Um ano depois, os docs têm lugar cativo na Baixa e na agenda do Porto

Porto/Post/ Doc celebra o primeiro ano das sessões semanais com três dias dedicados a Paulo Rocha.

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Verdes anos é o primeiro de três filmes de Paulo Rocha que serão exibidos esta semana no Rivoli DR

O cinema regular na Baixa do Porto estava moribundo quando há um ano eles decidiram ressuscitar nas pessoas o hábito de entrar numa sala escura, sem pipocas, atrás de um filme de autor. Porto/Post/Doc, o nome que escolheram, concentrava a ideia de um lugar a ultrapassar esse quase deserto de imagens e a escolha de um género, o documentário, que aumentava a dose de risco. Mas, passadas 52 semanas, com 60 sessões e um festival pelo meio, o Porto já não passa sem os seus docs.

Com a cidade cercada por dezenas de salas de cinema, nos multiplex dos shoppings, conseguir pouco mais de 3000 espectadores para uma selecção de sessenta documentários, 34 dos quais portugueses, é de assinalar, assume, sem falsas modéstias, o fundador do Porto/Post/Doc, Dario Oliveira. Que, ainda assim, considera que o número é baixo, face às ambições desta associação, que atraiu, neste período, cem associados, e que esta semana está em modo celebração: do projecto, da Baixa enquanto espaço que está para lá do entretenimento da “movida”, e de Paulo Rocha, cineasta nascido no Porto, “vulto da cultura” cujas obras digitalizadas vão ser exibidas até quinta-feira.

Num ano, o panorama cultural da cidade mudou, graças a uma nova dinâmica do pelouro da cultura do município, e  a mensagem do Porto/Post/Doc foi passando “muito à custa do boca a boca”. Num ano, as sessões semanais passaram a acontecer em duplicado: no Passos Manuel, onde começaram com A Mãe e o Mar, de Gonçalo Tocha, e no pequeno Auditório do Rivoli. Num ano, assistiram-se a enchentes, quase todas em filmes falados em português, como aconteceu no dia de arranque, ou com Cavalo Dinheiro, de Pedro Costa, com Uivo, homenagem póstuma de Eduardo Morais a essa enorme figura da rádio, António Sérgio, ou com Elena, da brasileira Petra Costa, que, como outros, teve direito a sessão dupla.

No fundo, nota Dario Oliveira, a programação de Há Filmes Na Baixa é uma espécie de Festival Porto/Post/Doc, - que regressa em Dezembro para reflectir sobre a adolescência –  mas sem secção competitiva, e prolongado ao longo do ano. Explorando e dando espaço à produção nacional e, assinala, ao que vai sendo feito na região, como se viu com os filmes de Pedro Neves, Rodrigo areias, Graça Castanheira, ou do próprio Gonçalo Tocha. “O cinema documental tem ganho espaço nos últimos dez, quinze anos, conseguindo boa aceitação do público” explica o programador que não abdica da intenção de transformar a associação numa produtora de documentários, mal seja possível.

Até lá, ganhar mais sócios é outro objectivo. Esta semana, quem se inscrever pode ver dez filmes por 20 euros. E pela frente, depois do Verão, na rentrée, o Porto/Post/Doc associa-se em Setembro ao D'bandada, mostrando música em documentários, olha para a arquitectura no mês dela, Outubro, e organiza em Novembro um Porto/Pré/Doc, para aquecer o coração dos cinéfilos para a segunda edição do festival. “Julgo que criámos uma marca, reconhecida pelas pessoas, e voltamos a dar espaço ao cinema como expressão artística, como linguagem pessoal, de um autor, com filmes que mexem com o pensamento, com o sentido crítico de quem os vê”, acredita o fundador da associação.

Atentendo à vontade de celebrar o cinema em torno de "um dos seus símbolos" em Portugal, Paulo Rocha é a grande âncora desta semana comemorativa, no Rivoli. Que nem se esgota na exibição dos filmes  - Verdes Anos, a sua obra de estreia na realização, nesta terça-feira, Mudar de Vida, na quarta, e o recente Se Eu Fosse Ladrão…Roubava, na quinta – todos em dose dupla, às 18h30 e às 22h.

Esta terça-feira, o cineasta Pedro Rocha explica à tarde como foi o processo de restauro destas obras, que esteve a seu cargo, por indicação do seu realizador, e à noite há uma apresentação desta que foi um dos filmes fundadores do Cinema Novo pelo arquitecto e documentarista Luís Urbano. Amanhã, as apresentações estão a cargo do cineasta  Saguenail, à tarde, e do crítico e professor Daniel Ribas, à noite. A um preço de três euros por sessão.

Para quinta-feira, dia de Se eu fosse ladrão... roubava, está agendado para as 17h um debate entre Paulo Cunha, Rodrigo Areias e Regina Guimarães, moderado por Daniel Ribas. Às 18h15, promete-se bolo e champanhe pelo aniversário do Porto/Post/Doc e, às 18h30, António Preto apresenta-nos o último filme do cineasta nascido há 80 anos, e que faleceu em 2012.

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