Unhas negras dos antigos chapeleiros são pretexto para falar de esperança

Museu da Chapelaria de São João da Madeira encena, em seis palcos ao ar livre, os primeiros capítulos de um romance que retrata a dura vida dos operários de outro século.

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Museu da Chapelaria

Esta sexta-feira à noite, pelas 21h30, seis grupos de teatro tomam conta de seis palcos ao livre nas traseiras do Museu da Chapelaria de São João da Madeira. O Último Turno é o nome do espectáculo que encena os primeiros capítulos do romance Unhas Negras escrito pelo são-joanense João da Silva Correia no século passado. A iniciativa tem entrada livre e insere-se no Dia Internacional dos Museus, comemorado em vários espaços espalhados pelo país e não só.

A obra literária de João da Silva Correia conta a difícil vida dos chapeleiros, no início do século passado, que ficavam com as unhas negras do trabalho que tinham nas mãos. “É um sonho muito antigo pôr em cena alguns capítulos do romance Unhas Negras de João da Silva Correia sobre a vida dos operários chapeleiros”, revela Suzana Menezes, directora do Museu da Chapelaria. Histórias que, afinal de contas, se cruzam com a própria história do espaço museológico onde, em outros tempos, funcionou a Fábrica Nova, que surge no romance. Há, portanto, uma ligação umbilical entre o livro e o museu e Suzana Menezes não esconde a vontade de, um dia, encenar todo o romance. E, por isso, garante que a história vai continuar. “A história tem muito a ver com o que era a vida, no melhor e no pior, dos operários chapeleiros, e está muito bem escrita”, conta. O livro tem também momentos de dádiva e de optimismo. O Último Turno quer, aliás, passar essa mensagem de esperança na adversidade. “Se por um lado, mostra a vida dura dos chapeleiros, também mostra que é necessário acreditar no futuro, que é importante sonhar. O que se aplica aos dias de hoje de ter esperança nas dificuldades e adversidades”. “O próprio autor, ao longo da história, trabalha essa dimensão da dádiva, da fraternidade, de um por todos e todos por um”, acrescenta a responsável.

Há tanto para contar nesta sexta-feira. Há drama e há humor. A ida para a fábrica de chapéus de madrugada, antes do sol nascer, e a paragem na tasca do senhor Francisco Neiva para beber um copo antes do início de mais uma dura jornada. A hora de almoço depois das sirenes das fábricas apitarem. A espera pela comida trazida pelas mulheres ou pelos filhos e o momento de colocar a conversa em dia e saber as novidades da cidade. O fim do dia e um sonho por cumprir, o de juntar dinheiro para ir ao São João a Braga. A chegada a casa após mais um dia de trabalho. O plenário para exigir as oito horas de trabalho diárias, em vez das 12 ou 14 que levavam no corpo todos os dias. O sentido de classe, a defesa dos direitos.  Tudo isso das páginas de um livro, para seis palcos.

Depois do espectáculo ao ar livre, as portas do Museu da Chapelaria abrem-se para visitas guiadas que se estenderão pela madrugada de sábado. Sábado e domingo, o espaço museológico alberga a Feirinha de Ecodesign com produtos e projectos centrados na reutilização de resíduos. Há ainda visitas temáticas às exposições de longa duração do museu e à mostra temporária Contributos

10 Anos de Colecção, das 10h00 às 12h00 e entre as 15h00 às 18h00. As visitas continuam na segunda-feira, dia em que é inaugurada, pelas 15h00, a exposição Chapéus Há Muitos com 26 ilustrações de Isabel Machado Guimarães para o livro, baptizado com o mesmo nome, assinado por José Jorge Letria e que está por editar. Todas as actividades têm entrada livre.

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