Presidente do Eixo Atlântico diz que cimeira foi “milagre do comboio”

"No dia 13 de Maio demos um salto enorme do século XIX para o século XXI", afirmou José Maria Costa, que também preside à Câmara de Viana do Castelo.

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O presidente da Câmara de Viana é o actual líder da associação luso-galaica de municípios Luís Efigénio/NFactos/Arquivo

O presidente do Eixo Atlântico disse nesta quarta-feira que a Cimeira Luso-Espanhola realizada em Madrid, a 13 de Maio, representou o “milagre do comboio”, face à confirmação do arranque de ligações ferroviárias mais rápidas entre Porto e Vigo.

“Sou um homem de fé e todos sabemos da importância do 13 de Maio em Portugal. Tivemos o milagre do comboio. Ou seja, no dia 13 de Maio demos um salto enorme do século XIX para o século XXI”, afirmou José Maria Costa. O também autarca de Viana do Castelo e presidente do Eixo Atlântico recordou que há precisamente dois anos o anúncio era o de encerramento - Junho de 2011 -, da ligação ferroviária entre Porto e Vigo, as duas maiores cidades da eurorregião formada pelo Norte de Portugal e a Galiza.

“Este foi um trabalho árduo e difícil de dois anos”, recordou José Maria Costa, congratulando-se com o desfecho agora alcançado.
Com a anunciada ligação directa entre Porto e Vigo, mantendo ainda um serviço com as paragens actuais, a viagem será reduzida de mais de três horas para as previstas duas horas e quinze minutos. “Estava em jogo a economia da região”, sublinhou o autarca português, durante uma conferência de imprensa realizada na sede do Eixo Atlântico, em Vigo, Galiza.

Os responsáveis do Eixo Atlântico, entidade que defende os interesses das maiores 34 cidades do norte de Portugal e da Galiza, asseguram que além desta ligação directa, da cimeira surgiu a garantia, dos governos de Portugal e Espanha, de electrificação de toda a linha ferroviária até 2016.

A CP e a congénere espanhola Renfe acordaram na introdução, a partir do Verão, de um comboio directo diário entre Porto e Vigo nos dois sentidos e de um bilhete único nessa ligação ferroviária, segundo a declaração final da XXVI Cimeira Luso-Espanhola, realizada na segunda-feira em Madrid. Na declaração final dessa cimeira ficou inscrito “o objectivo de, tão próximo quanto orçamentalmente possível, as duas capitais regionais terem um serviço de qualidade capaz de ser competitivo, em tempo e em custo, com a ligação rodoviária actual, contribuindo assim para a redução do impacto ambiental e sustentabilidade económica desta infra-estrutura ferroviária”.

A mesma declaração não refere qualquer data para a entrada em funcionamento da interoperabilidade dos sistemas electrónicos de cobrança de portagens nos dois países. O tema da interoperabilidade dos sistemas está em debate entre os dois Governos há mais de um ano e tem sido alvo de sucessivos adiamentos devido, segundo disse à Lusa fonte diplomática, a questões “técnicas” que continuam por resolver.

Já na cimeira do Porto, há um ano, os dois governos se comprometeram a ter a funcionar um sistema que pudesse ser usado, em paralelo, nos dois países. O compromisso inicial era de que o sistema estaria implementado no Verão de 2012, tendo o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Monteiro, anunciado este mês que isso deverá ocorrer antes do Verão deste ano.

A declaração final de cimeira congratula-se com “os avanços acordados” neste processo, que “favorecerá, ainda mais, a circulação dos cidadãos e o desenvolvimento económico entre ambos os territórios”, mas não faz qualquer referência a quando o processo de integração dos sistemas estará em vigor.
 

PS-Braga critica “vistas curtas” do Governo

A Federação de Braga do PS também se pronunciou nesta quarta-feira sobre a cimeira, acusando o Governo português de ter “pequena cabotagem e vistas curtas”, por “mais uma vez adiar” a modernização da Linha do Minho, ficando-se pelo anúncio de um comboio directo entre Porto e Vigo.

“Em vez de assumir definitivamente o arranque das obras, o senhor ministro da Economia vem, com inusitada pusilanimidade, anunciar a ‘importante medida’ de criação de um comboio directo Porto-Vigo a partir do Verão”, refere, em comunicado, aquela federação. Os socialistas de Braga sublinham que a ligação directa se fará “com os mesmos velhos e gastos carris, com as depauperadas travessas, com as mesmas vetustas composições e locomotivas a exalar gasóleo negro pelos verdes campos do Minho”. “E com as mais de duas horas para percorrer tão poucos quilómetros”, acrescenta o comunicado.

Quanto ao compromisso assumido por Portugal e Espanha de “agilizar os recursos disponíveis que permitam finalizar a electrificação de todo o trajecto até 2016”, o PS de Braga comenta que, “em vez de assumir a importância da modernização da Linha do Minho para a economia regional, com rápido fluxo de pessoas e mercadorias, reforço do intercâmbio e relações com a vizinha Galiza, o Governo vem mais uma vez adiar o urgente e inadiável, agora com nova data de 2016, em que já ninguém acredita”.

A distrital socialista de Braga considera ainda que, ao apontar como decisão estratégica o “velho comboio” com ligação directa, “o Governo posterga implicitamente a coesão sub-regional, não considerando urgente definir a interoperabilidade com as capitais distritais Braga e Viana do Castelo e, destas, com os territórios envolventes”.

Critica igualmente a “omissão”, no contexto da Cimeira Ibérica, “em reafirmar concretamente a importância estratégica” para Portugal do Laboratório Ibérico de Nanotecnologia, instalado em Braga. Um equipamento que, defendem os socialistas, “em circunstância alguma deverá ver afectada a sua actividade, pelo desvio sub-reptício e ilegal de fundos comunitários, da Região Norte para Lisboa”. “A Federação de Braga do PS contesta e lamenta esta governação, de pequena cabotagem e de vistas curtas, que, de forma dramática, prejudica a nossa região, tolhe o potencial do nosso crescimento económico e social e desaproveita o nosso capital humano e das nossas empresas e organizações”, remata o comunicado.
 
 
 
 

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