Restrições para carros poluentes na Baixa vão afectar um em cada cinco táxis de Lisboa

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Federação Portuguesa dos Táxis e cooperativas dizem que não foram consultadas pela câmara Adriano Miranda (arquivo)

Na capital portuguesa circulam entre 3400 e 3500 táxis, dos quais 20 por cento não poderão circular na Baixa de Lisboa quando entrarem em vigor as restrições de circulação aprovadas pela autarquia. Dentro de mês e meio, os carros sem catalisador ficarão impedidos de andar no eixo Av. da Liberdade-Terreiro do Paço.

Os táxis terão mais tempo para se adaptarem, uma vez que essa medida só se aplicará a eles a partir de Janeiro de 2012, mas mesmo assim os profissionais do sector pedem mais tempo e consideram que estas acções ambientais deveriam ter sido preparadas de outra maneira.

"Corre-se o risco de introduzir grande confusão na actividade", considera Pedro Lopes, presidente de uma das duas cooperativas de Lisboa, a Rádio Táxis, que tem uma frota de 710 viaturas, das quais 110 deixarão de poder circular na Baixa lisboeta. "O que é que acontece quando um passageiro pedir um serviço [para a Baixa] e o carro disponível for dos mais antigos? E o que dizer aos que começam a viagem noutro ponto da cidade e se dirigem para a Baixa? Vamos deixá-los a meio do caminho e dizer ao cliente que a partir dali tem de apanhar outro transporte?"

Pedro Lopes classifica como uma "hipocrisia" a proposta aprovada anteontem, com os votos contra do PCP e do CDS-PP, entendendo que há alternativas mais eficazes no combate à poluição. Algo que, aliás, o programa de execução do Plano de Melhoria da Qualidade do Ar reconhece, quando coloca as chamadas zonas de emissões reduzidas em 11.º lugar, numa lista de hierarquias e de viabilidade.

Acap duvida do impacto

O líder da Rádio Táxis, que trabalha com cerca de 1300 profissionais, lamenta que as entidades representativas do sector não tenham sido sequer consultadas, porque o pacote aprovado pelo executivo de António Costa "terá implicações no conforto dos cidadãos" e na rentabilidade do negócio dos táxis, "que já não está muito bem".

Os operadores com matrículas anteriores a Janeiro de 1993 só terão dois caminhos: ou instalam catalisador ou abatem as viaturas e renovam a frota. Seja como for, serão operações dispendiosas, segundo Pedro Lopes, e difíceis de concretizar em seis meses.

A hipótese de manter a frota como está será impraticável, até porque a câmara irá alargar, de forma gradual, as restrições desenhadas para a Baixa à restante cidade de Lisboa. Além disso, a autarquia irá incluir, nos próximos três anos, carros mais recentes neste pacote de restrições na zona da Baixa: em 2012, o coração de Lisboa ficará vedado aos ligeiros até 1996 e aos pesados até 2000; em 2014, só os veículos com matrícula de 2000 em diante poderão circular no centro sem o risco de os condutores serem multados.

Na véspera da aprovação da medida no executivo de Lisboa, o Automóvel Clube de Portugal pôs em dúvida a eficácia destas restrições, tendo em conta que serão poucos os carros anteriores a 1993 sujeitos às novas normas. Dados pedidos pelo PÚBLICO e entretanto divulgados pelo Instituto da Mobilidade e dos Transportes Terrestres referem que há 1.071.246 viaturas com matrículas anteriores a 1993. Porém, esse valor - que representa 12 por cento dos 8,89 milhões de carros matriculados em Portugal - são nacionais, não se sabendo quantos são os que circulam na região de Lisboa. Também Hélder Pedro, secretário-geral da Acap - Associação Automóvel de Portugal, que representa o sector automóvel nacional, considera que a decisão da autarquia "é positiva como exemplo", mas estima que "o impacto não será grande".

Já os profissionais dos táxis antecipam que virá aí confusão e problemas acrescidos. Isto porque a maioria das viagens de táxi são feitas dentro da cidade. "A taxa média de serviço é de cinco euros. São viagens curtas, muitas delas no centro e na Baixa, e que deixarão de poder ser feitas por aqueles cuja viatura seja abrangida pela restrições", frisa Pedro Lopes.

Adiar para o fim de 2012

Florêncio de Almeida, presidente da Associação Nacional de Transportadores Rodoviários em Automóveis Ligeiros (ANTRAL), alega que "neste momento em que o país está de tanga é injusto obrigar a substituir viaturas". A melhor solução para cumprir as restrições será, segundo este dirigente, renovar a frota, mas a ANTRAL opõe-se ao calendário fixado pela autarquia. A associação apresenta números ligeiramente diferentes dos da Federação Portuguesa do Táxi (FPT), estimando que haja 3400 táxis na capital, mas calcula os mesmos 20 por cento de matrículas anteriores a 1993.

O líder da FPT, Carlos Ramos, estima que sejam 3500 os veículos de aluguer a operar em Lisboa, mas coincide na percentagem de viaturas afectadas. Logo, existirão entre 680 a 700 táxis para adaptar, isto só levando em conta a primeira fase do sistema de emissões Euro I. Por isso, este dirigente que também pertence à Autocoop - Cooperativa de Táxis de Lisboa, defende a necessidade de adiar a medida pelo menos até ao fim de 2012. "Não discordamos da ideia, porque também pode ter benefícios para o sector, mas é preciso mais tempo para os profissionais adoptarem uma solução ao seu alcance", afirma Carlos Ramos. A Autocoop possui duas dezenas de carros para adaptar.

Já Florêncio de Almeida reclama "dois a três anos" para que os profissionais consigam investir na substituição dos veículos e remata: "É mais uma campanha de marketingdo que outra coisa".

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