Sá Fernandes admite que intervenção no piso do Jardim do Príncipe Real “correu mal”

Moradores sempre criticaram o tipo de pavimento utilizado na requalificação deste jardim do centro de Lisboa, em 2010. Quase quatro anos depois, o autarca admite o erro.

Foto
Pouco depois da reabertura do jardim, os bancos ganharam uma nova cor, branca, por causa do pó Nuno Oliveira

O vereador dos Espaços Verdes na Câmara de Lisboa, José Sá Fernandes, admitiu nesta quarta-feira que a intervenção no piso do Jardim do Príncipe Real, no centro de Lisboa, “correu mal”. Depois de quatro anos debaixo de fogo, sobretudo por parte de moradores da zona que criticam o tipo de pavimento colocado, o autarca diz esperar que o problema fique resolvido este ano. Só não diz como.

“O Jardim do Príncipe Real foi alvo de uma intervenção que considero positiva, mas infelizmente o que correu mal foi o piso”, reconheceu Sá Fernandes, em resposta à queixa de uma munícipe da freguesia da Misericórdia, na reunião descentralizada da câmara, que decorreu na quarta-feira à noite. Maria de Lurdes Oliveira de Jesus, moradora na Rua de O Século, diz que, “no Verão, o jardim tem pó de manhã à noite e, no Inverno, é um lamaçal”. E acrescenta: “Ninguém pode passar no meio do jardim, com os buracos.”

Há quatro anos, o jardim de 1,2 hectares junto à Rua da Escola Politécnica foi requalificado e o piso de alcatrão foi substituído por “Aripaq”, um pavimento de saibro estabilizado, feito à base de pó de vidro reciclado. A obra foi inaugurada em Maio de 2010, praticamente no dia a seguir ao fim dos trabalhos. Na altura, já sob alguma contestação, Sá Fernandes dizia ao PÚBLICO que só quem tivesse “memória curta” não veria as melhorias no piso.

Mas as vozes contra a intervenção municipal não se calaram. Mais de 300 pessoas assinaram uma petição, entregue na câmara, contra o piso de vidro reciclado, alegando que “a inalação continuada daquelas partículas de pó tornar-se-á, até prova em contrário, um grave problema de saúde pública”. O pedido não teve resposta. Dois anos depois, a câmara tentou remediar o problema, regando o piso com uma solução química agregadora da camada superficial, uma espécie de cola que evitaria o pó no ar. No entanto, em vários locais, o piso abateu e rachou, tornando-se perigoso para quem o frequenta.

Agora, quase quatro anos depois, Sá Fernandes reconhece o erro. “Foi tentada a rectificação, mas agora tem piorado e ainda não consegui resolver o assunto”, admitiu, perante cerca de 200 munícipes, na reunião destinada aos moradores das freguesias de Santo António, Misericórdia e Santa Maria Maior. “Espero que este ano a situação seja resolvida”, acrescentou, sem adiantar mais pormenores.

Jardim passa para a junta
Por não estar na lista de espaços considerados “estruturantes” pela Câmara de Lisboa, o Jardim do Príncipe Real é um dos espaços que a câmara vai transferir para a Junta de Freguesia da Misericórdia, em Março, ao abrigo da descentralização de competências. Sá Fernandes saiu ontem apressado da reunião antes de esta acabar, e recusou falar com jornalistas. O PÚBLICO questionou por escrito o gabinete de Sá Fernandes sobre qual a solução prevista, mas ainda não obteve resposta.

A presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira, defende uma nova intervenção no piso, que “está em mau estado”, mas também não sabe quais os planos do vereador. “Não falámos sobre o assunto”, afirma. Seja como for, quaisquer trabalhos que venham a ocorrer serão da responsabilidade da câmara, sublinha, acrescentando que vai pedir esclarecimentos a Sá Fernandes.

A reformulação do piso esteve a votos no Orçamento Participativo de Lisboa para 2014. A ideia foi repetida em 29 sugestões de diferentes cidadãos, agrupadas numa só proposta, que acabou por não ficar entre as mais votadas. Na altura, Jorge Pinto, membro do blogue Amigos do Príncipe Real, dizia ao PÚBLICO que apoiava a candidatura, mas entendia que este “é um problema que cabe à câmara resolver e que não deveria fazer parte de um orçamento proposto pelos cidadãos, uma vez que foi a câmara que criou o problema”.

Sugerir correcção
Comentar