No Jardim da Estrela, a meditação faz-se em grupo e sem esoterismos

O Jardim da Estrela recebeu o primeiro encontro de meditação. Meditation in the park quer desmistificar o conceito associado à prática e volta no dia 22 de Agosto.

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O grupo juntou-se perto da estátua de Antero de Quental. DR

O ponto de encontro era no coreto verde do Jardim da Estrela, em Lisboa. À hora marcada,19h, lá estava Rita Fernandes. “Os meus amigos não estão em Lisboa e achei que era um bom evento para o fim de tarde”, diz a lisboeta. Olha de relance para as pessoas que vão chegando e comenta que já cometeu um erro, veio de calças de ganga. “Mas sinto-me bem assim”, diz. De repente, aproxima-se Geraldine Gobert, a organizadora do evento, que a alivia: "Não faz mal, vamos fazer meditação e cada pessoa pode vir como se sentir melhor”.

Este é o primeiro de um conjunto de eventos que Geraldine está a organizar. Meditation in the park começou há um ano em Gent, na Bélgica, e se na altura eram poucas as pessoas interessadas, o grupo tem vindo a crescer ao longo dos meses. A ligação de Geraldine com Portugal começou em 2009, quando escolheu Lisboa como destino de Erasmus. Gostou da cidade e decidiu fazer mestrado em Economia na Universidade Nova. Foram quatro anos a viver na capital e o vínculo manteve-se quando decidiu optar pela meditação a nível profissional.

Voltou para a Bélgica, onde tirou o curso de instrutora e coordenou pesquisas científicas sobre meditação com universidades. “Há uma base científica e os médicos começam a aceitar que é necessário integrar isto nos planos de saúde.” Por isso, decidiu voltar a Portugal e dar uma nova cara à meditação. “As pessoas pensam que a meditação é ficar sentado sem pensar em nada, mas não é possível. A mente está sempre a pensar.” Para a instrutora, há um motivo especial para a meditação ser necessária em tempos como estes: “É um período em que as pessoas precisam de silêncio. Com a tecnologia, a nossa atenção está em todo o lado.”

Foi o Facebook que ajudou Daria Rosiuk a conectar-se com o evento. Daria é ucraniana e vive perto da Estrela. Já está habituada a estas andanças. Além de fazer yoga, já participou num retiro de 10 dias no Sri Lanka. “Acho que é um bom evento para todos os dias, por isso decidi vir”, diz sobre o Meditation in the park. Entretanto, Geraldine pede para o grupo a seguir. O local escolhido é em frente à estátua de Antero de Quental.

Quer em esteiras ou páreos, o grupo com cerca de 60 pessoas vai-se acomodando. Aliás, este é mesmo o primeiro pedido de Geraldine. “Sentem-se numa posição confortável”. Para introduzir a sessão, a instrutora explica que a meditação é uma forma de ajudar a organizar os pensamentos e lidar melhor com as emoções. “Serve para treinar a mente e descobrir o que é melhor para cada um”, esclarece. Para isso, Geraldine pede que o grupo feche os olhos e se deixe levar pela sua voz.

Toca uma campainha e o exercício começa. É sobretudo uma prática de respiração e concentração, em que a instrutora pede que se imaginem sons, memórias e imagens. Depois, há que sentir os joelhos, os pés ou os olhos. No final, há introspecção. Há quem se queixe do barulho dos pássaros e do vento a bater nas árvores, o que evita a concentração total. Ao que Geraldine responde: “Este exercício demonstra que é impossível não pensar. Todos pensam, não importa serem muitos ou poucos pensamentos”.

De seguida, passam para um "exercício de compaixão". De olhos fechados, Geraldine pede que sintam o chão e se esforcem por pensar nas pessoas com que cada um se relaciona. Rosária Dias veio à aula de meditação com a filha. Esta é a primeira vez que Rosária faz meditação com um grupo, normalmente pratica em casa. “A meditação faz-nos ser mais saudáveis e não tem nada a ver com o transe que muita gente fala”. O stress com que andava no dia-a-dia melhorou e já pensa em vir à próxima sessão no dia 22 de Agosto, no mesmo local. 

Texto editado por Ana Fernandes

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