Turismo de Portugal diz que não há turistas a mais em Lisboa e até existe margem para crescer

Aumento de visitantes em Lisboa dá dores de cabeça aos moradores, mas João Cotrim de Figueiredo, presidente do Turismo de Portugal, recorda que até há pouco tempo se discutia o problema da desertificação do centro.

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Aumento de visitantes tem dado dores de cabeça aos moradores de bairros históricos Miguel Manso

O presidente do Turismo de Portugal, João Cotrim de Figueiredo, defendeu nesta terça-feira que o aumento de visitantes estrangeiros no país, e em Lisboa em particular, tem ajudado a recuperar os centros urbanos degradados e a trazer nova vida à cidade. Questionado sobre as queixas dos lisboetas sobre a pressão urbana trazida pelos novos turistas, admitiu estar atento às críticas mas defendeu que ainda há margem para receber mais visitantes.

“Não acho que seja possível dizer com cara séria que há turistas a mais. Isso é esquecer um passado não muito longínquo onde, nomeadamente, nos centros urbanos havia desertificação, decadência económica e das próprias estruturas edificadas. O turismo tem permitido fazer uma recuperação e uma regeneração importantes”, disse. João Cotrim de Figueiredo admite estar a “discutir alguns aspectos que precisam de ser discutidos e geridos” mas repete: “estamos muito longe do passado, quando o problema era falta de motivo para recuperar as cidades”.

Tal como o PÚBLICO noticiou, há quem se sinta cada vez mais esmagado pelo fluxo de turistas na capital com todo o impacto que este movimento traz à cidade, do aumento do trânsito e do lixo, aos apartamentos de aluguer temporário que ocupam, agora, os bairros históricos. Lisboa foi a cidade europeia com maior crescimento o ano passado, de 15,4%, atingindo 11,53 milhões de dormidas num só ano. Contudo, João Cotrim de Figueiredo acredita que “há margem para crescer em todos os territórios, sem excepção”. Ainda assim, admite que é preciso olhar para “o tema da gestão da oferta turística”.

O presidente do Turismo de Portugal diz que conhecer melhor o perfil do turista pode ajudar minorar os impactos nas cidades e aponta como exemplo o lançamento, nesta terça-feira, de um concurso mundial de ideias em parceria com o The Lisbon MBA, para premiar a melhor solução de análise ao comportamento de quem visita o país. “Este projecto é um excelente instrumento para gerir os fluxos turísticos e garantir que o ritmo de crescimento é suficientemente bem gerido do ponto de vista não só das infra-estruturas de recepção, por exemplo, mas também na forma como os turistas se movimentam dentro das cidades e regiões. Poderemos ter instrumentos que os distribuam de uma forma mais harmoniosa e que não gerem problemas que em alguns casos se têm verificado”, sustenta.

Mas João Cotrim de Figueiredo acredita que o “boom” turístico também acabou por beneficiar tos portugueses que, para “conviverem e estarem fora de casa escolheram esses bairros” históricos, transformados em novos pólos de atracção. “Parece que se atribui ao turismo, nomeadamente estrangeiro, a origem desses problemas”, lamenta. O responsável pela entidade (que faz a promoção da actividade turística nacional) diz ainda que os problemas apontados são fruto de “uma coisa boa”. “Esses territórios tornaram-se atraentes. Agora é fundamental que continuem atraentes a longo prazo”, afirma.

Em Portugal, a região de Lisboa registou a segunda maior subida nas dormidas em 2014, logo a seguir ao Alentejo (+17,2%). Em termos globais, o número de turistas cresceu 12,2%, acima da média verificada nos países do Sul da Europa e do Mediterrâneo (7%). No ano passado, o turismo conseguiu aumentar o seu peso nas exportações globais e representa, agora, 14,6% das vendas nacionais ao estrangeiro (bens e serviços), um aumento de 1,24 pontos percentuais em comparação com 2013. Nos serviços, tem um peso de 45,5%.

Na hotelaria também se atingiram números recorde, com as dormidas e os proveitos a crescerem 11% e 12,8%, respectivamente. No total, registaram-se 46,1 milhões de dormidas em hotéis, pousadas, aldeamentos e apartamentos turísticos. O Reino Unido continua a ser o principal mercado emissor (7,7 milhões de dormidas, mais 10,6% do que em 2013). Seguem-se Espanha, Alemanha e França.

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