Movimento quer transformar Lisboa numa capital “zero desperdício”

Associação Dariacordar assina nesta quarta-feira um protocolo com a Câmara de Lisboa e a Fundação Calouste Gulbenkian, para alargar o projecto "Zero Desperdício" alimentar à cidade inteira.

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Associação tem parcerias com entidades que fornecem refeições que sobram em cantinas, por exemplo, e que iriam para o lixo Adriano Miranda/ARquivo

Em dois anos, a associação Dariacordar conseguiu “salvar” do lixo mais de 900 mil refeições, em quatro municípios. Entre eles está Lisboa, mas apenas com sete freguesias. Agora, este movimento quer estender o projecto à cidade inteira e transformá-la na primeira capital do mundo “zero desperdício”.

A associação, que criou o movimento Zero Desperdício, vai assinar nesta quarta-feira um protocolo com a Câmara de Lisboa e a Fundação Calouste Gulbenkian. Neste acordo, o município compromete-se a “promover activamente” a expansão do projecto nas instituições, entidades e empresas com as quais tem parcerias nas áreas social, económica e institucional, segundo uma nota da autarquia.

A parceria vai permitir também que no próximo ano lectivo seja lançado um projecto pedagógico nas escolas de 1.º ciclo do concelho, com o objectivo de “consciencializar para a necessidade de prevenção do desperdício alimentar”, escreve a câmara.

A Dariacordar nasceu em Janeiro de 2011 pelas mãos de nove cidadãos. Entre eles está o piloto António Costa Pereira, que lançou em Julho de 2010 uma petição online contra a Lei de Saúde Pública, a qual proibia a doação e redistribuição de refeições por questões sanitárias. A petição foi assinada por mais de 74 mil assinaturas e conseguiu chamar a atenção de cidadãos e entidades públicas e privadas para o problema do desperdício alimentar. "Tornámos legal a recolha de refeições em condições" e "facto de ser legal deu mais conforto a quem quer doar refeições", disse à Lusa António Costa Pereira.

Através do movimento Zero Desperdício, a associação tem "salvo" milhares de refeições em "perfeitas condições que eram deitadas ao lixo" por restaurantes, empresas e instituições devido a uma má interpretação da lei.

Desde que foi criado o projecto-piloto em Abril de 2012, foram recuperadas quase 900 mil refeições nos concelhos de Lisboa, Loures, Cascais e Sintra. Estão envolvidas cerca de cem entidades doadoras — entre elas, a Assembleia da República, o Banco de Portugal, a Caixa Geral de Depósitos, supermercados, hotéis, hospitais, escolas, refeitórios de empresas — e 60 instituições que recebem a comida. Segundo dados divulgados pela Câmara de Lisboa, 2100 famílias são beneficiárias deste projecto, o que corresponde a 7300 pessoas. Estão envolvidos cerca de 250 voluntários.

Agora, o objectivo é estender o movimento "a mais autarquias", disse António Costa Pereira. "Em Lisboa, começámos com uma freguesia e, neste momento, já vamos em sete e a ideia é alargar este conceito a todas as freguesias da cidade", explicou.

"A nossa intenção é tornar Lisboa a primeira capital do mundo zero desperdício", através de "acções muito concretas", disse o mentor do movimento, dando como exemplo "uma campanha" dirigida às crianças. "Para mudar o mundo, tem de começar-se pelos mais novos. Se eles perceberem o que é o desperdício, daqui a uns anos isto não volta a acontecer e vão envergonhar os mais velhos se não se portarem bem", comentou.

Todas as instituições que trabalham com o movimento recebem formação na área da higiene e segurança alimentar, porque "há regras simples, mas necessárias para que as refeições cheguem em condições", disse. "Isto são verdadeiras parcerias", comentou António Costa Pereira que deu um "novo nome" PPP: "Parcerias Pelas Pessoas".

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