Porto, uma casa aberta que chega a Gaia e Matosinhos

A Frente Atlântica mostra este fim-de-semana 40 exemplos, em edifícios públicos e privados, do melhor da sua arquitectura. As visitas são gratuítas.

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A Câmara do Porto é um dos edifícios da cidade incluídos neste primeiro Open House Porto Rita França
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A Câmara do Porto é um dos edifícios da cidade incluídos neste primeiro Open House Porto Rita França
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O roteiro inclui 40 espaços do Porto, Gaia e Matosinhos. Algumas das visitas implicam reserva prévia, mas todas são gratuitas Rita França
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Capela de São José, de José Fernando Gonçalves, em Oliveira do Douro, Gaia Rita França
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Capela de São José, de José Fernando Gonçalves, em Oliveira do Douro, Gaia Rita França
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Capela de São José, de José Fernando Gonçalves, em Oliveira do Douro, Gaia Rita França
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Capela de São José, de José Fernando Gonçalves, em Oliveira do Douro, Gaia Rita França
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Casa particular na Praça de Liége, Porto, de Luísa Penha Rita França
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Casa particular na Praça de Liége, Porto, de Luísa Penha Rita França
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Farol de Leça da Palmeira, Matosinhos Rita França
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Farol de Leça da Palmeira, Matosinhos Rita França
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Vista do Farol de Leça da Palmeira, Matosinhos Rita França
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Farol de Leça da Palmeira, Matosinhos Rita França

Victoria Thornton esteve pela primeira vez no Porto há oito anos. Dessa visita, guardou a impressiva memória de um casco velho cheio de potencial que tardava a ser aproveitado, numa cidade já então marcada por edifícios contemporâneos impressionantes. A fundadora do Open House Londres, que em 1994 abriu duas centenas de edifícios da capital inglesa numa iniciativa, pioneira, de educação para a arquitectura, voltou à cidade de Siza e de Souto Moura, de Marques da Silva e de muitos outros nomes, mais ou menos conhecidos, para acompanhar a entrada do Porto na família Open House.

Perguntem-lhe o que define, para ela, um bom projecto de arquitectura. Ela não vos falará de estilos, linhas, materiais ou programas funcionais. Para Victoria Thornton, a boa arquitectura é aquela que lhe “eleva o espírito”. E não foi por estarmos na capela de São José, em Gaia, hino à luz, e à espiritualidade, plantada pelo arquitecto José Fernando Gonçalves na Rua Dr. Alfredo Farinha Guimarães, entre uma ruidosa linha de comboio e uma movimentada estrada de acesso à Ponte do Infante, que a resposta surgiu. Este lugar de sossego até podia ser uma pequena sala de concertos, com o seu altar/palco, retroiluminado por um plano envidraçado que dá para um pátio de gravilha, pontuado por uma trepadeira. E ainda assim, seria sempre capaz de impressionar quem tiver a calma de, passando defronte, entrar.

Victoria Thornton anda há 20 anos a pregar a mensagem: para se começar a gostar de arquitectura basta “abrir os olhos” ao que está à nossa volta. E esta primeira edição da Open House Porto, que na verdade se estende à recém-baptizada Frente Atlântica, juntando-lhe Gaia e Matosinhos, segue, nas suas 40 propostas para visitas, neste fim-de-semana, esta cartilha que, de Londres-1994, se entranhou na programação cultural de mais de 30 cidades, por todo o mundo. Tudo o que há para ver cabe no horizonte que se alcança do Farol de Leça, terceiro ponto de uma visita inaugural – para convidados e imprensa – desta iniciativa que tem a organização da Casa da Arquitectura e da Trienal de Arquitectura, com o apoio dos três municípios.

O farol de Leça, do engenheiro José Joaquim Peres (1926) surge no programa pelo que é – arquitectura sem arquitecto, marca na paisagem de onde tudo se avista. O vereador da cultura portuense Paulo Cunha e Silva quis mostrar essa cidade liquedefeita, sem fronteiras e sem receio de que se lhe chame, no conjunto, Porto, a partir das alturas do terraço dos Paços do Concelho (António Correia da Silva/Carlos Ramos, 1957). E o presidente da Câmara de Matosinhos não quis ficar atrás e pôs a comitiva a subir e a descer o estreito caracol do seu farol favorito, que parece guardar a Casa de Chá da Boa Nova (uma das obras de Siza neste roteiro), com o mesmo zelo que vai guiando, ainda, os marinheiros no Atlântico.

O Farol de Leça funciona também como metáfora do que é esta open-house. Luz intensa, a incidir sobre um mar de cimento, que nos abre os olhos para casas particulares como a que Luísa Penha desenhou para a irmã, na Praça de Lisboa, num gesto contemporâneo a procurar inspiração na tradição das casas burguesas da cidade, e nos guia por outros espaços improváveis e também habitualmente fechados aos olhares de estranhos, como a refinaria de Leça, imensidão de ferro e tubos, à beira-mar implantados. É por isso, uma oportunidade rara. Um convite para sítios onde raramente, ou nunca, se é convidado, primeira lista de uma cidade, ou três no caso, onde cabem várias edições, nos próximos anos, vencida que esteja a desconfiança que levou alguns proprietários a recusar abrir as portas neste ano de estreia.

O programa de visitas gratuitas para este sábado e domingo é diverso, construído pelo comissário convidado, Pedro Bandeira, para responder a vários desafios: o de nos falar de uma cidade de arquitectos – está lá a Torre do Burgo, de Souto Moura, na avenida da Boavista, o Bairro da Bouça ou a Piscina das Marés de Siza, e obras de outros que o mundo reconhece, como a Casa da Música de Rem Koolhaas; o de nos transportar por uma cidade em reabilitação/reinvenção, como a que se vê no interior da Casa do Conto, do atelier Pedra Líquida, na rua da Boavista, ou a recém concluída Casa Breyner 310 de César Machado Moreira e Cláudia Dias; e o de nos fazer parar, e olhar, para sítios por onde passamos quase sem reparar, como o Centro de Sangue e Transplantação na Rua do Bolama, do atelier ARX Portugal, ou o Funicular dos Guindais. Que é bem mais do que um mero vaivém entre a beira-rio e o topo de uma cidade pousada sobre a escarpa do Douro.

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