Sonharam com um bairro melhor, agora vão conseguir

Dez novas ideias vão ser postas em prática para ajudar as comunidades em todo o país.

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Em Miranda do Corvo, pretende-se descobrir o talento que há em cada criança

Ajudar os pais com serviços babysitting a preços reduzidos, transformar o insucesso escolar em sucesso ou sensibilizar os donos de cães sobre as medidas a tomar para evitar que os passeios higiénicos sujem os passos dos outros. Estas são algumas das ideias que pretendem melhorar a qualidade de vida dos bairros portugueses e que se candidataram à iniciativa “Todos queremos um bairro melhor”. Agora, 35 mil euros vão ser distribuídos pelos dez projectos vencedores do projecto promovido pela Comunidade EDP e pela Visão, anunciados nesta terça-feira.

Os projectos são variados e vão desde hortas comunitárias à compra de uma carrinha para apoiar idosos, passando por acções de voluntariado para intervir no espaço público ou percursos para exercício físico, tanto de humanos como de animais.

Um dos projectos vencedores pretende tomar conta de bebés a preços acessíveis. José Silva, responsável pelo “Super Babysitters”, em Lisboa, explica ao PÚBLICO o porquê de querer criar uma rede de babysitting low cost para famílias com dificuldades económicas: “É preciso ter em conta que há pessoas que não podem suportar os preços tradicionais, cerca de 10 euros por hora”, alertou. Com este serviço, oferece-se às famílias a possibilidade de pagar um euro por hora e fica ao critério das mesmas se querem contribuir até três euros por hora.

O “Super Babysitters” ainda está em fase de divulgação – em “escolas e centros sociais, algumas vezes através de organizações que já têm as famílias com mais dificuldades sinalizadas” – mas já há propostas em cima da mesa. Prevê-se, para já, que os serviços estejam disponíveis durante o fim-de-semana entre as 10h e as 23h e, durante a semana, em horário pós-laboral, entre as 18h e as 23h. Não há um limite estabelecido em relação à idade das crianças que podem ser abrangidas pelo programa mas José Silva aponta os 12 anos como um limite possível.

Em relação aos voluntários, é-lhes perguntado qual a faixa etária com a qual se sentem mais à vontade: “se há algumas pessoas que preferem tomar conta de bebés, outras preferem lidar com crianças mais crescidas”, explica José Silva. Entretanto, admite que, a nível de horário, os serviços podem “vir a ser alargados caso interessem a mais participantes” mas alerta que é sempre importante “avaliar se o babysitting tem impacto na vida da família” para ter a certeza que o trabalho está a realmente a facilitar o ambiente familiar, especialmente “diminuindo o stress dos pais”.

E a preocupação dos pais pode também ser reduzida através de um outro projecto vencedor desta iniciativa que procurava boas ideias para melhorar a “energia do bairro”. Chama-se “Mentes Brilhantes” e, no panorama escolar, quer tornar “os casos de insucesso em sucesso e os de sucesso em mais sucesso”, explica ao PÚBLICO Jaime Rames, da Fundação de Assistência, Desenvolvimento e Formação Profissional (ADFP), responsável pela apresentação do projecto. Proporciona cursos de estudos avançados que são leccionados a crianças do pré-escolar e do 1º ciclo em turmas pequenas (de dez alunos), uma vez por semana, durante dez semanas. O programa “parte do princípio que o sistema de ensino está uniformizado” e, por isso, pretende-se atender às diferenças dos miúdos com uma forte componente prática de forma a conseguir “potencializar as capacidades de todos os alunos”, adianta Jaime Ramos.

Um dos métodos adoptados consiste na “avaliação psicológica” de todas as crianças que os professores identificam por não estarem a corresponder ao que seria esperado. Jaime Ramos explica que as matérias são mais personalizadas e exigentes, de forma a criar um “desafio” para cada um dos alunos. “É preciso tentar descobrir talento nas crianças”, alerta Jaime Ramos ao mesmo tempo que dá o exemplo do futebol português. “O Ronaldo cresceu na Madeira. Se ninguém tivesse reparado nele nem o tivesse desafiado, provavelmente não era o sucesso que é hoje”, nota, alertando que em Portugal “há uma grande capacidade de descobrir talento no futebol mas não há grande interesse nas áreas das artes, da literatura, da ciência”. Para já, o “Mentes Brilhantes” abrange 100 alunos de Miranda do Corvo mas pretende alargar o projecto a toda a área metropolitana de Coimbra.

Um pouco mais a Sul, em Lisboa, cresceu um outro projecto vencedor: “Gosto de ti e do teu cão, só não gosto do cocó no chão”. Sofia Santos, responsável pelo projecto contou ao PÚBLICO que andava há mais de um ano a pensar como poderia alertar as pessoas para este tipo de “poluição”. Com esta iniciativa, apareceu a oportunidade de pôr a ideia em prática. “Tenho um cão, passeio-o todos os dias e fartei-me de ver a poluição das ruas”. Sofia Santos quis criar um projecto “divertido, não ofensivo, e acima de tudo educativo” e que chegasse ao maior número de pessoas possível”.

Há três fases neste projecto: vídeo, manifestação pacífica, cartazes. O vídeo vai ser filmado nas zonas que vão ser posteriormente intervencionadas e vai tentar mostrar o quotidiano desses locais. Nessas mesmas gravações, vão ser apresentadas as datas para um concurso de frases relacionadas com o tema e para a manifestação pacífica. Esta última vai trazer os balões para a rua. “A ideia é espalhar vários balões que têm estampadas frases não punitivas mas sim engraçadas”, explica a organizadora.

Apesar de a ideia inicial abranger a zona de Santa Apolónia, onde reside Sofia Santos, a organizadora espera agora conseguir “angariar um maior número de voluntários em todas as zonas de Lisboa” para que os balões preencham a cidade. Quando questionada acerca de outras problemáticas que envolvem os animais, como é o caso do abandono, explica que, “caso possível”, a iniciativa “pode tentar chamar a atenção para esses casos” mas que o objectivo principal é o de “eliminar a poluição” das ruas.

Este é um problema que “nada tem a ver com os animais, mas sim com os donos”, remata Sofia Santos.

Para se candidatar ao prémio, 324 projectos inscreveram-se na iniciativa. Os projectos vencedores foram votados via online pelo público em geral e vão receber até cinco mil euros para ajudar a concretizar as ideias propostas.

Texto editado por Ana Fernandes

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