Para que serve O Grande Livro do Bebé na gestão dos bairros sociais de Lisboa?

Três antigos gestores da Gebalis estão a responder em julgamento pelos crimes de peculato e gestão danosa.

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Gebalis é a empresa municipal de Lisboa que gere os bairros sociais Pedro Cunha/Arquivo

O que leva o administrador de uma empresa responsável pela gestão de bairros sociais a comprar a expensas do erário publico uma obra intitulada O Grande Livro do Bebé? A questão foi levantada nesta quinta-feira na audiência do julgamento em que três antigos gestores da empresa Gebalis, detida na totalidade pela Câmara de Lisboa, respondem pelos crimes de peculato e administração danosa.

A autarquia quer reaver 200 mil euros que considera terem sido gastos indevidamente entre 2006 e 2007 por Francisco Ribeiro, Clara Costa e Mário Peças. A verba foi gasta em livros e discos, como uma compilação de Miles Davis, mas sobretudo em refeições nalguns dos mais caros restaurantes da capital e também no estrangeiro.

“Tendo em conta o passivo da empresa na altura, não eram precisos almoços em lugares como o Porto de Santa Maria”, observou na manhã desta quinta-feira a juiz presidente Alexandra Veiga. Foi a um sábado que o administrador Francisco Ribeiro gastou 95 euros de uma assentada à Gebalis naquele restaurante da zona do Guincho, montante a que acrescentou cinco euros para gorjeta. “Eu trabalhava muitas vezes ao fim-de-semana, altura em que estava na Praia Grande”, justificou o arguido. “Os meus colegas da administração devem ter ido lá ter”, acrescentou.

Outro dos juízes que compõem o colectivo encarregue de julgar este caso insistiu em saber qual a necessidade de frequentar este tipo de restaurantes. “Foi assim que o trabalho se desenvolveu”, retorquiu o antigo administrador. “Também íamos para os bairros sociais à noite”, acrescentou, garantindo que o aumento do passivo da Gebalis nesta altura ficou a dever-se a obras efectuadas nos bairros sociais e não a almoçaradas e jantaradas.

O facto de o valor de muitas destas refeições ultrapassar rendas mensais das casas dos bairros sociais impressionou os juízes mas não os arguidos. “Tínhamos um projecto para captar investimento para os bairros”, explicou. E os bons negócios em Portugal é sabido que se fazem à mesa.

A perplexidade de Alexandra Veiga perante a compra de O Grande Livro do Bebé não desarmou Francisco Ribeiro: a Gebalis ia criar creches, daí a necessidade de comprar este tipo de obra. Quando a juíza quis saber qual o seu conteúdo, o arguido respondeu: “Não sei, nunca a li.”
 
 
 

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