No Porto, dançou-se hip hop na estação de Abril

Intervenção artística levou dança e cravos de papel à estação de metro da Trindade.

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alguns artistas associaram-se à intervenção coreografada por Li Fernando Veludo/NFactos
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Os cravos foram feitos por dezenas de crianças apoiadas pela Asas de Ramalde Fernando Veludo/NFactos
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Crianças e adolescentes ensaiaram durante semanas para esta intervenção Fernando Veludo/NFactos

Dezenas de crianças da instituição Asas de Ramalde, no Porto, invadiram com cravos de Abril e ritmos de hip-hop a praça fronteira à estação de metro da Trindade, numa forma "diferente" de celebrar a revolução da qual sabem apenas o que os adulltos lhes contaram.

Ainda assim, sabiam ao que vinham. Que Abril, ensinaram-lhes, era sinónimo de liberdade, de poder estar aqui, a falar com o sr. jornalista, ou a dançar para quem passa. É quase meio-dia e, num feriado ainda imune à crise, é pouca a gente que passa, vinda da estação de metro da Trindade, no Porto. Na praça de granito, cravos de papel passam, ao som do hip-hop, das mãos de crianças e adolescentes do Asas de Ramalde para as mãos de quem os quiser aceitar. Sob aplausos.

Quis a história que nos libertássemos do Inverno da ditadura num dia de Primavera. O que talvez explique – admita-se a liberdade – que ela, a Primavera, de partida para um fim-de-semana de férias, diz a metereologia, não tenha querido defraudar o esforço das dezenas de crianças e adolescentes da instituição Particular de Solidariedade Social Asas de Ramalde. Que, durante mais de uma hora, fizeram da rua palco do seu jeito de dançar numa acção que, como explicou a educadora Daniela Couceiro, pretendia também “rasgar os muros dos bairros sociais” em que a maioria vive.

Gostam de B-boying, ou break-dance e trazem ao peito palavras que cada um escolheu, depois de conversas sobre Abril. Futuro, União, Justiça, Liberdade, pois claro, mas também Coragem, Amor. O pequeno Rui Sousa, do bairro do Viso, escolheu Life. Ele que, de asas azuis nas costas, está ansioso por falar para as câmaras – nada que um smartphone não resolva, para o fazer feliz – para poder explicar que Life "quer dizer vida, a daqueles que lutaram para que pudéssemos estar aqui”.  

“Este dia aconteceu para que nos pudéssemos expressar, também através da dança", haveria de dizer a seguir Stereo (Rita), que faz parelha com M.R. (Maria) nas aulas conduzidas pela coreógrafa Li, responsável artística por esta produção realizada em parceria com a Metro do Porto.

As três hão-de ir, a seguir, para o meio de um círculo de crianças de cravo na mão, dançar ao ritmo de The Message, gravado por Grandmaster Flash & The Furious Five. O frenesim dos seus corpos distrai da espera meia dúzia de cidadãos numa paragem de autocarro, enquando das colunas, Grandmaster Flash deixa o aviso: “Don’t push me, cause I’m close to the edge. I’m trying not to lose my head”. Versos de há três décadas, a ecoar num país também ele, diz-se, próximo do precípicio. 
 
 

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