Porto vai candidatar a fundos comunitários interfaces de Campanhã e do Hospital de S. João

Município pretende avançar com os dois projectos, porque ambos são estratégicos para a mobilidade

Foto
António Ferreira indicou que ocorria apenas uma cirurgia por semana para cada médico da especialidade no São João Paulo Pimenta

A Câmara do Porto vai candidatar a fundos comunitários a construção do terminal intermodal de Campanhã mas também do Hospital de S. João. A informação foi confirmada ao PÚBLICO pela vereadora da Mobilidade, Cristina Pimentel, depois de o presidente da câmara, Rui Moreira, ter dito na sessão extraordinária da Assembleia Municipal de quinta-feira à noite que pretendia fazer “novos terminais” na cidade, além do de Campanhã.

O autarca falava aos deputados durante a discussão e votação do memorando de entendimento referente ao Acordo do Porto, que acabaria por ser aprovado com os votos contra da CDU e do Bloco de Esquerda (BE). O acordo, que permitirá a transferência de dívida do município para o Estado na ordem dos 35 milhões de euros – o equivalente a uma redução de “quase 50%” da dívida da autarquia, segundo Rui Moreira –, pondo fim a vários conflitos entre o município e a administração central, prevê ainda que seja a câmara a construir o interface de Campanhã, mediante a cedência de ocupação, a título gratuito, dos terrenos da Refer necessários para o efeito.

Durante o debate, o presidente da câmara defendeu que esta era “a última oportunidade” para “se tentar conseguir os recursos que este quadro comunitário prevê”, acrescentando que o trabalho é para avançar rapidamente. “Com este acordo deixa de haver desculpas para que o terminal intermodal de Campanhã não seja feito. Muito rapidamente poderemos deitar mão à obra e ter terminal, mas de acordo com a estratégia para a cidade há novos terminais que queremos fazer, nomeadamente uma intervenção no terminal [do Hospital] de S. João", disse.

“Efectivar e optimizar a função do interface intermodal” junto ao Hospital de S. João é um dos aspectos realçados pelo grupo de trabalho que, no âmbito da Área Metropolitana do Porto (AMP), elaborou um programa para a qualificação urbana da Circunvalação. O documento apresenta duas propostas de intervenção, realizadas no âmbito do programa europeu CIVITA ELAN. Ambas contemplam a reorganização do trânsito e a construção de túneis, mas a primeira propõe a intervenção apenas numa fase e a outra aponta para duas fases de obras, o que, explica-se no documento, possibilita “a redução dos custos iniciais”.

“O terminal intermodal de Campanhã resolve os problemas da zona Oriental da cidade, mas nem todo o trânsito entra por ali. Queremos criar uma rede de interfaces, com o que chamamos de uma 1.ª coroa, que fará o rebatimento principal dos grandes operadores que chegam à cidade. E, aí, temos Campanhã, mas também o S. João, que é fundamental  para absorver todo o fluxo que vem da Maia e zonas envolventes”, explica Cristina Pimentel.

Uma “2.ª coroa”, disse, que inclui os interfaces da Casa da Música, do Bom Sucesso e da zona da Batalha, será trabalhada posteriormente, funcionando como “rede complementar”. A vereadora da Mobilidade diz que “estão a ser candidatados” ao Portugal 2020 os interfaces de Campanhã e do S. João, para os quais já existem estudos prévios, e que serão analisados e ajustados à realidade actual, para se encontrar “a melhor solução”.

A construção do interface intermodal de Campanhã foi apenas um dos pontos discutidos na última AM antes das férias de Verão, em que os deputados aprovaram o Acordo do Porto por maioria, apesar das dúvidas levantadas mesmo por quem votou a favor.

Luís Artur, que lidera a bancada do PSD, disse que o acordo era “bom para o Governo” e “razoável” para o município, questionando os valores de indemnização a que se chegou, em casos como os terrenos do Aeroporto Francisco Sá Carneiro ou da STCP. “É um acordo”, salientou, que “sobretudo, politicamente resolve um problema”. “Globalmente positivo”, foi como Marco Leitão, do PS, caracterizou o documento, enquanto André Noronha, do movimento independente Rui Moreira: Porto, O Nosso Partido, salientou que a câmara e o Governo “portaram-se como duas pessoas de bem”.

As vozes discordantes, e de onde saíram também os únicos votos contra, partiram da CDU e do BE. O bloquista José de Castro argumentou que o acordo não era “aceitável” porque, disse: “Não compensa o Porto dos enormes prejuízos que esta coligação de direita tem trazido à cidade”. Já Artur Ribeiro, da CDU, questionou os valores envolvidos, o facto de a indemnização atribuída à câmara surgir sob a forma de redução da dívida, e também a questão da Sociedade de Reabilitação Urbana, que passará a ser detida 100% pelo município. “Do nosso ponto de vista é um mau acordo. O senhor presidente aceitou colaborar com o primeiro-ministro num número político”, disse.

Sugerir correcção
Comentar