Obra da REN em Fafe revela um dos monumentos funerários mais antigos do Norte

Câmara quer criar um pequeno parque arqueológico para proteger e aproveitar o potencial turístico das mamoas. Algumas foram já destruídas por plantações ou construções.

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Por se encontrar dentro do perímetro da subestação, a mamoa 2 da Regedoura não pôde ser preservada DR

Durante a construção da subestação da REN em Fafe, no distrito de Braga, foram descobertos dois monumentos funerários megalíticos, designados mamoas, pequenos montículos revestidos por uma couraça de terra e pedras, cuja forma lembra um seio feminino. Uma dessas mamoas terá sido construída há mais de 4000 anos, sendo a mais antiga identificada e datada na zona Norte do país.

O concelho é rico em vestígios arqueológicos – entre os quais está o Castro de Santo Ovídio, um dos mais afamados. Só no Monte de S. Jorge, onde foi construída a subestação da REN (a funcionar desde 30 de Dezembro de 2014), na fronteira entre as freguesias de Armil e Cepães, existem pelo menos mais 12 mamoas, que compõem a Necrópole Megalítica de S. Jorge, mas há muitas outras espalhadas pelo território, identificadas na carta arqueológica.

No entanto, “são poucos os monumentos completamente escavados e estudados”, diz Gabriel Pereira, um dos arqueólogos da equipa multidisciplinar que acompanhou os trabalhos da REN.

Uma das mamoas agora encontradas, a mamoa 2 da Regedoura, fica dentro do perímetro da subestação e por isso não foi preservada. “Foi feita a escavação completa para registo e memória futura, acompanhada pela Direcção-Geral do Património Cultural”, afirma Francisco Parada, director do Departamento de Qualidade e Segurança da REN. Os dados recolhidos darão origem a um relatório, que será entregue à tutela e à autarquia.

O estudo deste monumento permitiu situar a data de construção entre 2468 antes de Cristo (a.C.) e 2332 a.C., no início da Idade do Bronze, o que faz dele um dos mais antigos da zona Norte. “Devido à plantação de eucaliptos, o interior da câmara funerária estava mal conservado”, explica Gabriel Pereira. Mesmo assim, foi possível perceber alguns pormenores sobre a construção: após uma queimada para limpeza do local, foi desmontada a fraga rochosa, da qual resultaram pedras utilizadas na construção do montículo.

Pelas dimensões reduzidas da mamoa 2 (cerca de sete metros de diâmetro e cerca de 60 centímetros de altura), que a tornam quase imperceptível na paisagem, os arqueólogos concluem que terá albergado apenas um ou dois indivíduos. Seria um monumento fechado, de planta circular, com uma câmara de tipo cistóide (com pedras ou alto ou na horizontal, em forma rectangular) ou poligonal (com mais do que seis pedras, maiores). Os investigadores acreditam que a mamoa terá sido saqueada na época romana.

No local foram encontrados ainda alguns objectos de cerâmica, um braçal de arqueiro, um amolador e o fragmento de uma ponta de seta em cobre, materiais habitualmente depositados nas sepulturas.

Já no exterior do perímetro da subestação foi encontrada outra mamoa, maior, com cerca de dez metros de diâmetro, supostamente colectiva. Segundo o Gabriel Pereira, a zona envolvente foi limpa e foi feito um registo gráfico do estado actual do monumento. O objectivo é preservá-lo, para que possa ser visitado e, eventualmente, escavado no futuro.

“Vamos colocar uma placa identificativa para que as pessoas possam perceber o que ali está”, diz Francisco Parada, da REN. A Câmara de Fafe quer “ir um pouco mais além”, segundo o vereador da Cultura, Pompeu Martins. “Gostávamos de ter ali um parque arqueológico, visitável”, explica. A autarquia está actualmente a rever o Plano Director Municipal (PDM) de forma a garantir a protecção das mamoas e da zona envolvente.

Nos últimos anos, a pressão urbanística e a reflorestação – sobretudo de vinhas e eucaliptos – levaram à destruição de alguns monumentos do concelho. O executivo liderado pelo socialista Raul Cunha quer travar esse processo promovendo o conhecimento da população sobre o património arqueológico do concelho. “A nossa intenção é fazer uma série de sessões de esclarecimento nas freguesias”, diz Pompeu Martins, sublinhando que “só se protege o que se conhece”.

Este ano a câmara vai dedicar especial atenção ao Castro de Santo Ovídeo, classificado como imóvel de interesse público, situado no monte homónimo. “Vamos cuidar das ruínas, que já estão a descoberto, para evitar derrocadas, e fazer uma prospecção no monte para percebermos o que pode ser feito em termos de planeamento”, afirma o vereador. O povoado fortificado foi construído na Idade do Ferro e depois reaproveitado pelos romanos. No século XIX foi ali encontrada uma estátua de guerreiro, que se encontra exposta no Museu da Sociedade Martins Sarmento, em Guimarães.

Além disso, a autarquia está a formalizar o pedido de integração na Rota do Românico, que engloba 12 concelhos dos vales do Sousa, Tâmega e Douro. O argumento principal é a Igreja de São Romão de Arões, um templo rural do século XII de arquitectura românica e cunho gótico, o único monumento nacional do concelho.

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