Parkour: Quanto mais longe do chão, mais é a cabeça quem manda

Num parque empresarial em Vila Nova de Gaia acaba de surgir uma academia que integra o primeiro ginásio de parkour da região Norte, o segundo em Portugal. Uma modalidade que se descobre todos os dias a si própria, dividida entre a arte e o desporto, o físico e o psicológico.

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Há uma enorme preocupação com a técnica: estudam como apoiar as mãos, como assentar as pontas dos pés, como ordenar ao próprio corpo que siga a vontade, não o medo Miguel Oliveira
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Pelos sons, parece que estamos num treino de ginástica. Ouve-se o bater das mãos uma na outra para soltar o pó de magnésio a mais. Um primeiro salto para as barras e os pés batem, mais à frente, no chão, quase como a finalização de ginastas nas traves. Mais ruidoso talvez, mas na rua estes sons misturam-se sem confusão.

Foi na rua que Márcio Filipe deu os primeiros saltos enquanto traceur, o nome que o designa como praticante de parkour. Vão desde então nove anos e eram muito poucos os que o faziam em Portugal. Tinha 12 anos, alguma coragem e um amigo com quem descobriu a modalidade, através da Internet. Aprendeu como ainda hoje aprende a maioria dos praticantes portugueses: por ver os outros, pelos vídeos colocados no Youtube, pela tentativa e pelo erro.

Ao fim de três anos, ganhou-lhe um gosto maior e mais empenho. Começou a treinar com regularidade e há cerca de seis anos fundou a Energy Vault Team, uma equipa de parkour formada por mais cinco traceurs: João Sousa, Miguel Correia, Rui Ferreira, Tiago Granja e Filipe Ferreira. “Sei que é isto que quero da vida”, afirma o jovem de 21 anos.

E hoje está mais próximo de cumprir o objectivo de tornar o parkour mais acessível e mudar a forma como se aprende a modalidade. Inaugurada no início de Setembro, a Academia Eu+ integra, entre outros dois empreendimentos, um ginásio de parkour. O espaço, em Vila Nova de Gaia, resulta do trabalho de seis sócios – quatro do parkour, um de Street Workout e outro que se dedica às Artes Circenses - apoiados por financiadores externos. “Teremos assim um espaço onde podemos ensinar uns aos outros. A comunidade ajuda-se muito, acolhemos pessoas de fora e nunca falta o apoio entre todos”, nota Márcio, um dos mais velhos do grupo e, por isso, um dos responsáveis pela “formação” dos iniciantes.

Ainda lhe causa alguma estranheza o facto de não estar a treinar na rua, mas o tecto alto e as grandes janelas ajudam. Entra-se no “armazém do parkour” por umas escadas até ao primeiro andar, num dos últimos edifícios do centro empresarial Candal Park. Ao lado do armazém há um espaço de paintball, mais à frente uma serralharia e uma oficina, e uma pastelaria no início da rua. É a este espaço que vão chegando, durante toda a manhã, alguns amigos. Vieram auxiliar nas obras, a pouca mais de uma semana da inauguração.

Lá dentro, colunas de barras e cubos, estes últimos a simular muros, parecem - aos olhos dos leigos – estar organizados sem qualquer sentido. Mas há um plano bem estudado e uma arquitectura seguida ao milímetro. Ao fim de mais de oito meses de trabalho, as obras estão praticamente terminadas e o espaço já é uma verdadeira sala de treinos: “Falta apenas colocar uma piscina de esponjas para os treinos e dar uns retoques”, nota Alfra Teixeira, da Team Braga, também ele sócio da academia.

Esta é a segunda academia do género no país, a primeira na região norte. “O parkour ainda é pequeno em Portugal e é por isso mesmo uma oportunidade”. Têm boas perspectivas para a academia, mas Márcio não quer adiantar números. Vai-se vendo, com o objectivo de que esta seja uma verdadeira escola da modalidade.

Sem descurar a essência daquilo que é o parkour e a forma como se pratica, Márcio acredita que a modalidade e os seus praticantes só têm a ganhar com esta certa “institucionalização” do parkour. “Nasceu na rua, tudo bem, mas aqui existe um espaço mais protegido para praticar, aprender e experimentar coisas novas”, defende.

“Fora [de Portugal], o parkour está a tornar-se bastante conhecido, principalmente, nos Estados Unidos da América. Lá começam a existir aulas de ginástica para parkour. Estão a começar a criar-se estruturas que lhe dão outra imagem.” Não que mudem a filosofia de quem pratica, mas talvez mudem os significados dos olhares de quem os vê na rua. “Não que fiquem muito tempo a olhar”, repara Márcio.

“Muitas pessoas acham que é perda de tempo e passam rápido.” Márcio considera que, em Portugal, não se pára para pensar no que afinal envolve esta prática. “Eles vieram para aí fazer saltos. Mas digo-lhes já que não podem subir para ali”. As palavras de Albino Nogueira, o auxiliar de 77 anos da Igreja de São Mamede, encaixam naquilo que Márcio queria defender.

