Universidade do Porto reorganiza cursos de Comunicação à revelia dos professores e alunos

Decisão de transferir os dois cursos para a Faculdade de Letras coincide com a preparação das eleições para o Conselho Geral da Universidade

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Sebastião Feyo de Azevedo, reitor da Universidade do Porto Miguel Nogueira

A Universidade do Porto (UP) procedeu à reorganização administrativa dos cursos do 1º ciclo (licenciatura) e 2º ciclo (mestrado) em Ciências da Comunicação, centrando-os na Faculdade de Letras, uma das faculdades que estiveram na origem da sua fundação.

A decisão, que apanhou de surpresa docentes e estudantes, foi tomada pelo reitor da Universidade do Porto, Sebastião Feyo, e nela estiveram envolvidos os directores das faculdades de Belas Arte, Economia, Engenharia e Letras que estão ligadas à fundação deste curso. Ciências da Comunicação, que “tem uma identidade própria”, como refere um docente, foi um curso lançado quando Novais Barbosa era reitor da UP.

“Sempre houve uma intenção política por parte da Faculdade de Letras para que os cursos de Ciências da Comunicação estivessem sob a sua tutela”, disse ao PÚBLICO um professor universitário que critica a forma como a equipa reitoral tratou esta questão. “Agora que a decisão está tomada é que está a ser feito um estudo por parte da direcção da Faculdade de Letras com os directores dos respeitos cursos para se avaliar as condições que as novas instalações oferecem”, acrescentou a mesma fonte, temendo que “possa haver alguma pressão para que os conteúdos programáticos dos cursos se ajustem àquilo que for mais conveniente”.

Os docentes foram informados da decisão pela directora da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Fernanda Ribeiro, que, nesta quinta-feira, contactada pelo PÚBLICO, recusou falar do assunto. “O que eu comuniquei aos docentes foi numa reunião de trabalho como tenho muitas e não vou comentar. Eu não vou responder porque não vou alimentar outros aproveitamentos”, reafirmou.

O director do curso do 1º ciclo de Ciências de Comunicação, Hélder Bastos, não quis fazer qualquer comentário sobre as mudanças em curso.

A decisão de transferir os dois cursos para o Campo Alegre coincide com a preparação das eleições para o Conselho Geral da UP que decorreram nesta quinta-feira e à qual se candidataram seis listas. O Conselho Geral é o órgão que dentro de um ano irá escolher o reitor da UP, cargo actualmente ocupado por Sebastião Feyo e que se deverá recandidatar.

No acto eleitoral desta quinta-feira, foram eleitos 12 dos 23 elementos que constituem o Conselho Geral, entre estudantes (quatro), um representante dos funcionários e 12 representantes dos professores e investigadores. Os restantes seis são pessoas exteriores à Universidade e que serão cooptados, provavelmente, na primeira reunião do novo Conselho Geral, que é presidido pelo antigo provedor de Justiça, Alfredo José de Sousa.

A reorganização vai implicar a saída dos dois cursos (parte teórica) do Pólo da Praça Coronel Pacheco, na Baixa, já no próximo ano lectivo para o edifício-sede da Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), no Campo Alegre. Fora desta mudança ficam os estúdios de rádio e televisão, os laboratórios de audiovisual e multimédia, o jornal online JPN – JornalismoPortoNet e a Biblioteca de Ciências da Comunicação, que vão manter-se nas instalações do pólo da UP na Praça Coronel Pacheco. É provável que as instalações dos cursos de Ciências da Comunicação venham a ser ocupadas por estudantes do quinto ano de Arquitectura.

Em comunicado, o Conselho de Departamento de Ciências da Comunicação e da Informação insurgiu-se contra a forma como o caso foi tratado e denuncia a “inexistência de um estudo prévio detalhado sobre as implicações da decisão, nomeadamente nos custos para a Universidade do Porto, para a Faculdade de Letras e para a comunidade académica envolvida neste processo”. O departamento lamenta “a ausência de uma consulta prévia junto dos órgãos de gestão dos dois ciclos de estudos (direcções, comissões científicas, comissões de acompanhamento), junto dos docentes, dos estudantes e dos funcionários, bem como da direcção do MIL – Media Innovation Labs (Centro de Competência da Universidade do Porto que gere o espaço do Pólo da Praça Coronel Pacheco) ”. E critica a decisão ter sido comunicada na penúltima semana de aulas, “impedindo a promoção de um debate junto da comunidade envolvida, a curto e a longo prazos (horários lectivos, mobilidade de docentes e estudantes, atractividade das propostas formativas, resultados académicos, questões pedagógicas, entre outros) ”.

O departamento receia que “a separação dos locais de funcionamento das unidades curriculares mais práticas e das unidades curriculares teóricas possa vir a ter repercussões directas nos conteúdos programáticos e nas formas de avaliação dos estudantes através de trabalhos práticos, nomeadamente pela previsível dificuldade de requisição e entrega de equipamentos, apoio técnico, gravação e edição e, consequentemente, entregas dos trabalhos nos prazos estabelecidos”.

De acordo com vários docentes com quem o PÚBLICO falou, a fragmentação destas eleições manifesta algum descontentamento para com a actual equipa reitoral.

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