Rui Moreira e a Feira do Livro do Porto

Há um ano, perguntei aqui a Rui Moreira: Que vai fazer da Feira do Livro do Porto? Assinar o decreto da sua extinção definitiva? Retomar o projecto cultural e querido do povo do Porto e outros mundos? O presidente responde à pergunta. Não com tretas politiqueiras. Com a reabertura da Feira do Livro. Nesse espaço ímpar que é o Palácio de Cristal de Rosa Mota.

Rui Moreira, o novo presidente da Câmara Municipal do Porto, tem demonstrado saber exercer as funções democraticamente, conhecer a cidade, suas virtudes e carências.

Como na altura o disse, é um político discreto. Ambicioso na busca de soluções para a cidade que dirige.

O  Palácio de Cristal está no centro da cidade. Ajardinado, habitado do verde de centenas de tílias, cedros, ciprestes. Lago, patos, pombos e pavões. Sobre o rio Douro.

Feira do Livro não é, nunca foi, só venda e compra de livros. Feira do Livro é um conceito. Ideia de cultura. Do que vai restando, quando tudo vai ficando para trás. Feira do Livro e das conversas: Com José Pacheco Pereira (O Livro Proibido é o Mais Apetecido). Lídia Jorge (O Silêncio da Guerra). Germano Silva (Do Mundo à Cidade).

A Feira não está ali por acaso. Lá mora a memória do primeiro Palácio de Cristal destruído pela ignorância e boçalidade autárquicas. As vitórias do hóquei em patins. A capela de Carlos Alberto, rei de Itália. A Biblioteca de Almeida Garrett, expoente da literatura portuguesa, homem do desembarque do Mindelo pela liberdade.

A Feira do Livro é dedicada, com toda a Justiça, a Vasco Graça Moura. Cidadão das letras, da democracia e liberdade.

Uma centena de lojas exibem milhares de livros. Alinham-se ao longo da Avenida das Tílias. O Douro corre lá em baixo. Da Feira, avista-se um enorme cartaz, na margem esquerda do rio, de fundo vermelho: “Olá, Porto”!

Quem procura livros, tem de tudo. A doçura da poesia. A profundidade da filosofia. A aridez do direito e a secura da economia. Tudo. Os frequentadores de livrarias, têm-nos a preços mais módicos. 20% de desconto. Livro do dia, até 40%.

O povo circula entre tílias e cedros, num fim de tarde quente de domingo. Não compra livros. Nunca houve dinheiro para livros. Há a festa do livro. Feira do Livro é festa do Povo. Livro é o “livro da vida”. Livro do dia-a-dia. Pavões impantes das penas multicolores partilham bocaditos de pão do lanche da catraiada. Cultos! Olham lojas e livros. Quem sabe se a seleccionar, escolher um livro. No fim, mesmo ao fundo de tanto livro, há o lago. Patos que se assenhoram dele. O  monumento de José de Sousa Caldas à “TERNURA”. Livros são ternura e o povo sabe. Sem chegar aos preços e aos livros.  

Festa da cultura e do povo que Rui Rio não promoveu nem realizou.

Os homens de “maior envergadura” e de “maior presença na sociedade”, como ele, podem envergar o fato de Presidente da República ou primeiro-ministro, ou os dois. Não lhes serve é o fato da cultura. “Envergadura” e “presença na sociedade” são critérios de peso e marketing. Não de cultura. Nem de política na cabeça. E a Feira do Livro do Porto é já “ velhinha”. Quase centenária. Sempre jovem. Cultura não tem idade. Cabe num lugar pequenino. Ou em nenhum lugar. A gente passa, é como se ela lá continuasse. Sem Rui Rio. Claro.

Tudo isso interiorizou Rui Moreira. Saúdo-o.

Procurador-Geral Adjunto

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