Os tesouros enterrados no Teatro do Funchal e o arquitecto que os salvou

Foram encontradas sobretudo pinturas

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Um arquitecto madeirense tem efectuado uma 'caça ao tesouro' na teia e nas caves do Teatro do Funchal, onde encontrou peças "perdidas" e acredita que debaixo da lama ressequida do grande temporal de 2010 "ainda existe muita coisa".

"Estou aqui há cerca de um ano e o que encontrei fundamentalmente foram pinturas, há uns móveis utilizados em peças que foram representadas aqui [Teatro Municipal Baltasar Dias], esculturas, nomeadamente uma muito engraçada que é o gesso original do Jaime Moniz [estátua] que está em frente à escola ", disse José Borges Pereira à agência Lusa.

O arquitecto referiu que até o momento encontrou "cerca 79 ou 80 pinturas, umas estão num estado lastimoso, telas rasgadas que vão começar a ser recuperadas".

Segundo Borges Pereira, os objectos "não estavam propriamente perdidos, as pessoas sabiam que existiam, mas quando foi o 20 de Fevereiro de 2010 foi uma desgraça, perdeu-se e extraviou-se imensa coisa (...) e o que não ficou destruído ficou em muito mau estado, foi arrumado à espera de uma oportunidade, mas ninguém fez isso".

O arquitecto, que assume ser um "homem que gosta de andar no meio lixo, de velharias", foi trabalhar para o edifício do teatro e começou a "encontrar essas coisas".

"Tive pena de estarem abandonadas", declarou, mencionando que entre os seus achados está "uma pintura muito bonita, um retrato do rei D. Carlos", que vai ser restaurada.

Nas paredes do seu gabinete já pendurou alguns dos objectos que encontrou, exibindo desenhos de Carlos Luz, molduras com aguarelas de peças que foram representadas no teatro, enquanto outras, como um documento que relacionado com a primeira travessia aérea transatlântica, aguarda o quadro apropriado.
Nos corredores foram colocados outros quadros, entre os quais o que mostra o original dos regulamentos do teatro, do século XIX, assinados pela rainha de D. Maria Pia.

Na teia do teatro, um espaço que classifica de "magnífico", embora de difícil acesso, estão, entre outros objectos, o painel das antigas armas da cidade, que foram retiradas após o 25 de Abril, fotos de antigos presidentes do município do Funchal, artigos usados em peças de outros tempos e um amontoado de cenários.

"Nesses ainda nem toquei, vou ver em que estado estão, mas deve haver coisas engraçadas", estimou.
Borges Pereira disse "ter a certeza" que também no labirinto debaixo do palco teatro, que ficou atulhado em lama no 20 de Fevereiro, hoje ressequida, "existe muita coisa", sendo necessário um trabalho feito por um profissional ligado à arqueologia.

E nas caves do teatro mostrou outros objectos, como peças de mobília, o busto de Carmona que foi retirado da cidade depois do 25 de Abril, livros e o gesso original utilizado para criar a estátua de Jaime Moniz, que está junto a uma das mais antigas escolas da cidade.

Borges Pereira considerou que "estas peças deviam estar expostas ao público, nas salas, nos corredores [de edifícios públicos]", destacando o interesse do município em exibi-las nas visitas guiadas ao teatro, "porque no fundo é o historial desta casa e da cidade" que ali está.

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