O dia em que Filipe disse ao Presidente que “não está tudo tão bem assim”

Marcelo Rebelo de Sousa visitou a estrutura de apoio à população sem-abrigo de Lisboa, no Pavilhão Desportivo do Casal Vistoso.

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Marcelo Rebelo de Sousa durante a visita ao Pavilhão Desportivo do Casal Vistoso Miguel Manso
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A resposta de apoio às pessoas sem-abrigo que Marcelo Rebelo de Sousa conheceu esta quarta-feira, em Lisboa, era “impensável há 10, 15 ou 20 anos”, considerou o Presidente da República. Depois de a Câmara de Lisboa ter activado o plano de contingência de frio, Marcelo visitou ao início da noite desta quarta-feira o ginásio do Pavilhão Desportivo do Casal Vistoso, onde várias equipas técnicas e de voluntários mantêm a funcionar, dia e noite, uma estrutura de apoio àqueles que vivem na rua nestes dias em que os termómetros baixam dos 3°C. O plano foi activado esta segunda-feira e a autarquia prevê a sua permanência, pelo menos, até sábado.

Surpreendido com a eficácia e organização desta intervenção e destacando o trabalho capaz e a disponibilidade das associações envolvidas, o Presidente da República acrescentou que ainda há muito a fazer. Distribuindo abraços, sorrisos e palmadinhas nas costas, Marcelo Rebelo de Sousa foi ouvindo as várias histórias de quem queria muito falar com o Presidente. Há quem agradeça a generosidade, a simpatia de vir ali e há quem peça para que não se esqueça de quem dorme na rua. “Eu lembro-me sempre. Eu era vereador da Câmara de Lisboa e ja me lembrava”, garantiu Marcelo.

Filipe Miranda, de 36 anos, também podia ter dito “coisas boas, de bom grado” quando falou com o Presidente, “mas as pessoas têm que ouvir as coisas más também”.

“Tinha que lhe dizer que não está tudo tão bem assim como parece. Disse-lhe que isto era tudo uma hipocrisia. Que estavam cá mais voluntários, mais seguranças, mais comunicação social do que sem-abrigo”, contou. Filipe não esconde que foi a droga que o deixou na rua. Depois da morte dos pais, “onde andam as forças para sair?”. Mas é isso que quer: sair da rua e dar uma oportunidade a uma outra comunidade terapêutica (já esteve em três e noutros dois centros de acolhimento). Talvez dar também uma nova oportunidade a si próprio.

Filipe não deixa de agradecer pelas coisas boas: pelo transporte que o trouxe de Benfica, onde dorme, até ao pavilhão no Areeiro, pela comida, pelo banho e pelos agasalhos que pode levar consigo. E aos voluntários “fica muito agradecido".

Hoje a ementa é diversa: há sopa de legumes, sandes e pizza, sumo e sobremesa. Há comida, preparada para 80 pessoas, é distribuída nesta cantina improvisada pelos operacionais da Cruz de Vermelha de Lisboa. No final deste turno, estas oito pessoas que Marcelo cumprimentou hão-de tirar “umas horas para descansar” e regressar ao serviço no Casal Vistoso. O turno dos voluntários que fazem a triagem à entrada do ginásio também só há-de terminar quando já passar da meia-noite e outros os venham substituir.

Marcelo Rebelo Sousa passou, por último, na sala onde a roupa e os cobertores enchem as mesas e os cabides. A Câmara de Lisboa e as várias associações de apoio à população sem-abrigo continuam a aceitar ofertas de agasalhos.

O Presidente da República seguiu depois, numa das carrinhas que a autarquia disponibilizou, a acompanhar uma das cinco equipas que vai de rua em rua a chamar quem lá dorme para um local mais quente.

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