Ondas varrem vários carros e ferem quatro pessoas na Foz do Porto

Golpe de mar aconteceu pouco depois das 16h, entre a esplanada do Castelo e a Rua de D. Carlos I, junto ao Castelo de S. João da Foz. Mar também está a causar problemas na Costa da Caparica, onde uma idosa foi retirada de uma habitação que se encontrava cercada por água.

Ondas varrem vários carros e ferem três pessoas na Foz do Porto

Duas ondas gigantes varreram automóveis e feriram quatro pessoas, sem gravidade, na Foz do Douro, no Porto, disse ao PÚBLICO fonte da Polícia Marítima. Os feridos, segundo o responsável pela Protecção Civil, vereador Sampaio Pimental, sofreram escoriações ou entraram em hipotermia.

O acidente ocorreu entre o molhe-norte do Douro e o Passeio Alegre, entre a Esplanada do Castelo e a Rua de D. Carlos I, pouco depois das 16h.

No local, aonde acorreram meios do INEM, da PSP e da Polícia Marítima, o

comandante Raul Risso, oficial adjunto da Capitania do Douro, declarou ao PÚBLICO que os três feridos são pessoas derrubadas pelas ondas e não inspiram cuidados. Uma delas terá entrado em hipotermia e duas foram arrastadas por alguns metros, em terra.

O mar continua a galgar os muros da marginal e a chegar à mesma zona, ainda que com menos força. No entanto, segundo Raul Risso, a preia-mar está prevista para as 19h-19h30 e "é provável que voltem a ocorrer ondas semelhantes" às que atiraram os carros uns contra os outros, deixando alguns bastante danificados. Dada a situação de alerta vermelho, já se contava com a ocorrência de fenómenos deste tipo, acrescentou o responsável.

As autoridades decidiram, por isso, alargar o perímetro de segurança no local, obrigando as pessoas a afastarem-se do mar, já que os avisos entretanto emitidos não terão sido levados a sério. Nos vizinhos infantário e centro de dia do Centro Social da Foz do Douro, os idosos foram retirados por precaução para a 15.ª Esquadra da PSP do Porto e os pais foram chamados para ir buscar as crianças.

Restaurante Shis atingido
O conhecido Restaurante Shis, na praia do Ourigo, também foi violentamente fustigado pelas ondas. O pessoal do restaurante trouxe mesas, pratos e copos para a estrada, a uma cota superior, mas receia-se que a preia-mar provoque ainda mais prejuízos no estabelecimento.

Mais a norte, a marginal da urbana da Póvoa de Varzim foi encerrada ao trânsito às 16h, depois de o mar galgar a linha de costa e causar danos em, pelo menos, três estabelecimentos comerciais da Avenida dos Banhos.

Bombeiros, PSP, Polícia Municipal e Autoridade Marítima, além de elementos da Protecção Civil, acorreram ao local, para prestar apoio e redireccionar o trânsito. Segundo confirmou à Lusa Patrícia Castro, do departamento de Protecção Civil da Câmara da Póvoa de Varzim, não há, de momento, feridos a registar. "Não temos registo de feridos, nem de incidentes com gravidade. Desde manhã que colocámos gradeamento nos locais de estacionamento para evitar a presença de carros no local. Cortámos a via porque existe muita areia e muitos detritos na estrada e as vagas podem novamente galgar a marginal", afirmou.

A responsável contabilizou "pelo menos três lojas que sofreram danos com a entrada de água e um bar da praia que também ficou danificado e com muita areia dentro". Patrícia Castro lembrou que as vagas na Póvoa de Varzim chegaram a atingir os sete e nove metros, "algo que é muito raro na cidade".

No concelho de Matosinhos, o trânsito na zona marginal de Perafita foi cortado perto das 18h, uma vez que a água do mar chegou à estrada. Fonte da câmara disse à Lusa que acorreram ao local meios da Protecção Civil, Polícia Marítima e Polícia Municipal de Matosinhos. Foram ainda retiradas três famílias de casa, na praia do Marreco, explicando a mesma fonte que esta medida foi tomada apenas por precaução.

A zona onde o trânsito foi cortado, em Perafita, alguns minutos antes das 18h, está compreendida entre a rotunda localizada no final da Avenida da Liberdade e a praia da Agudela.

