Passos Coelho vai às Caldas onde PSD e CDS andam de candeias às avessas

A regeneração urbana da cidade tem sido motivo de intensa polémica entre a maioria PSD e um CDS particularmente acutilante na crítica à forma como decorrem as obras

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As obras nas Caldas da Rainha têm dividido PSD e CDS Sandra Ribeiro

Se fosse ao nível local, o PSD e o CDS/PP estariam longe de acordar uma coligação. Nas Caldas da Rainha o partido de Paulo Portas tem fustigado a maioria social-democrata com críticas às obras de requalificação da cidade que se arrastam há quatro anos e que custam 10 milhões de euros.

Os centristas publicaram até um Livro Negro da Regeneração Urbana para denunciar aquilo que consideram errado neste processo. E na imprensa local tem havido troca de comunicados entre PSD e CDS sobre aquilo que este último considera uma oportunidade perdida para a cidade e que a maioria entende ser um marco para o desenvolvimento económico do concelho.

É neste contexto que o presidente da Câmara das Caldas, Tinta Ferreira, recebe amanhã o primeiro-ministro Passos Coelho, no feriado municipal da cidade. O 15 de Maio - que representa a abertura simbólica da época termal - é sempre comemorado com inaugurações e este ano assinalar-se-á a abertura de um Centro de Produtos Regionais e do novo edifício da Misericórdia das Caldas da Rainha (também financiado com fundos comunitários). A comitiva deverá ainda fazer um passeio pelas principais ruas que já foram requalificadas.

Isto uma semana depois do livro com a biografia de Passos Coelho ter sido apresentado com grande sucesso nas Caldas pela autora, Sofia Aureliano, ela própria uma caldense.

Mas para a oposição socialista e centrista, factos são factos e a verdade é que as obras da regeneração urbana já deveriam ter terminado em Dezembro passado e deverão ainda durar até ao fim deste ano, com todos os prejuízos que têm vindo a provocar em moradores e comerciantes.

O planeamento falhou. Mais de metade dos 10 milhões de euros de investimento foram concentrados no último ano. É o caso de um parque subterrâneo, no valor de 4 milhões de euros, que foi inaugurado há dois meses (com oito meses de atraso) e da requalificação da Praça da República (vulgo Praça da Fruta) onde se realiza o mercado diário.

Foram, aliás, as obras na Praça da Fruta - que constitui um ex-libris da cidade - que mais polémica provocaram entre o CDS/PP e o PSD porque o primeiro insistiu na construção de um parque subterrâneo sob o mercado, que a câmara recusou por entender que a proposta foi feita após discussão pública e por recear que a descoberta de eventuais achados arqueológicos impedisse a continuação das obras.

Além de Rui Gonçalves, uma figura em ascensão nos centristas locais, também o deputado do CDS na Asssembleia da República, Manuel Isaac, que é vereador, tem sido acutilante nas críticas à regeneração urbano.

Num comunicado publicado na Gazeta das Caldas a responder às críticas do CDS proferidas durante uma conferência de imprensa destinada a apontar os erros da regeneração urbana, o PSD considera “inaceitável que o CDS venha proferir injúrias” e “ataques caluniosos” e alude mesmo a “um deputado da Assembleia da República” que não deveria desconhecer a lei.

Lamenta ainda “esta forma de actuar do nosso parceiro de coligação nacional no contexto local”.

Cidade tem as termas encerradas há três anos
A legionella, a bactéria que se tornou famosa no país devido aos acontecimentos do ano passado na zona de Vila Franca de Xira, é uma velha conhecida dos caldenses. É por sua culpa que nos últimos 20 anos o Hospital Termal das Caldas da Rainha é periodicamente obrigado a suspender os tratamentos para proceder a desinfecções ou a vultuosos investimentos nas suas instalações a fim de debelar a bactéria.

 Apesar do dinheiro gasto, as termas do velho hospital (é considerado o hospital termal mais antigo do mundo) deixaram de funcionar desde Julho de 2012, sem que desde então a administração do Centro Hospitalar do Oeste tivesse elegido como prioridade a resolução do problema e a sua reabertura.

Pelo contrário, o que tem estado em causa é a transferência deste património da tutela do Estado para a da autarquia, que espera recebê-lo ainda este ano.

Para já, um primeiro acto formal deste processo teve honras de Diário de República no passado dia 15 de Abril: o Ministério do Ambiente retirou ao Ministério da Saúde a concessão que o habilitava a explorar as águas termais das Caldas da Rainha.

Porquê? Porque em breve essa concessão deverá passar para a câmara municipal. Que para tal deverá esperar por nova decisão governamental e publicação em Diário da República.

Pela primeira vez nos seus 500 anos de História, as termas das Caldas da Rainha estão num autêntico vazio – sem água a correr e sem suporte legal para a sua utilização.

O 15 de Maio que amanhã se celebra com a presença do primeiro-ministro é, por isso, apenas simbólico porque não haverá abertura do Hospital Termal.

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