Pais de crianças em vigília contra a Junta de Freguesia de Benfica

Autarquia quer retirar à associação de pais de uma escola básica a gestão das actividades de tempos livres que ela assegura há 20 anos

Meia centena de pais da escola básica Jorge Barradas, em Benfica, Lisboa, realizaram nesta sexta-feira uma vigília em protesto contra a transferência da gestão da chamada Componente de Apoio à Família (actividades desenvolvidas nos tempos livres das crianças) para a junta de freguesia local.

De acordo com os encarregados de educação, que se concentraram junto ao portão da escola ao final da tarde, a passagem da gestão da Componente de Apoio à Família (CAF) para a Junta de Freguesia de Benfica vai implicar o despedimento de sete monitoras e a “perda de qualidade” do serviço prestado.

A CAF daquela escola, com cerca de 300 alunos, foi criada há 20 anos e tem sido gerida desde então pela associação de pais, através de um protocolo celebrado anualmente com a Câmara de Lisboa.

Em declarações à agência Lusa, Felisberto Pereira, da associação de pais, lamentou que a Junta de Freguesia de Benfica tenha decidido assumir a gestão da CAF de forma unilateral. “Estamos perante uma atitude do posso quero e mando. Estamos a falar de um serviço que sempre funcionou de forma exemplar e sem queixas. Esta decisão vai colocar pessoas no desemprego ou numa situação precária e pôr em causa a qualidade do serviço”, apontou.

Outros pais ouvidos pela Lusa também manifestaram a sua preocupação com a mudança de gestão da CAF, considerando tratar-se de uma decisão incompreensível. “Se as coisas estão bem, porquê mudar, ainda por cima sem ouvir os pais. Ainda por cima nesta altura de crise está a atirar-se sete pessoas para uma situação precária”, observou Sandra Taborda.

O futuro das sete funcionárias da associação de pais ao serviço da CAF, seis das quais efectivas, é um dos motivos que leva os encarregados de educação a contestarem a transferência da gestão dos tempos livres para a junta, porque temem que as trabalhadoras fiquem no desemprego.

"Temos uma grande preocupação por aquelas senhoras que cuidam dos nossos filhos. Merecem-nos o maior respeito e enfrentam uma situação de absoluta insegurança laboral", disse Felisberto Pereira. Segundo o representante dos pais, a proposta da junta de freguesia é de contratá-las a recibos verdes com um salário mensal de 650 euros brutos. "Algumas vão perder substancialmente se aceitarem estas condições", lamentou.

Outras das preocupações dos pais é a eventual perda de qualidade da CAF. A associação garante  um serviço de "qualidade superior", afirmam,  com "diversas actividades diferentes e apelativas" e um acompanhamento "carinhoso e atencioso" por parte das monitoras. "Não vão só nivelar preços como qualidade de oferta, por baixo", frisou um dos pais.

Para atenuar estas preocupações, a presidente da junta, Inês Drummont (PS) afirma que a autarquia também oferece diversas actividades e garante que, há dois anos, as suas CAF foram consideradas as segundas melhores de Lisboa.
 

No domingo, Inês Drummont  justificou a decisão da autarquia com o facto de esta já gerir as CAF da maioria das escolas de Benfica, faltando apenas a JI n.º1 e a Jorge Barradas. A autarca afirmou que, ao assumir a gestão das CAF daquelas duas escolas, a junta pretende ter “programas pedagógicos idênticos, com os mesmos valores e preços”, em todos os estabelecimentos da freguesia.


Contudo, Felisberto Pereira negou que haja uma “grande diferença de preços”, afirmando que a discrepância máxima entre os valores praticados pela associação de pais e os da junta é de oito euros/mês. O representante dos pais disse ainda que a associação já se mostrou disponível para “acompanhar o valor apresentado pela junta”, mas que “não foi aceite”.

Os pais da Jorge Barradas vão levar a cabo na terça-feira uma nova vigília, desta vez em frente à junta de freguesia de Benfica.

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