Imprudência podia ter acabado mal
A forte agitação marítima também está a causar problemas um pouco por todo o litoral. Os Bombeiros Voluntários de Ovar tiveram que encaminhar para o hospital da Feira um homem que, por "andar a ver o panorama" da agitação marítima na praia do Furadouro, foi derrubado por uma onda e sofreu ferimentos ligeiros.

Segundo revelou à Lusa o comandante da cooperação, Carlos Borges, em causa está um homem de 43 anos com "ferimentos simples como arranhões e pisaduras por causa do embate contra uma pedra", que se verificou por volta das 18h30. "Não foi nada de grave, mas só por sorte", garante esse responsável. " As pessoas andam ali na marginal a ver o panorama e não percebem que, além do risco que correm, ainda nos dificultam mais a vida a nós", realça o bombeiro.

Carlos Borges critica a postura típica desses observadores "sem nada melhor para fazerem", porque o seu comportamento representa, em primeiro lugar, uma proximidade perigosa ao mar, na medida em que "as ondas são imprevisíveis e a qualquer altura, sem ninguém estar a contar, deitam um homem ao chão como se nada fosse". O comandante avisa que, por esses riscos físicos, a permanência de populares na marginal representa ainda trabalho acrescido para os bombeiros, "que já andam cheios de trabalho a bombear água, a tratar de inundações e a acudir às pessoas que têm água em casa", pelo que dispensavam "mais esta preocupação com situações médicas que se podiam perfeitamente evitar".

Para o adjunto do comando José Paulo Marques, há ainda duas outras agravantes: que esta negligência se verifique por parte de adultos que "já tinham idade para ter juízo" e que a situação se verifique nas zonas em que a circulação de pessoas já está interdita. "Andámos nós a criar ali uma zona de interdição para depois ninguém lhe ligar nenhuma", desabafa o bombeiro. "Agora há um que leva um susto, mas daqui a uns dias já ninguém se lembra, voltam a fazer o mesmo e depois, se um dia destes o mar os levar, já não vão a tempo de aprender", conclui.

Outro sinal de que ainda há quem negligencia o perigo representado pelo mar por estes dias está o facto de as autoridades marítimas terem socorreram nesta segunda-feira 12 jovens na praia de Quarteira, que se fizeram ao mar apesar da forte ondulação sentida no Algarve, disse o chefe do departamento marítimo do sul. "Apesar de as condições marítimas no Algarve não serem tão más como na costa oeste, as pessoas devem medir o risco e afastar-se da água. Ainda esta tarde foram retirados 12 adolescentes do mar, em Quarteira, que foram tomar banho apesar da forte ondulação, e um deles quase ficava lá", advertiu.

A forte ondulação marítima que se faz sentir no Algarve provocou também estragos num bar e fez soltar-se um apoio do molhe norte da entrada da marina de Portimão, disse à Lusa o capitão do porto. O comandante Santos Pereira disse à Lusa que "a ondulação de cinco a seis metros" fez com que o apoio do molhe norte da marina se partisse e agora as autoridades marítimas estão a tentar fixá-lo novamente, porque as "previsões meteorológicas apontam para a continuação" da ondulação de cinco a seis metros nas próximas horas.

Além do molhe, o mar provocou também estragos num bar da marina, acrescentou, precisando que as barras de Portimão e Lagos estão já fechadas à navegação. "Apesar de o capitão do porto ter fechado a barra, houve uma embarcação que tentou sair para o mar", disse, por seu turno, o comandante Malaquias Domingues, chefe do departamento marítimo do sul, acrescentando que este tipo de comportamentos, assim como o dos jovens em Quarteira, "todos não portugueses", comportam riscos para os quais as "pessoas parecem não estar consciencializadas".

O chefe do departamento marítimo do sul lançou "um apelo especial para que haja cuidado em todas as actividades junto ao mar", porque a ondulação pode fazer o mar chegar a zonas onde habitualmente não chega.
No sota-vento, as barras continuam abertas à navegação, tendo-se apenas registado uma ocorrência ma marginal de Quarteira, onde "uma vaga de ondulação mais forte chegou a um café situado na praça do Mar, mas sem provocar estragos", disse o comandante Malaquias Domingues.

