Piscicultores queixam-se de descargas que provocam morte de peixes no Mondego

"Os agricultores estão em roda livre, ninguém se responsabiliza por nada, fazem descargas sem avisar, a impunidade é total", acusam.

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Produzimos robalo, na foto, dourada, linguado, pregado e estamos a iniciar a produção de corvina Enric vives-Rubio

Vários piscicultores instalados junto ao braço sul do rio Mondego exigem medidas para travar a morte de peixes, que dizem ser provocada por descargas de águas "sem controlo" oriundas de campos de arroz e milho a montante.

Nos últimos dias, numa das sete aquaculturas existentes, morreram cerca de meio milhar de douradas e robalos, e, desde Agosto, o número de peixes mortos ultrapassou os 2000.

"Os agricultores estão em roda livre, ninguém se responsabiliza por nada, fazem descargas sem avisar, a impunidade é total. E não há quem ponha mão nisto", disse à agência Lusa o empresário Vítor Camarneiro, proprietário de uma das aquaculturas.

Em causa estão descargas de águas acumuladas nas valas de escoamento e rega provenientes dos campos de milho e arroz situados a montante, na zona do vale do rio Pranto, afluente do Mondego. No local, existe uma comporta que impede a entrada da água salgada das marés nos campos agrícolas. Apenas é aberta na baixa-mar, aquando da necessidade de drenar os terrenos, "especialmente nesta altura do ano em que é imperioso drenar totalmente os campos para dar início às colheitas", explicou.

Por outro lado, de acordo com o empresário, as descargas agrícolas "quase sempre pressupõem grandes cargas poluentes decorrentes dos produtos químicos e fertilizantes utilizados no cultivo do arroz e milho", situação que afecta as aquaculturas que recebem água do braço sul do Mondego e se vêem impedidos de a renovar nos tanques de produção.

No total, desde Maio de 2013, a empresa de Vítor Camarneiro registou cerca de 20.000 peixes mortos (mais de 1700 quilos) "por descargas poluentes, baixas de oxigénio e salinidade e impossibilidade de renovar água em função das descargas".

Já José Paixão, proprietário de outra aquacultura, cifrou em 39 mil o número de peixes mortos nas suas pisciculturas desde 2010, não só devido às descargas provenientes de campo agrícolas e explorações florestais, mas também casos de poluição do rio relacionados com actividades industriais da região.

Ouvido pela Lusa, Ferreira Lima, presidente da Associação de Beneficiários da Obra de Fomento Hidroagrícola do Baixo Mondego, entidade responsável pela gestão das comportas, admitiu que existe um "problema de falta de comunicação" entre agricultores e piscicultores, advogando a mediação de um organismo estatal, equidistante de ambos, para resolver a questão.

Em 1993, foi assinado um protocolo que visava, precisamente, regular as descargas e que nos dias de hoje "está ultrapassado", reconheceu Ferreira Lima, não só porque algumas entidades nele incluídas "já não existem" e os tempos "são outros".

"Hoje há telemóveis, há maneiras de resolver estas situações, que não havia dantes. Não podemos é andar em guerras", frisou.

Os piscicultores exigem, por ser turno, a "revisão e actualização" do protocolo e a intervenção das entidades competentes, tendo oficiado a Agência Portuguesa do Ambiente, Comissão de Coordenação da Região Centro (CCDRC), Administração do Porto da Figueira da Foz e autarquia local.

"Só a Câmara é que nos respondeu, disponibilizando-se para mediar a questão", frisou Vítor Camarneiro.

Em declarações à Lusa, a vereadora Ana Carvalho confirmou estar a tentar promover uma reunião com todas as partes interessadas, embora a autarquia não tenha jurisdição sobre aquelas áreas.

"Estamos disponíveis para mediar a questão. Claramente, há aqui um problema de falta de comunicação que tem de ser resolvido", disse.

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