Pescadores são guias em caminhadas pela natureza no concelho de Odemira

Projecto desenvolvido pela cooperativa Taipa visa tornar um grupo de pescadores da Azenha do Mar menos dependente da pesca.

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Grupo de pescadores da Azenha do Mar conta aos caminhantes histórias sobre os locais por onde passam Pedro Cunha/Arquivo

A Taipa, uma cooperativa que trabalha nas áreas da solidariedade e do desenvolvimento de Odemira, desafiou os pescadores da freguesia da Azenha do Mar a guiarem caminhantes pelos locais que conhecem bem no litoral alentejano. O objectivo é torna-los menos dependentes do mar.

As caminhadas começaram de forma mais “séria” no final do ano passado. Por entre paisagens verdejantes e com o mar como pano de fundo, os pescadores partilham com os participantes os seus conhecimentos sobre a geografia e a história dos locais por onde passam.

Entre a Azenha do Mar, praticamente no limite entre o Alentejo e o Algarve, e um arrebatador miradouro natural sobre a praia de Odeceixe, já no concelho de Aljezur, Ivânia Guerreiro, técnica da Taipa, explica à Lusa que o projecto, co-financiado pela União Europeia, pretende "valorizar o pescador" e o sector da pesca.

A Lusa juntou-se a uma destas caminhadas. Desta vez, o tema foi a antiga actividade de apanha de algas, que ainda antes da formação da povoação, no final dos anos 60 do século passado, já era o sustento de centenas de pessoas nos meses de Verão.

"Não queremos de forma alguma que eles deixem de ser pescadores. Aquilo que nós queremos é que eles consigam criar actividades de onde possam obter algum rendimento e ao mesmo tempo potenciar e divulgar a sua comunidade, o seu trabalho", explica Ivânia Guerreiro.

Antes de iniciar o projecto, os pescadores tiveram formação – por exemplo, em inglês – e os percursos foram preparados.

José Manuel Silva, de 61 anos, um dos cinco guias ligados ao projecto, tem a lição estudada. "Para ser um bom guia é termos bons caminhantes, isso é importantíssimo. E conhecer um pouco da zona em que estamos e ser um bocadinho engraxador, isso também faz parte. [risos] E termos tempo para falar com as pessoas", conta o pescador natural de Odeceixe mas a viver na Azenha do Mar desde tenra idade.

Para José Manuel Silva, tem sido "difícil" viver só do mar. Por vezes, num ano não trabalha mais do que 80 dias. Com o mau tempo que se tem feito sentir no litoral do país, há dois meses que os pescadores não vão à faina e, quando podem sair, já não apanham peixe "como antigamente".

A comunidade piscatória da Azenha do Mar, com perto de 150 pessoas, teve mais de 40 barcos de pesca e hoje tem apenas "12 ou 13", diz o pescador. No entanto, as caminhadas ainda não são uma forma de sustento. Custam seis euros por pessoa, 12 euros se incluir almoço. É "mais um convívio", explica Silva.

"Contamos as nossas histórias do mar e aí vamo-nos entretendo e vamos aliviando também a nossa alma, o nosso coração com essas coisas, que é uma alegria a gente falar com as pessoas", afirma, embora admita que, "no futuro", a actividade pode "dar uma ajuda".

Luís Freitas, proprietário da Quinta do Chocalhinho, uma herdade de agroturismo próxima de Odemira, promete aconselhar as caminhadas dos pescadores da Azenha do Mar aos seus hóspedes. "Quanto mais diversificação de entretenimentos e de aprendizagens houver para os hóspedes, claro que maior é a procura e mais contentes e satisfeitos eles ficam", afirma o empresário.

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