Em meados do próximo ano vai nascer um espaço comercial no antigo cinema Odeon

O rumor de que a demolição do edifício, em Lisboa, ia começar nas próximas semanas reacendeu o debate sobre o seu futuro.

Foto
Junto aos Restauradores, o antigo cinema tem traços Art Deco Rita Chantre

As obras de transformação do antigo cinema Odeon, em Lisboa, num espaço comercial com valências culturais deverão começar em meados de 2014 e prolongar-se por “um ano e meio, no mínimo”. Essa é a expectativa do arquitecto Luís Pereira Coelho, segundo quem o novo proprietário do edifício na Rua dos Condes vai realizar um investimento de 12 milhões de euros na sua compra e reconversão.

Nalguns blogues e grupos no Facebook ligados a Lisboa circula a informação de que a demolição do imóvel começará dentro de menos de três semanas. Com base nisso, uma petição que tinha sido lançada no fim de 2011, em protesto contra o “desaparecimento” do cinema, foi reanimada e conquistou mais de mil assinaturas nos últimos dias. Ao fim da tarde de quarta-feira, já tinha sido subscrita por mais de quatro mil pessoas.

Mas quer o arquitecto responsável pelo projecto de reconversão do edifício quer a Câmara de Lisboa confirmaram ao PÚBLICO que o início das obras não está para breve. Segundo uma assessora de imprensa da autarquia, foi aprovado o Pedido de Informação Prévia para a realização do projecto de Luís Pereira Coelho, mas “não há nenhuma licença emitida a autorizar a demolição do edifício”. “Nem foi requerida”, acrescenta.

Já o arquitecto explicou que neste momento estão a ser desenvolvidos os projectos de especialidades. Assim sendo, antevê Luís Pereira Coelho, as obras no antigo cinema só deverão começar “em Maio ou Junho”, sendo expectável que durem “um ano e meio, no mínimo”.

Por fora vai ficar "como nos anos 20"
O autor do projecto de reconversão do edifício rejeita os termos usados por aqueles que contestam esta obra. “Demolições há muito poucas. O que há é recuperações e reconstruções”, diz, sublinhando que “por fora” o imóvel vai ficar “como nos anos 20”, quando foi inaugurado. Para isso, os elementos da fachada que não puderem ser preservados e os varandins serão reconstruídos. Também serão mantidos elementos interiores, como um tecto em madeira pau-brasil e um frontão sobre a boca de cena.

Segundo Luís Pereira Coelho, foi recentemente encontrado um comprador para o imóvel, que ao que diz tinha 64 proprietários. O arquitecto não revela quem é o novo dono, mas adianta que este vai investir 12 milhões de euros para dar uma nova vida ao Odeon.

A ideia é que o antigo cinema seja reconvertido num espaço comercial com valências comerciais e três pisos de estacionamento subterrâneo com capacidade para 30 veículos. Entre os equipamentos previstos está um restaurante/bar com uma pequena orquestra, uma sala de exposições que também poderá acolher eventos como desfiles de moda e uma loja de discos.

Na petição intitulada “Lisboa e o país precisam do cinema Odeon”, diz-se que este “é hoje o cinema com mais história de Lisboa, tendo passado pela sua tela clássicos do mudo e do sonoro, e, já a partir da segunda metade do séc. XX grandes êxitos do cinema português e espanhol, bem como teatro radiofónico”. Relembra-se ainda que o imóvel chegou a estar em vias de classificação, mas o processo acabou por ser arquivado.

O que resta em "muito mau estado"
O subdirector da Cinemateca Portuguesa esteve no Odeon e concluiu que “já desapareceu praticamente todo o recheio” do antigo cinema e que o pouco que restou “está em muito mau estado”. Ainda assim, adiantou ao PÚBLICO José Manuel Costa, foram encontradas “duas coisas interessantes” que em seu entender se justifica preservar: “papéis, maços de contas e documentos antigos”, que permitem perceber a “história da sala” e “do mercado cinematográfico da altura”, e duas máquinas de projecção, provavelmente da década de 40 do século XX.

José Manuel Costa adianta que aquilo que está a ser negociado com o proprietário do Odeon é que esses bens sejam entregues à Cinemateca e guardados no Arquivo Nacional das Imagens em Movimento. Mas a intenção é que um dia todo o espólio aí reunido possa ser exposto num Museu do Cinema, uma velha ambição da Cinemateca.

Sugerir correcção
Comentar