Rede portuguesa de cidades inteligentes precisa de dar o salto, defende Almeida Henriques

Na véspera de um seminário internacional, em Gaia, o presidente da Rener LL desafia as restantes 39 cidades da rede a formarem uma associação, e lutarem por projectos europeus de maior escala.

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A Rener LL teve a sua origem na rede de cidades envolvidas no projecto da mobilidade eléctrica Fernando Veludo N/Factos

A Rede Portuguesa de Cidades Inteligentes precisa de sair do informalismo, deixar de ser apenas uma entidade de “lobby positivo” em torno dos temas da inovação em meio urbano e ganhar capacidade para lutar pelo financiamento directo europeu para projectos de maior escala. O actual presidente da Rener LL, o autarca de Viseu, Almeida Henriques, vai desafiar os seu homólogos das restantes 39 câmaras da rede a criarem uma associação, à semelhança da que já existe em Espanha.

A Reci – rede espanhola de cidades inteligentes, é uma associação de dezenas de municípios espanhóis apostados em experimentar soluções que melhorem a capacidade de gestão dos seus territórios e a vida dos seus cidadãos. Preside a este organismo Iñigo de la Serna, autarca de Santander, que é um dos convidados do seminário internacional “Cidades Inteligentes – é tudo uma questão de pessoas”, que decorre esta sexta-feira em Vila Nova de Gaia. Ali se juntarão especialistas e agentes – municipais, empresariais e do universo da investigação aplicada – numa iniciativa que é organizada pela REner LL e pela Inteli, a entidade que tem puxado pela rede portuguesa e que criou já um mapa da inovação nacional que serve o dia-a dia das cidades.

O objectivo deste encontro é, precisamente, mostrar que o conceito smart city não é um título futurista, mas que toca já na vida dos cidadãos, um pouco por todo o mundo. E Almeida Henriques não tem dúvidas de que, passadas as fases da infraestruturação básica e dos equipamentos, os municípios, têm de se virar para uma terceira geração de políticas, mais centrada na qualidade dos serviços, na gestão sustentada dos recursos e na criação de condições para o desenvolvimento económico, com enfoque, neste caso, no espaço urbano. Recorrendo, na medida do possível aos fundos do programa Portugal 2020 e a outras linhas de financiamento europeu disponíveis.

A Rener LL nasceu como uma rede de cidades apostada na mobilidade eléctrica, a partir do projecto Mobi E, durante o Governo de José Sócrates. Esta questão não saiu da agenda do grupo, alargado entretanto de 25 para 40 municípios, mas a Inteli decidiu abrir os horizontes deste consórcio. Questões como a mobilidade, a gestão do tráfego e dos resíduos urbanos, a monitorização ambiental e de outros parâmetros da vida urbana, bem como a utilização dos dados para apoio à decisão política são alguns dos temas na agenda das smart cities. Em Portugal, há alguns projectos em curso, mas o grosso das câmaras tem apostado sobretudo na eficiência energética, assunto com impacto orçamental evidente. Almeida Henriques dá o exemplo de Viseu, que gasta cinco milhões de euros por ano com esta factura, e pretende, em 8 anos, cortar um milhão à despesa.

A União Europeia tem um programa específico para a inovação em espaço urbano e, para o autarca de Viseu, para chegar a esses fundos, a rede portuguesa precisa de ganhar estatuto e escala. No seminário de sexta-feira será assinado um protocolo de colaboração com a RECI espanhola, mas Almeida Henriques propõe também a criação de uma liga de cidades inteligentes onde se fale português, olhando não apenas para o Brasil, onde Curitiba e o Rio de Janeiro têm dado cartas nesta área, mas também para África. Em áreas menos desenvolvidas, assinala, estes projectos podem gerar “saltos qualitativos”, com impacto na vida das pessoas.

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