Presidente da Câmara do Porto critica EDP por ter cortado a luz nos bairros sociais

Rui Moreira lamenta ter sido informado pela comunicação social e condena a actuação dos técnicos que se fizeram acompanhar por forte dispositivo policial.

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Rui Moreira disse estranhar a coincidência dos cortes de luz e do fecho da unidade de saúde na freguesia de Campanhã, freguesia que o autarca elegeu como prioridade do mandato, dada a situação de especial fragilidade social que a caracteriza Paulo Pimenta

O presidente da Câmara do Porto (CMP), Rui Moreira, criticou este sábado o modo como a EDP procedeu aos cortes de electricidade esta semana a largas dezenas de lares dos bairros sociais da cidade.

“A nossa preocupação principal é que a CMP não foi informada”, sublinhou o autarca, à margem de uma visita ao Bairro São Vicente de Paulo, na freguesia de Campanhã, que serviu para marcar o arranque das obras de requalificação daquele conjunto habitacional. “A CMP e os seus eleitos devem pelo menos ser informados previamente do que sucede, e nós não fomos informados. Não pode ser. O povo do Porto não pode ser informado através dos fornecedores de serviços daquilo que lhes vai suceder”, acrescentou.

Ladeado pelo socialista Manuel Pizarro, vereador da Habitação e Acção Social, Rui Moreira  lamentou também não ter sido informado do fecho da unidade de saúde familiar do centro de saúde de Azevedo de Campanhã. A Administração Regional de Saúde do Norte anunciou nesta sexta-feira que, a partir de segunda-feira, aquela estrutura fica encerrada, por falta de condições de segurança e salubridade.

O encerramento foi comunicado um dia depois dos cortes de energia no Bairro do Lagarteiro – cuja população é servida por aquela unidade de saúde – o que indignou a população. Para além do Lagarteiro, a EDP efectuou cortes de energia nos bairros de Contumil e do Cerco do Porto.

A EDP Distribuição garantiu ao PÚBLICO que os cortes em causa visaram apenas as ligações clandestinas, e não as dívidas. Ontem, contudo, os jornalistas puderam confirmar que quase todas as ligações ilícitas já foram repostas no bairro, por moradores que insistem que as pessoas não pagam porque não podem.

A unidade de saúde familiar de Azevedo de Campanhã também foi ontem palco de uma manifestação que reuniu cerca de meia centena de pessoas, que admitiam ocupar o equipamento para que este não encerrasse definitivamente na segunda-feira, mas que, às 20h, acabaram por acatar o convite da polícia para abandonarem as instalações da unidade, permitindo que ela fechasse à hora normal.

“Pessoas que vivem nos bairros não são diferentes de nós”

A forma de actuação da EDP, cujos técnicos se fizeram acompanhar por mais de 30 agentes da PSP para realizar a acção no Bairro do Lagarteiro, também foi criticada por Rui Moreira. “Acima de tudo, nestas matérias é preciso dividir aquilo que é uma intervenção legítima, quando se impõe, e aquilo que é a sensibilidade social que é preciso ter”, referiu. “As pessoas que vivem nos bairros não são diferentes de todos nós. A CMP tem de ser informada do que se passa. Não pode ser informada através da comunicação social sobre situações desta natureza”, defendeu ainda.

O autarca sublinhou ainda a coincidência de os cortes de luz e o anúncio do fecho da unidade de saúde terem ocorrido depois de o novo executivo municipal ter assumido que a sua principal “prioridade é esta zona da cidade e esta freguesia”. Rui Moreira disse estranhar que, “subitamente, se abata sobre esta freguesia um conjunto de medidas que objectivamente têm impacto sobre a população”.

Moreira sublinhou, aliás, que as dívidas e as ligações de energia clandestinas não existem apenas “desde o período eleitoral” mais recente. “Já existiam antes”, vincou, dispensando-se contudo de apontar responsáveis “por essas políticas” que têm “grande impacte sobre a população”.

 
 
 
 

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