Protesto frente ao IHRU no Porto pela "suspensão imediata" do aumento de rendas

Moradores contestam actualização de preços em bairros que, em muitos casos, não têm obras há décadas.

Foto
Preço das rendas nos bairros do IHRU em todo o país vão ser actualizadas, em valores que estão a ser contestados Nuno alexandre Mendes

Cerca de 150 pessoas de bairros do Instituto da Habitação e da Reabilitação Urbana de Guimarães, Porto, Barcelos e Viana do Castelo concentraram-se hoje junto ao IHRU, no Porto, para exigirem a "suspensão imediata" do aumento de rendas.

"A suspensão imediata dos aumentos brutais das rendas que se encontram em aplicação" e "a realização de todas as obras de melhoramento necessárias nos bairros" são as duas principais reivindicações que constam de uma moção que os moradores das quatro cidades aprovaram e fizeram chegar aos responsáveis do IHRU.

Em causa está o "Novo Regime da Renda Apoiada para a Habitação" aprovado na Assembleia da República (AR) em outubro, mas que carece de ratificação pelo presidente da República. A manifestação de hoje serviu para que as comissões formadas em quatro cidades - Guimarães, Porto, Barcelos e Viana do Castelo - manifestassem o seu desacordo com aumentos que dizem "ultrapassar em alguns casos os 1000% e os 2000%".

"Esta lei facilita os despejos", "obras sim, aumentos não" e "estes prédios são o rosto do Governo" foram algumas das frases que ilustravam os cartazes e faixas na manifestação que chegou a necessitar de intervenção policial, uma vez que uma comissão de representantes quis entregar aos responsáveis do IHRU a moção mas, inicialmente, apenas estava autorizada a entrada de uma pessoa, quando os proponentes do documento exigiam a entrada de quatro, um de cada cidade.

Após algum tempo, numa altura em que o protesto endureceu, ouvindo-se frases de ordem como "Governo ladrão, Moradores vencerão", os representantes da comissão de moradores foram autorizados a entrar nas instalações."Ficou combinado marcar uma reunião em breve", informou, ao sair do IHRU, António Pereira, morador do bairro de Ramalde do Meio, do Porto, e um dos promotores desta iniciativa.

Vários moradores descreveram aos jornalistas situações de casas com infiltrações de água, estores caídos, falta de isolamento, entre outros problemas. "O que nós queremos não é deixar de pagar rendas. É que primeiro se recuperam as casas. O IHRU é do Estado e é vergonhosa a forma como vivem algumas famílias. Depois queremos negociar rendas possíveis de pagar conforme os rendimentos dos agregados familiares", disse da comissão de moradores de Barcelos, Vasco Santos.

O deputado do PCP na AR Jorge Machado marcou presença no protesto "em solidariedade" com os moradores, bem como o deputado municipal do Porto José Castro, do BE. O comunista considerou o aumento das rendas "completamente injusto", defendendo que "viola a Constituição" porque, conforme afirmou, "está em causa o direito à habitação" nela consagrado.

Já o deputado municipal do BE avançou que os bloquistas têm vindo a "alertar para a grande necessidade de esta questão ser repensada", lamentando que "o Governo olhe para alguns cidadãos como de segunda categoria". A 15 de outubro um grupo de moradores dos bairros do Estado no Porto reuniu-se com a presidente da AR e vários grupos parlamentares para entregar uma petição com "duas mil" assinaturas a pedir a "revisão" do Regime de Renda Apoiada e a "suspensão da atualização das rendas".

Em Julho os moradores dos bairros do IHRU de Gondar e S. Gonçalo, Guimarães, interpuseram uma acção judicial a pedir a "ilegalidade" e anulação dos atuais contratos de arrendamento que aplicam a regra da renda apoiada.

Sugerir correcção
Comentar