Museu do Brinquedo em Sintra pode fechar no final do ano

Nova Lei-Quadro das Fundações impede autarquia de continuar a subsidiar e a ceder gratuitamente o espaço para o museu.

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Colecção tem mais de 60 mil brinquedos, quase todos do coleccionador João Arbués Moreira DR

O próximo Dia Mundial da Criança, que se comemora no sábado, poderá ser o último para o Museu do Brinquedo, em Sintra. Devido à nova lei das fundações, a câmara terá de deixar de subsidiar o museu no final do ano. Encerrar ou mudar para outras instalações a custo zero são as únicas alternativas.

Os mais de 60 mil brinquedos que integram o espólio do museu, quase todos da colecção pessoal de João Arbués Moreira, estão expostos há 16 anos no antigo quartel dos bombeiros da vila de Sintra, recuperado pelo arquitecto Aires Mateus expressamente para o efeito. A câmara cedia o espaço gratuitamente e ainda apoiava a Fundação Arbués Moreira, que gere o equipamento, com um subsídio mensal de cinco mil euros.

A nova Lei-Quadro das Fundações, aprovada no ano passado, impede a Câmara de Sintra de manter os apoios. Caso contrário, a autarquia perde 10% da verba que o Governo transfere para os municípios, afirma a directora do museu, Ana Arbués Pereira, em declarações à Lusa.

Por isso, a directora responsabiliza o Governo: “A legislação para as fundações foi feita de forma transversal. Nem viram, nem sabem, nem fazem ideia nenhuma, nem sequer visitaram o museu. Esta é uma fundação que vive com o apoio de cinco mil euros. Tem um património, está aberta todo o ano, desde as 10h às 18h, com actividades e visitas guiadas”.

A direcção já recebeu uma carta da autarquia anunciando a “cessação dos apoios financeiros”, na qual o município reconhece que “não tem nada para pôr” naquele espaço: “Se nós sairmos vai ficar aqui um edifício abandonado”, lamenta Ana Arbués Moreira.

Em comunicado, a Fundação sublinha que o museu, além de ser um importante pólo de atracção de turistas para o concelho, assegura sete postos de trabalho.

Visita é uma aula de história
O equipamento funciona com um orçamento mensal de 15 mil euros e tem sentido a crise, visível na diminuição do número de visitantes. De uma média de 5000 entradas por mês, passou para as 3300. “Neste momento, o museu está com graves dificuldades financeiras. Além da crise geral, até a falta de carrinhas para trazer os meninos tem tido um reflexo enorme na receita do museu”, contou à Lusa a responsável.

Ainda assim, “num local mais central do que Sintra, e com espaço gratuito, o museu é sustentável apenas com as receitas de bilheteira”, assegura a fundação. Em 2012, o número de visitantes adultos superou o de crianças e houve uma grande afluência de portugueses: 71%, contra 29% de visitantes estrangeiros. 

A visita ao museu “pode ser uma aula de história divertida”, contou a directora do museu e mulher do coleccionador, lembrando que ali se pode descobrir “como eram as casas, como as pessoas se vestiam, como eram os carros ou os soldados e aprender sobre as guerras...”. 

A colecção resulta da recolha feita ao longo de mais de 60 anos por João Arbués Moreira, que começou a juntar brinquedos oferecidos e herdados aos 14 anos e com o passar do tempo foi adquirindo outros. As peças mais antigas são dois berlindes, com mais de 2000 anos, encontrados na Síria, nas margens do rio Eufrates. Em 1987, foi criada a Fundação Arbués Moreira, à qual foi legada toda a colecção.

O próximo Dia Mundial da Criança ainda será comemorado no Museu do Brinquedo, que vai estar aberto durante todo o dia, com entradas gratuitas e presentes para todas as crianças até aos 12 anos.

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