Obras na Madeira põem a descoberto silo de cereais do século XV

A descoberta foi feita na Ribeira Brava, junto à ribeira da Serra de Água.

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O achado foi feito durante as obras de recuperação das infra-estruturas afectadas pelo temporal de 2010 Enric Vives-Rubio

As obras de recuperação das infra-estruturas afectadas pelo temporal de Fevereiro de 2010 que estão a ser executadas na Ribeira Brava, na Madeira, revelaram aquilo que se supõe ser um silo para cereais, datado do século XV.

As obras em curso na canalização do leito da ribeira colocaram a descoberto uma enorme pedra que, segundo os técnicos, seria “um silo, mais conhecido por matamorra, que servia para guardar cereais”. Filipe Bettencourt, historiador da Direcção Regional dos Assuntos Culturais (DRAC) da Madeira, sublinhou que “lapas [pedras escavadas na rocha para guardar produtos] há muitas, mas um silo deste tipo é novidade”.

Daniel Sousa, arqueólogo da DRAC explicou que no trabalho de levantamento da estrutura foram “encontrados grãos”, que não sabe precisar se são de trigo. Segundo este técnico, a “última camada de terreno pode indicar uma datação do início do povoamento da ilha, do século XV”.

Os especialistas admitem que, inicialmente, o silo fosse usado para guardar cereais, tendo sido depois abandonado “devido, eventualmente, a estar no leito da ribeira”, sendo posteriormente aproveitado para guardar “instrumentos agrícolas”.

O arqueólogo explicou que, quando se depararam com aquele achado, foi determinada a paragem das máquinas envolvidas nos trabalhos em curso no local.

“Demos conta de que existiria toda a estrutura que está escavada na rocha, com sulcos a negativo, que vemos que são marcas de aluvião aquando da construção desta estrutura”, explicou Daniel Sousa.

A análise por carbono 14, que permitirá datar com maior exactidão o achado, deverá ser feita mais tarde a “um fragmento de um osso”, entretanto encontrado. Neste momento, a DRAC está a proceder ao levantamento topográfico e fotográfico para elaborar um modelo a três dimensões.

Daniel Figueiroa, director regional de Infra-Estruturas e Equipamentos, referiu que a obra de canalização da ribeira da Serra de Água esteve desde cedo condicionada por causa do achado.

“Os arqueólogos estão há muito tempo a trabalhar e a investigar essa pedra e a obra tem-se desenrolado à volta dessa pedra. Os muros estão a ser feitos a montante e a jusante da pedra”, explicou.

O director regional adiantou que a pedra está no leito da ribeira, não podendo lá continuar. “Normalmente, nestas situações, a DRAC faz o levantamento fotográfico e topográfico do que encontrou e nós vamos ter de remover a pedra”, disse.

Daniel Figueiroa assegurou ainda que a obra não sofreu nenhum atraso por causa deste achado. “Os trabalhos estão a correr a bom ritmo e, aliás, até estão um pouco adiantados em relação ao prazo, apesar daquela zona estar condicionada”, concluiu.

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