Sargos, fanecas e lesmas do mar são os anfitriões das águas da Arrábida

No Dia Mundial do Ambiente, o PÚBLICO mergulhou em Sesimbra a convite do MARE, um centro de investigação que quer mostrar às populações e às empresas o potencial do mar.

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Nas rochas encontram-se os cabozes curiosos Ricardo Nobre/DR
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Fundo do mar está povoado de ouriços coloridos Ricardo Nobre/DR
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Casal de nudibrânquios (da espécie Felimare cantabrica) colado às rochas Ricardo Nobre/DR

Depois de um passo de gigante para cair na água, confirmámos as previsões. O mar estava liso, parecia um lago, mas a água esverdeada não deixava ver mais do que quatro metros. À tona não parecia, mas no fundo esperava-nos um festim de fauna e flora. O barco do centro Cipreia Dive, um dos sete existentes em Sesimbra, deixou-nos junto à Pedra do Leão, uma pequena “ilha” rochosa em forma de leão sentado, a poucos metros da costa. Foi lá que mergulhámos em busca dos tesouros marinhos da Arrábida.

O convite partiu do MARE – Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, um centro de investigação marinha com 450 investigadores das universidades de Lisboa, Coimbra, Açores, Évora, Nova de Lisboa e ISPA – Instituto Superior de Psicologia Aplicada. Para assinalar nesta quinta-feira o Dia Mundial do Ambiente, o centro escolheu o Parque Marinho Luiz Saldanha como palco das comemorações, abertas à população. "Queremos mostrar o nosso trabalho à sociedade e envolver as pessoas nas iniciativas", explicou Henrique Cabral, biólogo marinho e coordenador do MARE. Enquanto uns seguiram a bordo de um galeão à procura de golfinhos e peixes-lua (que acabaram por não aparecer), outros puderam mergulhar para fotografar espécies ou recolher lixo no fundo do mar.

O PÚBLICO fez o mergulho mas não encontrou lixo. A Pedra do Leão, a Este da Praia da Califórnia, é um dos mais de 20 locais assinalados para o mergulho ao longo da costa de Sesimbra, sendo um dos mais procurados. Está inserido numa zona de protecção parcial, onde a pesca é interdita junto à costa e não se pode fundear, logo são poucos os vestígios da presença humana.

Durante uma hora - o tempo possível tendo em conta que a temperatura da água, aos dez metros, era de 15 graus - passeámos por entre cardumes reluzentes de sargos e fanecas de variados tamanhos, judias, bodiões e tainhas (algumas com 20 a 30 centímetros), rascaços e salmonetes. À festa juntaram-se dois polvos, dezenas de pequenos cabozes curiosos e um choco que quase passava despercebido. Colados às rochas, nudibrânquios coloridos (também conhecidos como lesmas do mar), estrelas-do-mar de braços estendidos, centenas de pepinos-do-mar, ouriços de cor viva e anémonas fluorescentes. Aqui e ali, rompiam do chão gorgónias, uma espécie de coral colorido em forma de leque.

Desde a criação do Parque em 1998, e do plano de ordenamento que desde 2005 regula as actividades permitidas naquela zona da Rede Natura 2000, houve um “grande aumento da biomassa e da biodiversidade”, sobretudo nas áreas de protecção integral, mais restritiva, nota Henrique Cabral. Este especialista, que coordenou a avaliação do impacto das restrições na pesca comercial, recorda um período inicial de “conflitos” entre o Parque e as comunidades locais, sobretudo a piscatória, mas sublinha que os resultados, apesar de demorados, estão hoje à vista.

A escolha do Parque Marinho Luiz Saldanha para comemorar o Dia Mundial do Ambiente não foi ao acaso. “Quando falamos de ambiente raramente pensamos no mar”, lamenta Henrique Cabral, lembrando que os oceanos representam 71% da superfície da Terra e têm “um efeito brutal” no clima. E o Parque é “particularmente importante a nível nacional no que toca à conservação dos oceanos”, sublinha.

Para o biólogo, é visível o impacto positivo do Parque na economia local, nomeadamente no crescimento de actividades como o mergulho e os passeios para observação de aves e cetáceos. E o exemplo da Arrábida pode replicar-se noutros locais: o secretário de Estado do Ordenamento do Território e Conservação da Natureza, Miguel Castro Neto, anunciou que vai ser criado um grupo de trabalho para fazer um levantamento das áreas marinhas que podem contribuir para a chamada “economia verde”.

O grupo vai articular serviços e organismos do Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia e do Ministério da Agricultura e Mar em matérias relativas à biodiversidade marinha, e terá de fazer um relatório até 15 de Setembro.

"Gostaríamos de destacar a importância das áreas marinhas e do contributo que podem ter no contexto da economia verde, acreditamos que existe um potencial que deve ser aproveitado dos nossos recursos naturais, da biodiversidade, que pode promover um desenvolvimento sustentável de base local com um papel importante para a coesão social", afirmou à Lusa Castro Neto, numa visita às Berlengas, Peniche.

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