Apesar de muitos verem a modalidade pela destreza física que implica, “é a cabeça que define quem é um bom praticante e quem não é”, defende Márcio. Razão pela qual ele e Filipe Ferreira têm dificuldade em catalogar o parkour. Talvez desporto, pela preparação e exigência física. “Mas é uma forma de arte. Nunca sabemos o que teremos que fazer, é uma forma artística de nos expressarmos”, completa Filipe.

“Não faço isto de ânimo leve”

“- Faz para cat”.

“- Vou fazer vault dali para aqui.”

“- Faz monkey. Precisão, precisão!”

Mais à frente, Márcio bem dizia: “Aqui é porreiro para cat-to-cat.”

À semelhança de outras modalidades, o parkour tem um dicionário próprio e serve-se dos termos ingleses para universalizar os movimentos. Viu-se quando os espanhóis da equipa Urban Jungle vieram, uns dias antes da inauguração, treinar com os portugueses e todos acabavam por falar na mesma língua.

No jardim, junto a uma zona residencial em São Mamede Infesta, um caminho de terra por entre a vegetação desmascara que aquele é um local de saída, após o salto. Numa escola, é subtil a forma como o telhado já dobra na ponta - marcado pelos pés que lá pousam para saltar.

É da ponta deste parapeito que dois traceurs espanhóis vão saltar. Fixam o ponto de aterragem. Mãos estendidas, olhos colocados no muro uns (bons) metros abaixo. Tão rápido como tomaram a decisão: uns passos atrás e salto! Já estão em cima do muro, joelhos flectidos e nas pontas dos pés. “Que estouro! Que adrenalina!”, comenta o galego Yoel Duran.

“Não faço isto de ânimo leve, tenho que estar a preparar-me”, dizia uns dias antes André Alçada, da Team Braga, quando se preparava para saltar de um muro para uma barra, na academia. Há uma enorme preocupação com a técnica: estudam como apoiar as mãos, como assentar as pontas dos pés, como ordenar ao próprio corpo que siga a vontade, não o medo.

André está a uma distância considerável do chão, uns bons centímetros acima das cabeças de qualquer um dos traceurs. Como saltam espaços de fazer saltar as próprias vertigens? Como apoiam os dois pés em larguras tão pequenas que cabe apenas um? Como ainda saltam a seguir? “Mais do que físico, o parkour é muito psicológico. Não nos adianta fazer um salto de oito pés no chão, se não consigo fazer um de seis num ponto mais alto”, descreve Márcio. Começam a treinar a confiança no chão. Testam a que distâncias chegam. Só depois se aventuram em altura, quando a confiança já lá está.

“Nós já medimos estas distâncias de forma inconsciente. Eu sei, por exemplo, que daqui ali são sete pés. Já faz parte de nós, vemos o espaço de uma forma diferente” – traquejos ganhos pela experiência, nota o traceur.

Aqui, cada centímetro conta entre uma aterragem perfeita e uma queda. E aprende-se a saber as distâncias de cabeça e a calcular riscos no espaço de segundos. Muitos contam até três mas acabam por saltar antes, não vá a contagem antecipar o medo. “Na maioria das vezes que se tenta, não se salta logo”, repara Márcio. Um erro pequeno pode facilmente custar lesões ou sérios ferimentos.

É também preciso um autêntico jogo do autoconhecimento. “É preciso conhecermos bem as nossas capacidades, mas também as nossas limitações”, destaca Márcio. Ter capacidade de discernir até onde podem ir, a partir de onde é longe demais. Medir riscos. E, às vezes mesmo, enfrentá-los.

“Não, não quero largar”, dizia então Alçada, como é conhecido. Mas acaba por o fazer. Mais tarde, Miguel, o mais novo do grupo, atreve-se a testar os próprios limites, o do equilíbrio e, o que menos controla, o mental.

Tem 13 anos, pratica desde os 12 e vem “como que nem louco” para os treinos. “Venho sempre que posso. Duas ou três vezes por semana, se puder”, conta.

“- O primo é que queria saltar, eu só estou a incentivar”, diz Alçada. “Estás a um pezinho de distância literalmente, isto não é nada, tens que ter cuidado.” É pouco para o que estão habituados, ainda que as barras onde Miguel quer saltar estejam muito acima do seu tamanho.

“Tu é que sabes, se achas que não vale a pena, não vale a pena”, diz o mais velho. “Mas eu quero saltar”, insiste Miguel. “É muitas vezes assim com os mais novos, a vontade é muita, mas por isso mesmo é que têm que ter um acompanhamento maior. Estamos sempre muito atentos”, observa Márcio.

Não que os mais velhos estejam imunes ao medo. Márcio falha uma vez um movimento e a confiança já lá vai. “Já não tenho mais confiança para fazer isto”, sai-lhe. Mais tarde volta a tentar.

Abana os braços para a frente e para trás. Flecte os joelhos. Bate com as palmas uma na outra. Limpa as sapatilhas. Respira fundo.

Os pés têm que estar limpos. Assim como as mãos. E a mente.

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