Onda arrasta quatro carros na Foz do Arelho
Também na Avenida do Mar da Foz do Arelho, concelho das Caldas da Rainha, uma onda de grandes dimensões arrastou quatro carros. Os bares na zona foram encerrados e o trânsito cortado, informaram os bombeiros.

A onda "galgou a marginal e arrastou quatro carros que chocaram uns contra os outros, mas que sofreram apenas danos materiais não havendo feridos a registar", disse à Lusa o comandante dos bombeiros das Caldas da Rainha, José António Silva. Os carros que se encontravam na Avenida do Mar, na praia da Foz do Arelho, "ficaram a trabalhar e foram retirados pelos proprietários", depois de "a onda espraiar pela estrada antes de chegar aos bares", explicou o mesmo responsável.

Após o incidente, ocorrido pouco depois das 19h, os bares foram encerrados e o trânsito cortado na avenida, situação que o comandante dos bombeiros estima que se mantenha "até à maré alta prevista para às 7h" de terça-feira.

Em Peniche, várias embarcações ficaram danificadas na marina de recreio, assim como a estrutura de acesso terrestre e vários passadiços, devido ao estado agitado do mar, informou o comandante da capitania local. Pedro Vinhas Silva declarou à Lusa que o mau estado do mar provocou estragos em, pelo menos, oito embarcações de recreio e deixou interditado o acesso terrestre à marina, cuja estrutura foi destruída.

Uma embarcação esteve também à deriva dentro do porto de pesca, mas foi entretanto amarrada. O mar invadiu ainda o estacionamento junto à marina, sem contudo ter feito estragos, uma vez que já estava encerrado a viaturas desde há vários dias.

A barra do Porto de Pesca está fechada à entrada e saída de embarcações. Também devido ao estado do mar, um praticante de kitesurf foi resgatado hoje na praia do Baleal por meios dos bombeiros e da Polícia Marítima, sem ter sofrido quaisquer ferimentos ou necessitado de assistência hospitalar.

Na Praia Grande, concelho de Sintra, a avenida marginal foi cortada ao trânsito esta tarde, depois de o mar ter invadido esta artéria, tornando-a “intransitável”. Segundo a assessoria de imprensa da câmara municipal, a situação é semelhante na vizinha Praia das Maçãs, onde o mar também já chegou à estrada, devido à forte ondulação que se faz sentir.

No concelho de Almada, segundo confirmou ao PÚBLICO um empregado de um café na praia do CDS, na Costa da Caparica, a forte ondulação levou as autoridades a decretar, a meio da tarde, o fecho de todos os estabelecimentos comerciais junto ao mar. “Fecharam todos os bares e não deixam ninguém ir ao pontão por causa das altas ondas, que passaram por cima dos pontões e entraram no estacionamento.”

Em comunicado, a Marinha informou que, “devido às condições meteorológicas adversas, a Capitania do Porto de Lisboa interditou a circulação de pessoas no paredão da frente urbana da Costa da Caparica, desde São João da Caparica até à Nova Praia”.

O vereador da Protecção Civil da Câmara de Almada disse ao PÚBLICO que uma idosa que se encontrava numa habitação junto à praia da Saúde teve de ser retirada do local, porque este se encontrava cercado por água. Já na praia de São João, acrescentou Rui Jorge Martins, "os bares estão a ficar descalços em termos de areia".

Toda a costa de Portugal continental está sob alerta vermelho – o mais grave da escala do Instituto Português e da Atmosfera (IPMA) – devido à agitação marítima. Do distrito de Lisboa para cima, estão previstas ondas até nove metros de "altura significativa" até à meia-noite desta segunda-feira. No resto da costa, terão até oito metros.

Nos dias seguintes, mantém-se a agitação marítima, com alerta laranja para terça-feira e amarelo para quarta-feira.

A “altura significativa” indicada pelo IPMA refere-se à média das ondas mais altas. Por isso, na prática, muitas podem superar os nove metros.

A Autoridade Nacional de Protecção Civil emitiu na tarde desta segunda-feira novo aviso à população para precipitação, vento forte, neve e agitação marítima, nomeadamente para a ondulação de noroeste, que poderá atingir os 16 metros na costa da região do Norte e Centro e de 14 a 15 metros na região Sul, até às 24h desta segunda-feira. O aviso alerta também para a ocorrência de "chuva moderada, mas persistente".
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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