Presidente da Câmara do Porto diz que Cavaco Silva tem “dificuldade em interpretar as inquietações dos portugueses”

Rui Moreira repete que Rui Rio poderá ser um bom primeiro-ministro, mas não agora.

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Para Moreira, Rui Rio “não é um fantasma” que paira sobre a câmara e a cidade Nélson Garrido

O presidente da Câmara do Porto, Rui Moreira, defende que é necessário “que se pense com muito cuidado sobre qual o papel do Presidente da República no futuro”. Isto porque, neste momento, afirmou nesta quarta-feira o autarca no Fórum da TSF, no dia em que celebra um ano de mandato, “até esse órgão de soberania é questionado pelos portugueses”. Moreira poupou Passos Coelho e repetiu elogios comedidos a Rui Rio, mas não disse nada de favorável sobre Cavaco Silva.

Moreira até considerou que o Presidente “tem feito o seu melhor”, mas as coisas não estão a correr bem. “O senhor Presidente da República tem tido alguma dificuldade em interpretar as inquietações dos portugueses”, afirmou o autarca do Porto, defendendo que a situação actual “é preocupante”. Tanto mais, disse, que a Presidência da República parece ter caído de um patamar de credibilidade que sempre conseguira manter. “Este era sempre um órgão de soberania extraordinariamente respeitado pelos portugueses, e agora até esse órgão de soberania é questionado pelos portugueses”, disse.

O autarca foi mais benevolente com o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, defendendo que este tem tido “uma tarefa muito difícil”. “Não julgo que seja legítimo pensar que os governantes estão para fazerem mal”, afirmou Rui Moreira, argumentando que Passos Coelho, no momento em que chegou ao poder, foi confrontado com “uma equação […] de um país em situação de emergência”. O único erro que o autarca admitiu apontar ao governante foi o de não ter feito, na altura, “um diagnóstico real aos portugueses”. “Estávamos metidos num caldeirão infernal”, disse.

Em resposta ao jornalista da TSF, Rui Moreira garantiu que o anterior presidente da Câmara do Porto, Rui Rio, “não é um fantasma” que paira sobre a câmara e a cidade e repetiu que este “tem condições para ser primeiro-ministro”. Mas, talvez influenciado pelas últimas notícias, com Rui Rio a demarcar-se de qualquer movimento para a realização de eleições primárias no PSD ou da preparação de uma eventual candidatura à liderança do partido, Moreira afirmou: “Com os actuais constrangimentos e no actual calendário político, não me parece que [a candidatura de Rio] seja um cenário possível, mas quem sou eu para fazer premonições sobre o futuro do doutor Rui Rio?”.

Aos portuenses, Rui Moreira deixou a garantia de que não irá abandonar a presidência da câmara — “eu não sairei daqui para outro cargo, não terei qualquer papel na política nacional, a nível partidário ou do Governo” — e não se mostrou preocupado com uma eventual saída de António Costa da Câmara de Lisboa, considerando que, nesse caso, ele será substituído por Fernando Medina, “um homem do Norte”, pelo que não antevê qualquer problema de relacionamento com a autarquia da capital.

As quase duas horas que Rui Moreira esteve no ar a responder a perguntas do jornalista da TSF e dos cidadãos chegaram ainda para fazer uma curta análise ao novo partido anunciado por Marinho e Pinto, o Partido Democrático Republicano. Recusando chamar “populista” a Marinho e Pinto, o autarca considerou que o novo partido “responde mais a uma inquietação da cidadania do que a uma alternativa”, o que pode ser preocupante: “Se os cidadãos votam contra qualquer coisa e não a favor, então a democracia está doente”, disse.

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