Ordem dos Arquitectos pede à câmara que "reconsidere" deslocalização da estátua O Porto

Considerada um símbolo da cidade, a estátua estava no terreiro da Sé, onde fora colocada no âmbito de um projecto do arquitecto Fernando Távora, já falecido.

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A estátua está na sua nova localização há uma semana Nuno A. Mendes

A Ordem dos Arquitectos - Secção Regional do Norte (AOSRN) entende que "deveria ter sido auscultada" pela Câmara do Porto, antes desta mudar, na semana passada, a estátua O Porto, do terreiro da Sé, para a Praça da Liberdade. E pede que a autarquia "reconsidere" a decisão.

O presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, já tinha assumido que nunca discutira a localização da estátua com o arquitecto Fernando Távora, antes deste ter morrido, em 2005. O autarca também não ouviu Siza Vieira ou Souto de Moura, autores do projecto de reabilitação da Avenida dos Aliados (conforme o próprio Siza confirmou ao site de notícias Porto 24) ou a AOSRN, que vem agora pôr em causa a decisão de alterar o projecto que Távora criou na Sé.

O arquitecto foi responsável pela construção da Casa dos 24, no terreiro da Sé, evocativa da antiga câmara da cidade, no século XV. Foi junto ao novo edifício que Távora colocou a estátua O Porto, voltada para uma área envidraçada do edifício, numa posição polémica e que Rui Rio confessou fazer-lhe "aflição", por entender que o guerreiro estava "de costas para a cidade" e longe do local de origem - a antiga Praça Nova, hoje Praça da Liberdade, encimando o edifício da câmara que ali existia, entre 1818 (ano em que foi criada) e 1916 (o ano em que o edifício foi demolido para se proceder à abertura da Avenida dos Aliados).

A OASRN recorda agora que o projecto de Fernando Távora foi "supervisionado e aprovado por todas as instituições públicas com tutela sobre a obra, foi reconhecido como trabalho de referência na recuperação do património arquitectónico nacional" e que se trata "de um projecto protegido ao aobrigo do Código de Direito de Autor". Além disso, defende, "este elemento escultórico, concebido para um enquadramento arquitectónico e simbólicos precisos" foi integrado na Casa dos 24 "com evidente oportunidade".

O comunicado refere ainda que não se pode promover a reabilitação urbana e "ignorar que a conservação e reabilitação do património arquitectónico português inclui, de forma inequívoca, o século XX", em concreto, "a arquitectura contemporânea que no Porto, sobretudo na segunda metade do século XX, obteve reconhecimento nacional e internacional e trouxe à cidade uma visibilidade que se traduz tanto no reconhecimento académico dos seus profissionais como no crescimento de um turismo especializado cada vez mais relevante na sua economia".

Por tudo isto, a OASRN "apela à Câmara do Porto para que reconsidere a decisão tomada", permitindo o regresso da estátua ao terreiro da Sé.

Na semana passada, o filho de Fernando Távora, José Bernardo Távora já afirmara ao PÚBLICO estar "chocado" com a decisão de Rui Rio de retirar O Porto da Sé. "Duvido muito que, quando chegou à câmara, o doutor Rui Rio soubesse o que era a estátua e onde é que ela estava. A verdade é que ela estava completamente esquecida nos jardins do Palácio de Cristal. [Na Sé] Estava num ponto alto e simbólico e agora está num ponto baixo e de lado... Este não é um acto isolado contra o trabalho do meu pai”, disse. 

 

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