circulação de linhas suburbanas em Lisboa, especialmente a de Cascais.

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Comboios suprimidos: dor de cabeça para os utentes, sem explicações cabais Enric Vives-Rubio

“Próxima paragem, Oeiras”, avisam os altifalantes. Mas é difícil imaginar que alguém consiga entrar ou mesmo sair do comboio. Uma massa compacta de utentes, imóvel, preenche todo o espaço à frente das portas. Os corredores estão repletos.

Desde o Monte Estoril que já não há lugares para sentar. O comboio passou ali às 8h10, e já ninguém sabia se era o das 8h04 que chegava atrasado ou o das 8h16 que vinha adiantado.

Se há coisa que os utentes dos comboios suburbanos da região de Lisboa não têm conseguido saber nestas últimas duas semanas é precisamente esta: a que horas passa o próximo comboio?

A supressão de comboios nas horas de ponta tem sido uma constante este mês em linhas suburbanas, em particular a que liga Lisboa a Cascais. E enquanto os utentes se desesperam com os atrasos e as composições lotadas, a CP e os trabalhadores da empresa atiram as culpas uns aos outros.

No seu site na Internet, a transportadora informa que, até ao próximo dia 24, haverá “perturbações e supressões” na circulação de comboios urbanos, regionais e inter-regionais, “por motivo de greve convocada por diversas organizações sindicais”. O aviso da CP refere como 9 de Dezembro o início dos problemas.

Mas os sindicatos rejeitam responsabilidades. “A CP tem estado a passar uma informação para fora que não corresponde à verdade”, afirma José Manuel Oliveira, coordenador da Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações (Fectrans).

Há, de facto, uma greve em curso às horas extraordinárias. Mas segundo a Frectrans, este protesto já tem oito meses, sem que houvesse até agora o tipo de transtornos que os passageiros estão a enfrentar. A razão, diz José Manuel Oliveira, é outra: a CP pôs muitos trabalhadores de férias ao mesmo tempo.

O sindicalista diz que a empresa recusou pedidos de férias ao longo dos meses e, agora que o fim do ano se aproxima, viu-se obrigada a marcá-las. Os trabalhadores foram para casa e o resultado é que se tem visto na região de Lisboa. “Houve aqui má gestão”, conclui José Manuel Oliveira.

A situação deve melhorar nos próximos dias, segundo a Fectrans, pois muitos trabalhadores já estão a regressar das férias.

Explicações cabais
A Comissão de Utentes da Linha de Cascais – onde as supressões de comboios têm causado mais transtornos – reitera que os problemas nada têm a ver com a greve e “exige da CP explicações cabais”, segundo um comunicado difundido na terça-feira. Os utentes dizem ainda que as perturbações não são “indissociáveis do ‘plano estratégico’ deste Governo para privatizar a linha de Cascais”.

O PÚBLICO contactou a CP ao princípio da manhã desta quarta-feira, mas até ao meio da tarde não tinha obtido resposta a uma série de perguntas.

Seja qual for o motivo, os problemas repetem-se todos os dias: comboios suprimidos, carruagens lotadas, atrasos na circulação.

No interior do comboio que nesta quarta-feira passara no Monte Estoril às 8h10, a paragem em Oeiras é quase uma revolução. Uma das portas falha na hora “H” em que muitos querem sair e mais pessoas ainda querem entrar. Os passageiros contorcem-se para percorrer o corredor da carruagem, que está repleto, até conseguirem deixar a composição.

Uma passageira tenta abrir a janela, um pequeno rectângulo num dos vidros da carruagem. “Está trancada”, queixa-se. Outra desaconselha uma amiga ao telefone: “É melhor apanhares a camioneta. Isto está impossível”.

Quando todos que estavam fora entram, já não há espaço para uma molécula de ar. O comboio não se move e ouve-se dos altifalantes: “Pedimos aos senhores passageiros para não forçarem as portas”. Há um que não se contém e desabafa: “Devem estar a brincar”.
 
 
 

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