A praga do jacinto-de-água ameaça o Alqueva pelo segundo ano consecutivo

Em Espanha recolhem-se por dia cerca de uma centena de toneladas da planta infestante e no troço do Guadiana, em território português, há várias semanas que estão a ser removidos fragmentos.

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Estão a ser montadas barreiras no Guadiana para confinar a planta DR

A ameaça de um desastre ambiental na albufeira de Alqueva pode transformar-se numa realidade a todo o momento. As altas temperaturas que se registam no sudoeste Península Ibérica (de madrugada chegam a atingir-se os 30 graus centígrados na região da Extremadura) criaram as condições propícias ao alastramento massivo do jacinto-de-água (Eichhornia crassipes), uma ameaça à vida deste imenso lago.

A praga já cobre uma extensão de 75 quilómetros, no médio Guadiana, em território espanhol, entre Mérida e Medellín e, pelo segundo ano consecutivo, a Empresa de Desenvolvimento e Infra-estruturas do Alqueva (EDIA) está a proceder à recolha do que considera serem fragmentos da planta invasora, a montante da albufeira do Alqueva, a cerca de um quilómetro da fronteira.

Neste momento estão a ser removidos naquele troço do Guadiana em Espanha, diariamente, cerca de uma centena de toneladas de jacinto-de-água e o receio de que esta infestante chegue a Alqueva já era admitida pelas autoridades espanholas em 2006, dois anos depois da planta aquática, oriunda da bacia do Amazonas, ter sido detectada pela primeira vez entre Mérida e Medellín.

Com efeito, a Confederação Hidrográfica do Guadiana (CHG) admitiu, naquele ano, que “o maior perigo é que a praga chegue a Alqueva”. A albufeira desta barragem, pela sua extensão e quantidade de nutrientes dissolvidos na água e nos sedimentos “tem todas as características para se tornar um lugar ideal para a infestante crescer e se espalhar” assim que as horas solares e a temperatura ambiente aumentem, como acontece no presente, vaticina o organismo espanhol.

O facto de a planta, em 2014, ter tido que ser recolhida durante cinco meses em território português, alertou as autoridades dos dois países ibéricos para o reforço das medidas de contenção da praga. Do lado espanhol, a CHG adquiriu em Janeiro deste ano novas embarcações e cerca de 2000 metros de barreiras flutuantes, a juntar aos 5000 metros que já estão instalados, para impedir que a espécie invasora atinja o Guadiana em território português e “venha a colonizar Alqueva”.

O chefe do Serviço Florestal da Confederação Hidrográfica do Guadiana (CHG), Nicolás Cifuentes, referiu à Agência EFE que foram incorporadas mais seis embarcações para reforçar a remoção do jacinto-de-água “na área de Badajoz”. A intervenção das autoridades espanholas já envolve, neste momento 26 barcos no combate as duas plantas invasoras, o jacinto-de-água e o nenúfar mexicano, que também já prolifera junto ao território português.

A detecção do jacinto-de-água a montante de Alqueva foi o resultado das inundações registadas no rio Guadiana em 2013 em território espanhol. "A planta chegou a Portugal em pequenas quantidades, mas chegou”, confirma Nicolás Cifuentes. E as consequências fizeram-se anunciar em Alqueva em 2014. “Durante cinco meses mantivemos um barco na água a apanhar fragmentos do jacinto-de-água vindos de Espanha”, descreve Pedro Salema, presidente da EDIA, empresa que sentiu necessidade de colocar mais uma barreira (existem duas neste momento) no troço do Guadiana a montante da albufeira para prevenir a chegada de mais plantas infestantes.

Há várias semanas que a remoção de jacinto-de-água prossegue junto à barreira colocada a cerca de um quilómetro da fronteira com Espanha, adiantou ao PÚBLICO, o porta-voz da EDIA, não adiantando elementos sobre o volume de material já retirado.

Em condições adequadas, esta infestante pode duplicar a sua população em cinco dias, reproduzindo-se facilmente por via vegetativa, através de rizomas ou pequenos fragmentos que podem originar novos focos da planta.

Acresce ainda que numa massa de água de grandes dimensões, como a de Alqueva, onde desaguam 37 ribeiras cujas bacias, no seu conjunto, preenchem uma área territorial com 4200 quilómetros quadrados, as variações térmicas sazonais provocam inevitavelmente o afloramento de nutrientes e de matéria orgânica, o qual tem um efeito indutor da actividade biológica na albufeira e seus afluentes. A qualidade da água deteriora-se ao longo do semestre da Primavera-Verão, criando o “habitat” propício à proliferação das plantas invasoras como o jacinto-de-água e o nenúfar mexicano.

Como se não bastassem estas duas infestantes, Nicolás Cifuentes anunciou também a presença de azolla, uma planta aquática que em Abril de 1993, provocou um desastre ambiental no rio Guadiana em Mértola.

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