PS acusa Carmona Rodrigues de provocar eleições intercalares

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A oposição da CML acusa Carmona de estar a criar cenário para eleições antecipadas David Clifford/PÚBLICO

O PS de Lisboa acusou o presidente da Câmara, Carmona Rodrigues (PSD), de ter "provocado" condições para eleições intercalares na autarquia, após ter acusado a oposição de "truques palacianos e anti-democráticos".

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa criticou ontem a oposição, classificando de "truques palacianos e anti-democráticos" a discussão sobre a eventual realização de eleições intercalares, durante uma reunião extraordinária da Assembleia Municipal para debater a actual situação da autarquia, na sequência das investigações judiciais no âmbito do caso Bragaparques.

"Deixem-nos trabalhar", disse Carmona Rodrigues, dirigindo depois críticas a todos os partidos da oposição (PS, CDU, Bloco de Esquerda e CDS-PP), questionando "partido a partido" se estariam em condições de "assumir as suas responsabilidades".

Declarações de Carmona são "um virar de página"

Hoje, num debate entre todas as forças políticas, no Rádio Clube Português (RCP), o líder da vereação socialista na autarquia, Dias Baptista, considerou que as declarações de Carmona Rodrigues marcaram "um virar de página".

"Esperávamos que o presidente nos viesse dizer qual é o seu programa, mas Carmona Rodrigues veio fechar as portas", criando um "ponto final na margem de manobra do executivo para liderar", sustentou o socialista.

"Foi uma provocação para eles próprios [PSD] criarem condições para eleições intercalares. Foi uma postura crítica, de contra-ataque. Foi o PSD que ontem [terça-feira] indiciou eleições intercalares", sublinhou o vereador Dias Baptista.

O socialista lembrou que o PSD tem maioria relativa no executivo municipal e que, "sozinho, não vai conseguir fazer passar qualquer proposta".

O vereador da CDU Ruben de Carvalho sustentou que Carmona Rodrigues "foi para a Assembleia Municipal fazer afirmações lamentáveis no tom, no discurso".

"Foi o anti-discurso do que seria preciso", referiu o vereador comunista, que defendeu que "há que manter serenidade independentemente dos erros e das irresponsabilidades dos outros".

"Não venha o senhor presidente dizer infelizes frases como 'deixem-nos trabalhar', porque não foi a oposição que não o deixou trabalhar", acrescentou Ruben de Carvalho.

A vereadora do CDS-PP Maria José Nogueira Pinto sublinhou que "o que o presidente disse não fez sentido e é um conjunto de inverdades", manifestando a sua "surpresa" com o discurso "de tiro ao alvo e de insultos" de Carmona Rodrigues.

Nogueira Pinto afirmou o autarca social-democrata "foi fazer-se de vítima e dizer que pode fazer tudo, mas não o deixam", e considerou que as declarações do presidente foram "bastante infantis e patéticas".

Dirigindo-se à vereadora do PSD Marina Ferreira, a vereadora do CDS-PP sublinhou que sem o seu voto "os senhores não governam a Câmara de Lisboa".

"Eu dou o meu voto à cidade, não ao executivo. A confiança e a lealdade não são bilaterais? Com este discurso, o senhor presidente legitimou-nos a não darmos o voto em coisas duvidosas", referiu.

Também o vereador eleito pelo BE, José Sá Fernandes, acusou o executivo PSD de ter uma "constante falta de colaboração com a oposição" e afirmou que Carmona Rodrigues disse "uma data de mentiras", referindo-se ao anúncio da reabertura do túnel do Marquês e à realização de uma sindicância aos serviços do Urbanismo.

Discurso de Carmona motivado por "uma posição mais parlamentar"

A vereadora da Mobilidade na autarquia lisboeta, Marina Ferreira (PSD), justificou o discurso do presidente com "uma posição mais parlamentar", numa reunião marcada propositadamente para debater a situação política da CML.

Durante o debate toda a oposição admitiu a realização de eleições intercalares, uma hipótese rejeitada pela vereadora do PSD, que recusou a existência de instabilidade no executivo.

Dias Baptista considerou que "se não estiverem reunidas as condições para o município funcionar, é necessário criar condições para que isso seja alterado", garantindo que os socialistas estão "preparados" para essa possibilidade.

O comunista Ruben de Carvalho defendeu que as eleições intercalares "são uma solução perfeitamente legítima, prevista no ordenamento jurídico", constituindo "uma resposta excepcional para uma situação excepcional".

O vereador da CDU considerou que o executivo "não pode ficar eternamente numa situação de incerteza", que não poderá arrastar-se "por mais que um tempo legítimo", que considerou ser de "semanas".

Sá Fernandes reiterou que "não há outra solução", afirmando que este tem sido "um ano trágico" para a Câmara de Lisboa.

Apesar de considerar que as eleições intercalares "não são a melhor solução", Nogueira Pinto admitiu que podem ser "a única solução possível, porque esta maioria assim o quis".

A vereadora Marina Ferreira negou que exista instabilidade na autarquia, reconhecendo que a situação actual, na sequência das investigações judiciais, "é insólita".

Sobre a possibilidade de suceder a Carmona Rodrigues na presidência da autarquia, Marina Ferreira, que é a terceira nas listas do PSD, a seguir ao vice-presidente, Fontão de Carvalho, escusou-se a comentar essa hipótese, mas afirmou que "o nosso ordenamento jurídico autárquico prevê a substituição nas listas".

"Não vemos qualquer razão para que em Lisboa se verifique um golpe de Estado palaciano. Temos uma lista coesa e um partido coeso", disse, acrescentando que o PSD "tem sido claríssimo na forma como gostaria de gerir" a CML.

Marina Ferreira recordou que o executivo social-democrata sempre defendeu a governação através de "um pacto de governabilidade" com todos os partidos, mas que tal "não tem sido possível alcançar".

"Nas grandes questões da cidade, tentamos que seja possível um grande alcance", sustentou.

A vereadora sublinhou, no entanto, que, "com ou sem pacto, o PSD tem condições para levar o mandato até ao fim".

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