O Gerês está cada vez mais na moda e isso pode ser um problema

Quem visita o Parque Nacional nesta altura do ano tem-se deparado com lixo acumulado e caos no estacionamento. Só no parque de campismo, há um aumento de 20% dos visitantes face ao ano passado.

Foto
A pressão turística pode ser um problema na defesa dos valores naturais Adriano Miranda

A procura turística do Parque Nacional da Peneda-Gerês (PNPG) está em alta, com um número crescente de visitantes a procurarem a área protegida, sobretudo na zona do concelho de Terras de Bouro. As unidades hoteleiras estão cheias e a ocupação do principal parque de campismo cresceu 20%. No entanto, o maior número de visitantes tem provocado uma pressão maior sobre o território, multiplicando-se as queixas de estacionamento abusivo e de lixo acumulado. A autarquia e as associações locais reforçaram a sensibilização, mas isso parece não ser suficiente.

Nem os municípios da área do parque, nem a direcção do PNPG têm ainda números sobre a afluência de turistas à zona protegida durante este Verão, mas o parque de campismo do Vidoeiro, na vila de Caldas do Gerês, mesmo no coração de zona de maior procura turística, está a registar um aumento da taxa de ocupação na ordem dos 20% face ao ano passado. Os hotéis Universal e das Termas do Gerês, também na vila, tiveram, em Julho, taxas de ocupação de 100% na maior parte dos dias.

A percepção do crescimento da procura turística é confirmada pela administradora da associação de desenvolvimento rural Adere, Sónia Almeida. “Isso nota-se no dia-a-dia. Temos muitos mais turistas que nos vêm pedir informações”, afirma. Também Jorge Coelho, da associação empresarial Gerês Viver Turismo, não tem dúvidas do “crescimento” no número de visitas ao PNPG neste ano. “Não só temos mais gente, como a época de maior procura começou mais cedo, logo a partir do início de Julho e não apenas em meados do mês, como tem sido hábito”, explica.

O crescimento da procura turística na área do PNPG tem-se verificado tanto entre os estrangeiros – que procuram a zona como destino de caminhada em montanha atraídos pela classificação como Reserva Mundial da Biosfera – como os nacionais, alavancado pela maior tendência dos portugueses em passarem férias dentro de portas nos últimos anos e por uma maior exposição mediática da zona protegida.

As áreas de maior procura são a Mata de Albergaria – zona de protecção total com acesso condicionado – e os espaços próximos de linhas de água, como a albufeira de Caniçada e as cascatas de Portela do Homem, Arado e Fecha de Barjas, popularmente conhecida como cascata Taiti. Todos estes lugares estão em território que pertence aos municípios de Terras de Bouro. E é nestas áreas que se verificam os maiores problemas.

O estacionamento automóvel é feito à margem da estrada e de forma pouco ordenada. Em alguns destes casos, como nas proximidades da cascata de Portela do Homem, os carros param mesmo dentro de zonas de protecção total. Desde o mês passado, têm-se multiplicado as denúncias deste tipo em blogs e nas redes sociais. As queixas estendem-se também à quantidade de lixo que é produzida e que, muitas vezes, é abandonado pelos visitantes do PNPG fora dos locais apropriados.

A acumulação de situações deste tipo levou a câmara de Terras de Bouro a lançar, nas últimas semanas, alertas nos locais de maior procura de turistas para a necessidade de colocar o lixo nos locais adequados e teve também que reforçar os circuitos de recolha. Também a associação empresarial Gerês Viver Turismo, em parceria com a empresa multimunicipal de tratamento de resíduos Braval, lançou, pelo segundo ano consecutivo uma campanha para sensibilizar não só os visitantes como os habitantes da zona do PNPG e os proprietários dos estabelecimentos de restauração e hotelaria para a necessidade de separação dos lixos e da sua colocação nos locais correctos.

“Há muita falta de civismo”, comenta Sónia Almeida, da Adere. A associação de desenvolvimento rural actua em toda a área do PNPG e não conhece problemas do mesmo tipo nas zonas de Ponte da Barca, Arcos de Valdevez ou Montalegre. Aquela responsável acaba, porém, por desvalorizar os impactos desta situação na zona protegida. “Não estamos perante um atentado à conservação da natureza”, avalia, lembrando que este é um problema localizado nos meses de Julho e Agosto quando há “muito mais gente no PNPG” e que os serviços da autarquia e do parque nacional vão conseguindo resolver.

Já no caso do estacionamento e da entrada de automóveis em áreas mais sensíveis do parque nacional como a Mata da Albergaria, a Adere e o município de Terras de Bouro estão a trabalhar num projecto de criação de baías de estacionamento à entrada da zona de protecção total, retirando os automóveis da zona de protecção total, ao mesmo tempo que poderão ser colocados mini-autocarros a fazer o percurso dentro da mata.

Sugerir correcção
Ler 3 comentários