Quantos segredos tem Braga? Neste livro desvendam-se 56

O livro Braga Top-Secret mostra a cidade além do óbvio e propõe um novo olhar sobre muitos dos lugares por onde se passa todos os dias e uma incursão pelo seu património imaterial.

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Eduardo Pires de Oliveira foi o primero em Portugal a entrar num doutoramento em Historia de Arte sem ter licenciatura Manuel Roberto

Poucos depois de ter comprado o livro “Braga Top-Secret” houve uma leitora que se aproximou do seu autor, Eduardo Pires de Oliveira, e confessou: “Já ali tinha passado tantas vezes, mas nunca tinha percebido a beleza”. Falava do canto da Igreja dos Congregados, entre a Avenida Central e a Congosta da Palha. Aquele elemento é um exemplo da mestria do arquitecto do barroco minhoto, André Soares, que desenhou 25 linhas num único pormenor da fachada, conferindo-lhe uma sensação de movimento impressionante.

A cornija dos Congregados é um dos segredos de Braga desvendados em Braga Top-Secret, uma espécie de guia para uma visita alternativa à cidade. Como esta leitora, muitos bracarenses e visitantes terão passado em vários dos lugares propostos nesta obra sem nunca se aperceberem de alguns dos pormenores para que Eduardo Pires de Oliveira aponta. “As pessoas olham mas não vêem, porque não param. Seja parar com as pernas, ou a corrente do pensamento”, defende o autor. “Não vêem porque ninguém as ensinou a olhar”, acrescenta. E é isso que este historiador de arte aqui tenta fazer.

Em Braga Top-Secret percorrem-se vários exemplos do património bracarense, desde a Casa de Fresco, no parque do santuário do Bom Jesus – construída no século XVIII para o jardim do palácio de D. José de Bragança e comprada, em 1919, pela confraria do Bom Jesus –, ao Salão Egípcio, a antiga sede do Sindicato dos Trabalhadores do Comércio, em estilo revivalista, de 1936, passando pelo arco gótico com inscrição hebraica, que é um dos raros exemplos da passagem dos judeus pela cidade, actualmente localizado na Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva.

Este é um livro para mostrar Braga para além do óbvio e, por isso, a noção de património local não se fica apenas por edifícios e obras de arte. “Nunca há guias globais. As pessoas não misturam o património natural com o cultural”, lamenta Eduardo Pires de Oliveira, que aqui neste livro tenta fazer o contrário.

Entre os 56 segredos da cidade que se podem encontrar em Braga Top-Secret há espaço para o património natural, como as árvores monumentais (um pinheiro bravo e dois cedros na cerca do Mosteiro de Tibães ou um plátano e carvalho alvarinho no parque do Bom Jesus, por exemplo) ou a nascente do Este, o rio que atravessa toda a cidade, em S. Mamede de Este; bem como a gastronomia, com destaque para o pudim Abade de Priscos ou a receita de maçã porta-da-loja, uma espécie minhota que a tradição na região Norte do concelho – na área do antigo couto do mosteiro de Tibães – manda assar no borralho e servir em malga, polvilhada de açúcar, antes de ser coberta com vinho verde tinto, na noite de consoada.

Pires de Oliveira é o autor do texto deste livro e é dele a escolha dos segredos aqui reunidos. São 56 “por acaso”. “Tínhamos a noção que o livro não poderia ser muito grande”, explica. Mas o historiador já tem ideias para um eventual segundo volume para o qual, garante, Braga tem material: “Vamos aos bocadinhos, nada de overdoses”. Quanto às fotografias publicadas ao longo das 140 páginas da obra são de Libório Manuel Silva. Esta é a segunda colaboração entre os dois autores, depois de A Braga de André Soares, um volume bilingue, editado em Maio, dedicado à obra do arquitecto do século XVIII, que vai na segunda edição. Já Braga Top-Secret foi editado apenas em português. “É um livro muito local”, justifica Pires de Oliveira. “Mas se a Câmara de Braga, o Turismo de Braga, quiserem aceitar o desafio de ser eles próprios a transformar este livro num novo roteiro do turismo bracarense, essa pode ser uma opção a considerar”, desafia.

Especialista no período barroco
O livro sobre os segredos de Braga é apenas o último de Eduardo Pires de Oliveira. Ao longo de 30 anos passados a estudar o património da região, há mais de 150 publicações da sua autoria. A maioria delas são dedicadas ao período do rococó e do barroco e ao seu maior expoente no Minho, o arquitecto André Soares.

André, como lhe chama depois de meia vida de convívio, foi a figura que o levou a interessar-se por esse período histórico. E também o tema da sua tese de doutoramento em História da Arte, concluída há dois anos e meio, e que parte da recolha feita ao longo de anos nos arquivos distritais de Viana do Castelo e de Braga, nas dezenas de confrarias da região e em igrejas e capelas, palácios e casas senhoriais.

Quando começou a escrever a tese, Pires de Oliveira tinha um arquivo de 70 mil fichas e quatro mil slides. Por isso, foi a primeira pessoa em Portugal a ser admitido a doutoramento em História da Arte sem ter licenciatura mas sim pelo seu currículo relevante.

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